Os chineses desembarcaram com tudo no Brasil, impulsionados principalmente pelo câmbio favorável e pela necessidade das empresas envolvidas na Operação Lava Jato de venderem seus ativos para fazerem caixa. A verdade é uma: onde há crise, há chineses. Com dinheiro no bolso e muito apetite, os investidores asiáticos chegaram de olho principalmente em aquisições na área de infraestrutura.
O primeiro movimento já se consolidou no setor elétrico. Com o plano ambicioso de investir US$ 50 trilhões até 2050 para interligar o parque energético mundial, a estatal chinesa State Grid opera hoje no Brasil 7 mil quilômetros de linhas de transmissão e tem outros 6,6 mil em construção.
E não para por aí. Em junho a empresa anunciou a compra da fatia da Camargo Côrrea na CPFL, distribuidora paulista de energia. Agora ampliou a oferta aos demais controladores – o Previ, fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil e a Bonaire, companhia de participações formada por fundos de pensão como Funcesp, Petros, Sistel e Sabesprev. Os controladores já sinalizaram positivamente. Caso a aquisição seja confirmada, será a maior já feita na história do setor elétrico brasileiro, avaliada em mais de R$ 25 bilhões.
Já a China Three Gorges (CTG), que opera a hidrelétrica de Três Gargantas (a maior do mundo), entrou no Brasil em 2013 com a aquisição de ativos da portuguesa EDP. No ano passado, pagou R$ 14 bilhões na compra das hidrelétricas de Jupiá e Ilha Solteira, e se tornou a segunda maior geradora privada de energia do país.
Neste mês, a companhia confirmou a aquisição de todos os ativos da Duke Energy no Brasil por US$ 1,2 bilhão (cerca de R$ 3,8 bilhões). A compra inclui oito usinas hidrelétricas, com capacidade total de 2.057 megawatts (MW), localizadas na divisa do Paraná com o estado de São Paulo, além de duas pequenas centrais hidrelétricas, cada uma com capacidade de 16,5 MW, localizadas no Rio Sapucaí Mirim, no norte de São Paulo. Após a aquisição ser concluída, a chinesa se tornará líder no segmento.
Tratativas
Interessado o no tamanho do bolso chinês, o governo brasileiro tem apostado nas conversas para atrair mais investimentos. Durante o encontro com o G20, primeira viagem oficial de Michel Temer como presidente, em setembro, o Planalto apresentou aos chineses o pacote de concessões de infraestrutura (PPI). Segundo o governo, os chineses manifestaram interesse em participar das concessões em áreas como ferrovias, rodovias, portos e aeroportos.
“É uma combinação lógica. O governo brasileiro precisa de dinheiro. Existe uma lacuna para fazer parte desses novos projetos de privatizações. Os chineses têm recurso e vão entrar com o capital. E interessa muito para o Brasil esses recursos”, avalia o professor em economia chinesa do Insper, Roberto Dumas Damas.
O interesse chinês por infraestrutura é estratégico. Maior parceiro comercial do Brasil, o país asiático é o principal destino da produção agrícola brasileira. Entre janeiro e setembro deste ano, as empresas brasileiras embarcaram US$ 28,9 bilhões em mercadorias com destino à China, segundo dados do Camex.
Um dos projetos de interesse dos chineses é a gigantesca ferrovia Bioceânica, lançada pela então presidente Dilma Rousseff (PT) para ligar o Brasil ao oceano Pacífico. Desde o ano passado, a China Railway Eryuan Engineering Group está desenvolvendo um estudo de viabilidade para o trecho.
Brasil e China criam fundo de R$ 20 bilhões para infraestrutura
Com objetivo de financiar projetos prioritários de infraestrutura no país, os governos do Brasil e da China assinaram, na semana passada, um memorando de entendimento para a constituição de um fundo de investimentos com US$ 20 bilhões, sendo até US$ 15 bilhões de capital chinês e até US$ 5 bilhões brasileiro. O acordo foi fechado após a visita do presidente Michel Temer à China em setembro.
De acordo com o governo brasileiro, os setores que poderão receber recursos do fundo são logística, energia e recursos minerais, tecnologia avançada, agricultura, agroindústria e armazenagem agrícola, manufatura e serviços digitais e alguns outros segmentos.
“São projetos que serão realizados aqui no Brasil, e os US$ 20 bilhões serão aportados nos projetos, à medida que eles sejam aprovados, com fontes variadas. Poderão haver recursos do FI-FGTS, do BNDES e de captação no setor privado. Trata-se de um mecanismo de coordenação dos recursos para viabilizar os projetos”, explicou o ministro interino do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Dyogo Oliveira.
O fundo será estabelecido como uma triagem de investimentos e um mecanismo de aprovação, e não como uma entidade constituída (na forma de empresa, sociedade ou outras formas) em qualquer jurisdição. Os investimentos poderão assumir formas de equity investment, debt investment, funds, entre outros modelos.
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