Entrevista
Segundo presidente mais longevo do BNDES, Luciano Coutinho afirma que banco precisa reduzir sua participação no apoio aos investimentos do país. Mas diz que "as mudanças vão ser graduais" e não descarta novos aportes do Tesouro.
Como vê o futuro do BNDES?
Temos desafios em infraestrutura, infraestrutura urbana, inovação, sustentabilidade ambiental, indústria e em determinados serviços. A questão é que o banco precisa fazer esse papel com poupança de TJLP (financiamento pela Taxa de Juros de Longo Prazo, em 5% ao ano, contra 11,25% da Taxa Selic), que é moeda escassa e onerosa no sentido de que, ao vir de suplementos do Tesouro, tem um custo financeiro. Precisamos encontrar uma maneira de gerar fontes de financiamento de longo prazo.
O senhor teme o avanço do consumo sem o avanço dos investimentos?
Não, o ciclo de endividamento familiar alcançou níveis de relativa saturação da capacidade financeira das famílias. O crescimento do Brasil necessariamente transitará por uma aceleração firme dos investimentos. Deveríamos olhar como prioridade a necessidade de expandir as exportações de manufaturados.
Dizem que empresta a empresas que poderiam captar no mercado.
O BNDES é o principal, talvez o único financiador do capital fixo (investimento) na agricultura. O Banco do Brasil e outros financiam a safra, o giro. Em relação ao setor de serviços, ele dá qualidade de vida nas cidades, geração de empregos. E é um setor em que a participação de TJLP é baixa e a parcela de financiamento com custo de mercado é muito expressiva. É falsa a ideia de que o BNDES desperdiça TJLP.
E a crítica de que o BNDES escolhe campeões nacionais?
O BNDES apoia todas as empresas, sem favoritismo. Das mil maiores do Brasil, o BNDES apoia 783. Das 500 maiores, 408 tiveram financiamento do banco. Das 100 maiores, 91 tiveram apoio do BNDES. O BNDES não discrimina.
O BNDES nunca foi tão grande e tão questionado. Seus desembolsos se aproximaram de R$ 200 bilhões no ano passado e tendem a repetir o patamar este ano: nos primeiros seis meses de 2014 o banco liberou R$ 84,1 bilhões, patamar próximo do registrado na primeira metade de 2013 (R$ 88,3 bilhões). A eficácia de suas linhas de empréstimo, o custo da diferença entre os juros praticados pelo banco e os pagos pelo Tesouro para sua captação estimativas vão de R$ 14 bilhões por ano, segundo o TCU, a R$ 30 bilhões anuais, segundo cálculos de economistas são as principais críticas.
Desde 2008, o BNDES precisou de aportes do Tesouro que somaram R$ 386 bilhões. Apesar de dívidas com o Tesouro que somam R$ 353 bilhões apenas com o total capitalizado desde 2009, o banco deve continuar recebendo recursos do Tesouro. Um estudo assinado por Ernani Teixeira Torres Filho, Luiz Macahyba e Rodrigo Zeidan indica que os fundos que normalmente alimentam o banco, como o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), representavam 67% de seus recursos em 2006, mas este percentual caiu para 27% em 2012.Os aportes do Tesouro cresceram de 8% para 53%. "O banco precisa ser mais parcimonioso em seus empréstimos subsidiados", afirma Rodrigo Zeidan, da Fundação Dom Cabral.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, avalia que o Tesouro continuará financiando o BNDES e estima que a dívida bruta chegará a 72,5% do PIB no fim do governo Dilma, contra o atual patamar de 61% do PIB. "Houve uma avalanche de recursos do banco que não repercutiram na economia. O governo vai dizer que se não fosse isso o investimento teria caído muito mais. O problema é que o grosso da crise foi em 2008/2009", disse Vale, que defende o foco do banco em inovação e tecnologia.
Pedro Cavalcanti Ferreira, professor da Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV, diz que não existem avaliações consistentes da eficácia do BNDES nos investimentos. Nos relatórios sobre a aplicação dos recursos do Tesouro, por exemplo, há apenas uma estimativa genérica de geração ou manutenção de 13 milhões de empregos desde 2009. "Uma coisa é fazer política anticíclica. Outra é continuar quando não precisa mais. O banco foi levado muito mais longe do que deveria por uma visão doutrinária de que o Estado precisa intervir."
Sérgio Lazzarini, professor de Organização e Estratégia do Insper, afirma que ao menos metade dos financiamentos às grandes empresas feitas pelo banco poderiam ter sido captados no mercado. O economista, que estima um custo anual de R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões com a diferença entre a taxa de juros cobrada e a que é paga pelo Tesouro avalia que, se os financiamentos fossem mais seletivos, o custo seria menor.
Luciano Coutinho, presidente do banco, afirma que os empréstimos com Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) são usados com parcimônia na infraestrutura. O diretor de Planejamento do banco, João Carlos Ferraz, diz que ao viabilizar investimentos para expandir a capacidade produtiva, o BNDES reduz futuras pressões inflacionárias.
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