A queda nas vendas e o número elevado de distratos corroeram a lucratividade e aumentaram as dívidas das construtoras e incorporadoras brasileiras de capital aberto, fazendo com que a crise do mercado imobiliário ainda pareça longe do fim. Nem mesmo as melhoras nos índices de confiança e as projeções de crescimento da economia a partir de 2017 devem mudar o panorama do setor imediatamente.
INFOGRÁFICO: Setor imobiliário
A contração do setor imobiliário machucou os balanços das grandes construtoras, que ainda precisam passar por processo de redução de estoques e melhora do fluxo de caixa antes de voltarem a investir. Um sinal desse cenário foi o pedido de recuperação judicial da Viver Incorporadora e Construtora, que tem ações negociadas na BM&FBovespa, em setembro deste ano. Segundo a empresa, a deterioração da economia, a limitação à concessão de novas linhas de créditos, o alto número de distratos e a execução de ações judiciais motivaram o pedido.
No segundo trimestre de 2016, a companhia registrou prejuízo líquido de R$ 74 milhões e volume de distratos de R$ 14,8 milhões. Quatro projetos em andamento foram postergados e nenhum lançamento foi realizado no ano.
O economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) Bruno Oliva afirma que estamos no pior momento para o setor imobiliário e dificilmente acontecerá uma recuperação em 2017 . Ele avalia que a retomada só vai acontecer após a melhora do mercado de trabalho, que, por consequência, só acontece depois da retomada dos investimentos.
Outras construtoras tiveram de encarar a renegociação de dívidas, como a PDG Realty e a Rossi Residencial. Hoje elas convivem com especulações de que também podem vir a pedir recuperação judicial, o que agravaria a crise do segmento. Das 22 empresas do setor com ações na bolsa, 13 apresentaram prejuízo no segundo trimestre de 2016 e 18 viram seu resultado líquido cair na comparação com o mesmo período de 2015.
Os distratos da PDG Realty, por exemplo, somaram R$ 268 milhões no segundo trimestre deste ano e o prejuízo líquido da companhia foi de R$ 740 milhões, com volume de estoque em valor de mercado de R$ R$2,7 bilhões. Já a Rossi acumulou prejuízo de R$ 124 milhões e tem em estoque R$ 1,4 bilhão. Ambas desmentem os boatos sobre recuperação judicial.
Os níveis de distratos e estoques preocupam a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), que reúne 35 empresas do setor. “O estoque é preocupante porque acaba sendo oneroso e o distrato causa a interrupção de um fluxo de caixa que já estava contabilizado”, explica o diretor da entidade Luiz Fernando Moura.
Mas enquanto aguardam a retomada do setor, as construtoras e incorporadoras estão segurando os lançamentos e reajustando os preços dos imóveis abaixo da inflação para tentar equilibrar o caixa. O preço médio do metro quadrado para os últimos 12 meses, por exemplo, apresentou no período queda real de 7,88%, de acordo com o Índice FipeZap.
As medidas, porém, ainda não surtiram o efeito desejado. As vendas do setor caíram 7,1% em julho e 14,5% no acumulado dos últimos 12 meses, segundo o indicador Abrainc-Fipe. Já dados do Secovi mostram que, na capital paulista, a venda de imóveis residenciais novos neste ano deve ter queda de 20% em 2016.