O Brasil será o fiel da balança para os investidores em 2019. Embora o cenário internacional esteja se desenhando de maneira pouco atrativa, com as tensões entre Estados Unidos e China e o aperto monetário tanto nos EUA quanto na Europa, além de crises na Argentina, Turquia e Itália, o que deixa as bolsas mais voláteis, as projeções positivas para o país dependem unicamente de seu esforço, segundo os analistas, que se resume a uma medida: a Reforma da Previdência.
As previsões, em caso de aprovação de um ajuste nas contas públicas bem-aceita pelo mercado, são positivas, especialmente para investidores de perfil moderado e agressivo, que buscam rendimentos na bolsa de valores ou em fundos atrelados a essas ações. Nesse contexto, há tendência de que o mercado externo despeje capital no Brasil, fazendo com que a bolsa cresça em grande volume, com projeções para atingir os 120 mil pontos ou mais.
O risco, por outro lado, está na relação que o governo Jair Bolsonaro terá com o Congresso – especialmente com os problemas de comunicação constantes na equipe de transição –, de quem a Reforma da Previdência é dependente, assim como outros aspectos de sua gestão. Em caso de insucesso no convencimento dos parlamentares, o cenário positivo se reverte. Em outras palavras, se o Brasil fizer o dever de casa, pode criar um ambiente muito promissor para os investidores.
“Por enquanto, o mercado financeiro está em namoro com o Bolsonaro e está esquecendo algumas coisas, como a sua agenda anticorrupção. A escolha dos ministérios está mostrando o contrário, e ele pode perder a sustentação de apoio da população. Se as reformas de fato acontecerem, o investimento estrangeiro deve retornar, e a bolsa volta a subir. As questões são: será que o Bolsonaro vai fazer as reformas? Será que vai ser, de fato, um governo liberal?”, pondera André Hayashi, coordenador dos cursos de pós-graduação e MBA Executivo em Finanças e Mercado de Capitais da FAE.
As recentes denúncias contra o filho do presidente eleito, o deputado estadual Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), senador eleito pelo estado, cujo assessor teve movimentações financeiras consideradas atípicas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), em uma investigação derivada da Lava Jato no Rio de Janeiro, também colocam um ponto de interrogação sobre o foco do governo no ajuste fiscal em seus primeiros dias de mandato.
O diretor de Investimentos do Paraná Banco, André Malucelli, por outro lado, afirma que já é possível deixar a teoria de lado. “Nós temos um governo com uma agenda nitidamente liberal e essa composição com militares vai trazer governança e seriedade. Há todo um ambiente preparado para o Brasil ir para frente. Dizer que a execução vai ser um sucesso é difícil, porque temos um caminho pela frente, mas as perspectivas são boas”, analisa. “Ainda que não tenha sido possível aprovar a reforma da previdência em 2018, o esforço que o próximo governo tem feito já repercute positivamente”, acrescenta Roberto Indech, analista-chefe da Rico e colunista da Gazeta do Povo.
Nesse contexto, o cenário interno brasileiro vai dar o tom do mercado para 2019. “A Reforma da Previdência é a prioridade número 1, 2 e 3 para o mercado. A preocupação decorre do fato de que o governo tem uma despesa excessiva com a previdência social e o número piora a cada ano com o envelhecimento da população”, explica Indech.
A gerente de Desenvolvimento de Negócios da Central Sicredi PR/SP/RJ, Adriana Zandoná França, afirma que os sinais de crescimento são dependentes do cenário interno. “Vai depender da movimentação do novo governo quanto a articular a aprovação da Reforma da Previdência. Pelo que os nossos economistas avaliam, eles veem um cenário muito positivo para o ano se isso ocorrer”, diz.
Lição número 1 para o ano que começa: qual o seu perfil de investidor?
De acordo com Adriana, um bom investimento precisa levar em conta o perfil de cada pessoa e cosniderar três fatores em especial: prazo, liquidez e risco. “Não importa apenas a rentabilidade, mas levar em conta esses três pontos para decidir qual o melhor investimento para cada pessoa. No prazo, determinamos por quanto tempo queremos deixar o dinheiro aplicado. Quanto maior o prazo, maior tende a ser o rendimento”, explica. “No caso da liquizez, é o oposto: se precisar retirá-lo em uma emergência, menor tende a ser a remuneração”, acrescenta.
Sobre o risco, a regra é bastante simples: quanto maior o risco, maior a tendência de valorização, assim como as perdas. Para Malucelli, do Paraná Banco, as pessoas precisam compreender o seu perfil, considerando diversos aspectos. “É preciso avaliar a situação profissional, familiar e a sua idade. Uma coisa é clara: a poupança nem pensar”, alegou.
Hayashi, da FAE, está mais cético em relação a quanto de risco o investidor deve correr. “Eu apostaria um pouco em bolsa, conforme o perfil de cada um. No meu caso, estou mais para conservador do que para arrojado para esse tipo de investimento”, sugere.
Bolsa de valores pode ser uma boa opção a médio e curto prazo
Mesmo com um cenário delicado – que depende da atuação dos políticos –, há uma perspectiva de aprovação da Reforma da Previdência para 2019. O mercado, por sua vez, tende a jogar suas expectativas com antecedência, o que abre uma janela de oportunidade para investimentos de médio e curto prazo.
Há um consenso de opiniões de que os investimentos de baixo risco terão menores rendimentos. Por isso, a sugestão é incluir uma parte dos valores na renda variável, como ações ou fundo de ações. “Está nítida a oportunidade deste momento de ganhar dinheiro com a bolsa de valores. Em se aprovando uma Reforma completa ou parcial, não tenho dúvida que vai consolidar um ambiente econômico muito bom, e a bolsa vai chegar aos 110 mil pontos”, analisa Malucelli. O Ibovespa acumulou 4,5% de alta na semana passada, primeira semana de 2019 e do novo governo, fechando na marca histórica de mais de 91 mil pontos.
De acordo com Malucelli, o capital estrangeiro – um dos impulsionadores da Bovespa – ainda está receoso com o país, o que torna a renda variável uma opção, sobretudo para médio e longo prazo. “Há muito capital externo que, no momento em que o Brasil apresentar sinais de melhoras, vai fazer com que a bolsa ‘bombe’. Não acredito em 200 mil pontos, mas acredito em até 120 mil pontos. No entanto, não alocaria mais de 15 a 20% dos recursos em ações”, pondera.
Hayashi, porém, afirma que o investidor deve se proteger, já que não há garantias de retorno. No caso do investimento em bolsa, sua opinião é para colocar uma parte em ações e outra em fundos cambiais. “Um vai proteger o outro em uma estrutura de correlação negativa. Se a bolsa cair, o dólar sobe, e a carteira fica estável. Nesse caso, o investidor pode aproveitar a alta do dólar, vendê-lo mais caro e comprar a bolsa mais barato. Quando a bolsa subir, terá ganhos expressivos”, explica.
Para Indech, empresas locais dos segmentos varejista, financeiro e elétrica devem estar no portfólio do investidor, assim como estatais, que, em tese, terão uma menor intervenção governamental, especialmente àquelas que têm garantido bons indicadores de rentabilidade nos últimos balanços. Companhias de receitas dolarizadas também aparecem entre as suas sugestões.
Adriana Zandoná, do Sicredi, segue na mesma linha de que a bolsa é uma boa opção que não pode ser desconsiderada. “Como a economia dá sinais de que vai crescer em 2019, a tendência é de que as empresas também cresçam e precisem de investimentos. Com isso, vai gerar mais renda e receita para as companhias, valorizando as suas ações, especialmente se o investidor externo retornar ao Brasil”, ressalta.
Quem não deseja participar ativamente da bolsa, os fundos de ações são uma possibilidade. No caso de perfis mais moderados, os fundos multimercado, que estão diluídos entre ações, commodities, moedas, renda fixa, entre outros, prometem entregar rentabilidade mais alta do que a renda fixa. “Eles não são tão agressivos quanto os fundos de ações, mas são mais apimentados. Podem entregar uma rentabilidade interessante para o investidor de perfil moderado”, avalia Adriana.
Renda fixa
Com as taxas de juros baixas, uma das dicas de Adriana é levar em conta a taxa de juros real na hora de fazer o investimento. “Quando se vê uma taxa Selic de 14% em 2015, a taxa de juros real (rentabilidade menos inflação) foi de 3% ao ano, muito próximo ao que se viu em 2018 com a Selic baixa. Isso precisa ser levado em consideração pelo investidor”, diz.
Mesmo dentro da renda fixa, é possível ser mais ou menos conservador. Nesse caso, a recomendação de Indech são as Debêntures Incentivadas, os Certificados de Recebíveis Imobiliário (CRI) e os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA).
Para Hayashi, o investidor que busca mais segurança deve considerar os títulos pós-fixados. “Se houver algum problema no país, a taxa de remuneração vai voltar a 8 ou 9% ao ano. A sugestão dele é, assim como no caso da bolsa, que haja uma composição da carteira entre pós e pré-fixadas, que, neste momento, estão rendendo mais”, diz.
De acordo com Indech, os investimentos isentos de Imposto de Renda devem ser buscados – se chegarem a 5% ou 6% ao ano, tornam-se muito atrativos para o perfil conservador. Como as perspectivas de retomada da inflação são baixas, é possível prever uma demora no crescimento da taxa de juros -- ainda que haja um aquecimento da economia brasileira, a inflação deve se manter sob controle em 2019. “Os investimentos com taxas pré-fixadas me parecem bons pela entrada do Bolsonaro”, diz Malucelli.
O diretor de investimentos do Paraná Banco sugere a procura por investimentos oferecidos pelos bancos médios, que costumam ter rentabilidade maior. “Quem quiser capturar essa oportunidade de taxas maiores em bancos menores pode se basear em investimentos até R$ 250 mil, dentro do Fundo Garantidor de Crédito (FGC)”, explica.