A cautela sobre a possibilidade de o banco central dos Estados Unidos começar a reduzir seu estímulo monetário naquela economia ainda em dezembro, enxugando a entrada de recursos em outros países, como o Brasil, afetou negativamente o mercado financeiro nesta quarta-feira (11). O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou em queda de 1,81%, a 50.067 pontos, acompanhando a baixa vista nos mercados internacionais. Foram movimentados R$ 5,2 bilhões em negócios com os papéis do índice hoje, abaixo da média de R$ 7 bilhões diários em novembro.
"Esse volume mais fraco na Bolsa brasileira é uma sinalização de cautela dos investidores em relação ao que vem por aí. Além do impacto do início de um corte no estímulo dos EUA, tem várias questões internas que jogam contra a Bolsa, como o combate à inflação pelo governo através do aumento nos juros, além da deterioração das contas públicas no país", diz Romeu Vidali, analista da Concórdia Corretora.
Para Rogério Oliveira, especialista em Bolsa da corretora Icap, os investidores já não veem esperança em uma retomada do Ibovespa nesta reta final de 2013 e, por isso, estão se preparando para o próximo ano, que deve ser mais complicado para o mercado de ações.
"Isso justifica o volume menor na Bolsa brasileira hoje. O mercado já está pensando em montar estratégia para 2014. Além de ser ano eleitoral, muitas questões importantes não resolvidas em 2013 ficaram para o próximo ano, como o julgamento da correção das poupanças, o acompanhamento dos reajustes da Petrobras, o fim do ciclo de aperto monetário e o corte no estímulo dos EUA", avalia.
Estados Unidos
Nos EUA, a preocupação com o início do corte no estímulo monetário ofuscou a notícia positiva sobre um acordo no Congresso, anunciado ontem, que pretende evitar que o governo fique sem fundos em 15 de janeiro de 2014 e estabelece os níveis de gastos da administração federal até 1 de outubro de 2015. A proposta ainda precisa de suporte da minoria democrata para ser aprovada.
O foco dos investidores, no entanto, continua na reunião do Federal Reserve (banco central dos EUA), na semana que vem. A autoridade pode começar a reduzir o seu programa de estímulo naquele país, o que reduziria o volume de recursos disponíveis para aplicações em outros mercados, especialmente os emergentes, como o Brasil.
Com perspectiva de menor oferta de dólares nesses mercados, a tendência é que a cotação da moeda americana suba. Por isso, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou hoje em alta de 1,14% em relação ao real, cotado em R$ 2,336 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 1,25%, a R$ 2,338.
Desde 2009, o Fed (banco central dos EUA) recompra US$ 85 bilhões por mês em títulos públicos para injetar recursos na economia e estimular uma retomada. A autoridade, no entanto, já sinalizou que pretende encerrar o programa de estímulo em 2014, mas disse que só começará a reduzí-lo quando o mercado de trabalho americano mostrar melhora significativa.
"O grande problema é como e quando vai ser feito [o corte no estímulo americano]. A partir do momento que é definido como isso vai acontecer, o mercado financeiro se adequa. Se não há essa referência, fica aberta uma margem para o mercado especular. Essa definição, no entanto, depende de dados da economia americana, principalmente do mercado de trabalho, aumentando as incertezas", diz Fernando Bergallo, gerente de câmbio da TOV Corretora.
A alta do dólar não foi contida nem pelas intervenções do Banco Central no câmbio. A autoridade deu continuidade pela manhã ao seu programa de intervenções diárias no câmbio para aumentar a liquidez do mercado e segurar a alta da moeda americana. Além disso, o BC também realizou o terceiro leilão para rolar mais 20 mil contratos de swap (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro) com vencimento em 2 de janeiro.
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