O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sancionou na tarde de ontem o projeto de lei aprovado pelo Senado no começo da tarde (e que havia passado pela Câmara dos Representantes na segunda-feira) que eleva o teto da dívida e prevê a redução do déficit do governo norte-americano. Com a urgência resolvida se não houvesse acordo, os EUA ficariam sem dinheiro para pagar suas obrigações a partir de hoje , Obama disse que a prioridade é gerar novos empregos. O presidente acrescentou que os cortes não serão abruptos, de forma a prejudicar mais a economia.
Em seu pronunciamento no Rose Garden após sancionar o acordo do teto da dívida, Barack Obama não dirigiu qualquer agradecimento ao Congresso por aprovar a legislação que ajudou os EUA a evitarem um default apenas 12 horas antes de o país teoricamente ficar sem recursos para pagar suas contas. "Foi um debate longo e contencioso", disse Obama. "Gostaria de agradecer ao povo americano por manter a pressão sobre as autoridades que elegeram para que deixassem a política de lado e trabalhassem juntas pelo bem do país", acrescentou.
Obama disse ainda que quer que o Congresso aprove acordos comerciais com Panamá, Coreia do Sul e Colômbia, e estenda os cortes de impostos para a classe média e o auxílio-desemprego para estimular a economia. "Temos de fazer tudo ao nosso alcance para fazer a economia crescer e colocar de novo a América para trabalhar", disse. "É o que eu planejo fazer e espero trabalhar com o Congresso para que isso aconteça", acrescentou.
As declarações podem ser vistas como uma tentativa de passar para um tópico que é ainda mais importante para a maioria dos norte-americanos, o dos empregos. Ele disse que pretende manter o foco nesse tema e exortou o Congresso a se preparar para um compromisso.
O plano aprovado garante "mais de US$ 2 trilhões em redução do déficit", disse Obama. "É um importante primeiro passo para assegurar que, como nação, vivamos dentro de nossos meios", acrescentou. O acordo permitirá que os EUA mantenham investimentos-chave, com coisas como educação e pesquisa, que levam a novos empregos, disse o presidente.
Obama ressaltou, porém, que a redução do deficit não vai, sozinha, puxar a recuperação econômica. Por isso, ele disse que vai cobrar do Congresso a aprovação de novas medidas que poderão gerar empregos, como obras de infraestrutura. "Para a economia crescer, não é só cortar despesas, não é assim que vamos passar desta recessão. Quando o Congresso voltar do recesso, vou cobrar deles novos passos, com foco no aumento de emprego", disse Obama.
Mesmo após acordo, bolsas voltam a cair
Nem mesmo a aprovação do plano para elevar o teto da dívida norte-americana foi suficiente para mudar o humor dos investidores no mercado de ações ontem. Os temores com o ritmo de crescimento da economia norte-americana tomaram conta dos mercados financeiros e fizeram a Bovespa fechar no menor nível em quase dois anos. Assim como na véspera, fracos indicadores divulgados no país derrubaram as bolsas ao redor do mundo.
O Ibovespa caiu 2,09%, atingindo 57.310 pontos. Nos EUA, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, desvalorizou 2,19%.
A queda da Bovespa ainda foi ajudada pela desvalorização das ações do Itaú Unibanco, após a instituição financeira reportar lucro abaixo do esperado e aumento de perdas com a inadimplência na carteira de crédito. As ações preferenciais do banco tiveram baixa de 5,74%. O Itaú anunciou ontem lucro líquido de R$ 3,603 bilhões no segundo trimestre, abaixo dos R$ 3,731 bilhões previstos por analistas.
Na Europa, cujos mercados estavam fechando enquanto o Senado americano votava o pacote, as bolsas de valores fecharam em queda, com o ressurgimento dos receios com a crise da dívida na zona do euro, em especial a Itália. O índice pan-europeu Stoxx 600 caiu 1,9%, para 256,98 pontos. Os yields dos bônus de Espanha e Itália subiram com a notícia de que autoridades italianas se reuniriam para discutir as turbulências no mercado e o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero, cancelou suas férias para acompanhar de perto a situação da economia. Na Bolsa de Londres, o índice FTSE 100 caiu 0,97%; o CAC 40, da Bolsa de Paris, perdeu 1,82%; em Frankfurt, o DAX caiu 2,26%; e, em Milão, o FTSE MIB perdeu 2,53%.