Henry Ford pode ter os créditos pela invenção da primeira linha de montagem, mas a companhia automobilística que leva o seu nome tinha o desejo de ser ainda mais inventiva. Há apenas alguns anos, os outros fabricantes de automóveis todo ano geravam o dobro do número de patentes da Ford no USPTO (U.S. Patent and Trademark Office, o órgão de patentes norte-americano).
Para dar o pontapé inicial em sua cultura de invenções, a companhia implementou uma série de iniciativas internas, desde mudar seus incentivos financeiros para inventores até a criar desafios de inovação para funcionários em toda a companhia. Esses esforços parecem ter compensado. Estima-se que a Ford tenha gerado este ano mais patentes nos EUA do que qualquer outro fabricante de automóveis, segundo dados da agência.
Essas patentes incluem um drone voador que funciona como um sentinela para carros autônomos, um filtro que purifica a condensação do ar condicionado e a transforma em água potável e, mais recentemente, uma cadeira de rodas elétrica que não precisa de ajuda para ser carregada.
Ao todo, a Ford já gerou 1.478 patentes de utilidade desde 1.º de janeiro, quase o dobro do número de patentes de dois anos atrás.
Em entrevista ao blog “Innovations” do The Washington Post, Bill Coughlin, chefe executivo da Ford Global Technologies, que supervisiona as questões de propriedade intelectual da companhia, delineou várias das mudanças culturais que a companhia realizou nos últimos anos.
As inovações audaciosas tradicionalmente partem dos departamentos de pesquisa e desenvolvimento das companhias, onde engenheiros altamente treinados empregam toda a sua formação e experiência para enfrentar problemas. Coughlin diz que a Ford adotou a noção de que boas ideias podem vir de qualquer parte da companhia e desde então vem encorajando os seus funcionários a se voluntariarem.
Mais de 5.500 empregados da Ford contribuíram com suas ideias neste ano, incluindo, segundo a companhia, cerca de 2.200 inventores de primeira viagem. Este número chega a 4.000 que contribuíram com suas ideias desde janeiro de 2015.
“Nós não estávamos visando apenas um aumento nas invenções, mas um aumento nos inventores da Ford”, disse Coughlin. “Depois que você começa a pensar como um inventor, não dá para desligar mais. Os problemas se tornam oportunidades, e é um jogo divertido que dá para jogar dentro da sua cabeça.”
Funcionários com ideias promissoras recebem como recompensa três meses de inscrição na TechShop, um espaço de criação com computadores e outros equipamentos que podem ser utilizados para transformar ideias em protótipos. “É muito mais difícil para a gerência dizer não para uma boa solução quando eles a veem funcionando.”
É claro que o dinheiro é também uma motivação para os funcionários-inventores. Em 2011, a Ford mudou sua compensação financeira para inventores. “Temos uma variedade de incentivos financeiros, de modo que, a cada etapa do processo, o funcionário recebe um prêmio, incluindo a chance de participar de qualquer renda que recebermos do licenciamento de uma patente de que ele tenha sido o inventor”, ele diz.
Ao longo dos últimos três anos, a Ford vem lançando um desafio a todos os funcionários da companhia e os convoca a contribuir com ideias para novos produtos ou mudanças nos produtos já existentes. Eles vão sendo filtrados até chegar aos finalistas, que, ao término do processo, criarão os protótipos da sua ideia, desenvolverão um plano de negócios e apresentarão o resultado aos executivos.
Os vencedores não ganham apenas um certificado ou um bônus em dinheiro. A companhia lhes fornece os recursos para executar a ideia. É assim que um dos seus engenheiros, por exemplo, vendeu a ideia para o On-The-Go H2O, o sistema de filtragem que traz água potável direto para o painel do seu carro.
Funcionários apresentaram 8 mil ideias neste ano
Os funcionários da Ford já contribuíram com mais de 8 mil ideias para patentes em 2016, segundo a companhia. O mero volume exige um processo de habilitação e de controle de qualidade que até mesmo o Bill Coughlin, CEO da Ford Global Technologies, admite que precisou ser estendido, conforme a Ford vem encorajando mais funcionários a se tornarem inventores.
As ideias passam pela revisão de um painel de engenheiros que determinam quais valem a proteção da patente e podem ser levadas adiante comercialmente. A companhia então recorre aos seus advogados e a uma firma externa para lidar com as questões jurídicas de solicitar uma patente e acompanhá-la ao longo de todo o processo de aprovação. “Nós não queremos gastar o nosso dinheiro com bobagem, por isso tomamos muito cuidado com as patentes que solicitamos”, disse Coughlin.
O lucro da Ford sofreu uma queda leve nos primeiros nove meses deste ano, chegando a quase US$5,4 bilhões até setembro, contra os US$5,5 bilhões do ano passado.