Apesar da economia em recessão, os quatro maiores bancos do país (Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander) tiveram, juntos, lucro de R$ 61,948 bilhões em 2015, um crescimento de 27,1% em relação a 2014, segundo dados compilados pela consultoria Austin Asis. Aumento das receitas com serviços (tarifas mais caras), juros mais altos aos clientes e o controle das despesas mais do que compensaram os gastos com as provisões para futuros calotes, que cresceram com a expectativa de que a inadimplência mantenha sua trajetória ascendente — em um ano que, segundo projeções de mercado, a economia deve ter encolhido 3,8%.
Luis Miguel Santacreu, analista da Austin, lembra que os bancos colocaram o pé no freio nas concessões de novos empréstimos, mas, por outro lado, conseguiram repassar o aumento dos juros, além dos ganhos com outros tipos de serviço. Isso ajuda a explicar o fato de a carteira de crédito dessas instituições ter crescido apenas 6,2% no ano passado — abaixo das previsões —, ao passo que as receitas com essas operações tiveram incremento de 23%.
“Os bancos brasileiros têm o benefício de trabalhar em um ambiente de altas taxas de juros, com um setor já bem concentrado. Eles conseguiram ser mais restritivos e passaram a operar nas modalidades de menor risco. E ainda ganham com outros serviços e a operação de tesouraria”, explica Santacreu sobre os ganhos bilionários em um ambiente de forte desaceleração do crédito.
E os fatores que contribuíram para o resultado dos bancos no ano passado persistem em 2016. No entanto, alerta Santacreu, a capacidade de pagamento de empresas e consumidores está diminuindo, o que pode fazer com que o avanço da inadimplência pressione os resultados e os níveis de rentabilidade.
Visão similar tem Tito Labarta, analista do Deutsche Bank. Ele acredita que o ambiente macroeconômico e político é desafiador, o que pode afetar a avaliação em relação aos bancos. Ele cita como fatores de risco um crescimento do crédito abaixo das projeções e um aumento da inadimplência acima do esperado.
O maior lucro de 2015 pertence ao Itaú, com um resultado de R$ 23,36 bilhões — recorde para um banco em um só ano. Todos os demais também tiveram crescimento no resultado. O último dos grandes a divulgar o seu balanço foi o Banco do Brasil. Ontem, a instituição informou que registrou lucro líquido de R$ 14,4 bilhões no ano passado, um expressivo crescimento de 28%. Ao desconsiderar efeitos extraordinários, o resultado ajustado foi de R$ 11,594 bilhões, avanço de 2%.
Mas, apesar da alta no lucro, os balanços dos bancos no quarto trimestre já começaram a dar algum sinal de alerta. A inadimplência começou a subir, elevando as provisões para créditos duvidosos, um gasto destinado a formar um colchão para lidar com o eventual aumento dos calotes. O avanço do desemprego tende a acelerar essa deterioração. No caso do BB, o lucro do quarto trimestre foi de R$ 2,512 bilhões, um recuo de 15,1% na comparação com último trimestre de 2014.
As provisões totais do BB somavam em dezembro R$ 32,254 bilhões, um crescimento de 25%. Apesar dessa cautela, a inadimplência cresceu pouco. Os atrasos acima de 90 dias, incluindo a participação no Banco Votorantim, ficaram em 2,38%, ante 2,03% em dezembro de 2014 e 2,19% em setembro do ano passado.
“O motivo do aumento da inadimplência é o ciclo econômico que estamos enfrentando devido à queda do nível de atividade”, disse Alexandre Abreu, presidente do BB.
Ele acrescentou que esse aumento de inadimplência se deu mais no segmento de pessoa jurídica, especialmente entre as pequenas e médias empresas. Até por essa razão, o banco tem insistido na renegociação de débito com os clientes. A ideia é não excluir da sua base aqueles que possam estar passando por um momento de queda nas receitas devido à situação econômica do país.
Crédito
O atual momento difícil da economia também levou a um baixo crescimento do crédito. Considerando o conceito ampliado, que leva em conta avais, fianças e títulos na carteira do banco, o total de empréstimos chegou a R$ 739,867 bilhões, um crescimento anual de 5,9%, abaixo da projeção do BB, entre 7% e 11%.
O baixo crescimento deve se repetir este ano: as projeções para o crédito são de alta entre 3% e 6%. No caso do Itaú Unibanco, por exemplo, a carteira de crédito pode cair 0,5%, no nível mais baixo da projeção.
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