Com previsão de um futuro dificultado pela queda de 60% no preço do petróleo e pelo risco de maior dificuldade para captar dinheiro, a Petrobras precisou puxar o freio dos investimentos em 2015, que serão entre 25% e 30% menores do que era previsto por ano até 2018.
O balanço do terceiro trimestre da empresa, divulgado na madrugada desta quarta (28), prevê, para os projetos, desembolsos entre US$ 31 e US$ 33 bilhões, contra estimativa anterior de US$ 44 bilhões.
A estatal já desacelerou investimentos. Nos nove primeiros meses de 2014, foram desembolsados R$ 59,6 bilhões, queda de 10% em relação ao investido no nove primeiros meses de 2013, R$ 65,9 bilhões.
As contas do terceiro trimestre consideraram um preço médio do barril de petróleo a US$ 101 dólares, que já era 8% abaixo do trimestre anterior.
Desde o início deste ano, porém, a cotação esteve abaixo de US$ 50, e atualmente encontra-se no patamar de US$ 45, já ameaçando inclusive a viabilidade econômica da produção de petróleo no pré-sal, que tem seu custo na faixa entre US$ 45 e 52.
Geração de caixa
Apesar de a queda do barril reduzir a expectativa de retorno com o pré-sal, a Petrobras acredita, por outro lado, que o preço menor do barril ajudará a aumentar a geração de caixa operacional por meio da venda de combustíveis.
A empresa prevê gerar um caixa entre US$ 28 bilhões e US$ 32 bilhões em 2015, o que daria algo em torno de R$ 80 bilhões na cotação de dólar a US$ 2,70. É bem mais do que o ritmo de geração, pela empresa, verificada nos nove primeiros meses de 2014, de R$ 47 bilhões.
A empresa acha que conseguirá tal objetivo devido à defasagem dos preços dos combustíveis produzidos em relação ao Brasil em relação à cotação internacional. Com a queda do preço no barril de petróleo, em mais de 60% desde julho, a diferença passou a ser favorável à Petrobras, ao contrário que vinha ocorrendo desde 2011, e que havia ajudado a deteriorar a situação financeira da empresa.
Produção
A Petrobras prevê um crescimento menor para a produção de petróleo neste ano. A promessa é de elevar a extração de óleo em 4,5%, com margem de 1 ponto percentual para mais ou menos.
Em 2014, a promessa era elevar a produção em 6,5%; conseguiu, na prática, 5,3%.
Se conseguir manter o caixa em tal ritmo, crê a Petrobras, não será necessário captar dinheiro no mercado.
A necessidade de fugir do mercado de crédito se dá por pelo menos dois motivos.
O primeiro é que, sem balanço auditado, a empresa perde acesso a fontes de crédito mais barato, sendo obrigada a pagar mais juros.
O segundo se deve à piora dos indicadores de endividamento, item considerado pelas agências de classificação de risco para concessão das notas de crédito. Atualmente a Petrobras detém o Grau de Investimento, mas as agências o estão revisando. Empresas com grau de investimento são vistas como de baixo risco de calote e, portanto, pagam menos juros quando captam dinheiro.
Dívida
Segundo a Petrobras, a dívida líquida cresceu 7%, para R$ 260 bilhões no terceiro trimestre. Com isso, o índice de alavancagem, medido pela relação entre dívida e dívida somada ao patrimônio, pulou de 39% para 43% em um trimestre. Já o índice que mede a relação entre dívida e o Ebitda (indicador de geração de caixa) saltou de 3,9 para 4,63 vezes.
No ano passado, a presidente da Petrobras, Graça Foster, havia se comprometido a trazê-los aos níveis de 35% e 2,5 vezes, respectivamente. A meta se torna mais difícil com a queda no preço do petróleo, que, se persistir nos atuais patamares, deverá derrubar a receita da companhia.
Além disso, a baixa contábil em virtude de corrupção, que não foi feita agora, mas terá de sê-lo em algum momento, vai reduzir o patrimônio da empresa e, portanto, piorar a alavancagem.