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DIREITA X ESQUERDA

Com população mais crítica, governo não venderia milagre, diz economista

 | Douglas Shindy/Divulgação
(Foto: Douglas Shindy/Divulgação)

Em tempos de reformas da Previdência, trabalhista e PEC dos Gastos Públicos, entender os conceitos básicos da economia é quase obrigação. Apesar da relevância do tema, na prática não é todo mundo que se interessa -- ou entende – como funciona a economia. O resultado disso é uma população pouco engajada na tomada de decisão das políticas econômicas e o empobrecimento do debate no país.

O desafio de hoje vai além da discussão ideológica de esquerda e direita, comum no Brasil. Ainda mais, do velho capitalismo versus socialismo.

Pensando em desmistificar conceitos e popularizar conhecimentos essenciais da teoria econômica, o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega e a economista Alessandra Ribeiro, diretora de macroeconomia e política da Tendências Consultoria, lançaram o livro “A Economia: como evoluiu e como funciona”, pela editora Trevisan.

“Acho que uma posição mais crítica das pessoas limitaria ações populistas de governos na área econômica”, afirma Alessandra.

Confira a entrevista:

A ideia do livro é tratar de conceitos econômicos de forma simples. A falta de conhecimento sobre economia dificulta o debate sobre o tema no país?

Se as pessoas tivessem noções básicas sobre alguns tópicos, isso facilitaria o entendimento do que está se discutindo na esfera pública. Além disso, esse conhecimento também proporcionaria às pessoas uma opinião mais crítica em relação ao que é proposto pelo governo.

Então, as pessoas poderiam participar mais e melhor do debate. Com base nisso, acredito que a população poderia também fazer melhores escolhas.

Você acha então que o debate econômico ou até mesmo o momento do país seria outro se a população se envolvesse mais na economia?

Acho que sim. Porque quando um governo vende milagres, uma população com mais conhecimento econômico analisa o caso e vê que aquilo não é possível. Ou quais custos aquela medida traria no futuro. Acho que uma posição mais crítica das pessoas limitaria ações populistas de governos na área econômica. Porque a população olharia aquilo e pensaria no custo que todos teriam de pagar lá na frente.

Um bom exemplo é a questão fiscal...

Neste caso a população diz ‘mas eu quero meus benefícios, quero aumento de salário’ e muitas vezes não pensa que existe uma restrição orçamentária. Há um limite. Então o que a sociedade quer? É previdência? Ou não, é saúde e educação? Essa noção de restrição de orçamento é muito importante.

Além disso, toda vez que o governo falasse que vai reduzir impostos ou vai aumentar o gasto para incentivar a economia, uma população mais crítica avaliaria que aquela conta teria de ser paga lá na frente. Porque o governo provavelmente vai ter que fazer um ajuste brutal nos gastos lá na frente. Então esses milagres que muitas vezes são vendidos não colariam.

Neste caso, medidas de ajuste seriam melhor interpretadas?

Sem dúvida. Se as pessoas tivessem um pouco mais de noção sobre o orçamento do governo, quais são as contas que pesam, como ele é rígido, isso facilitaria o entendimento da PEC do Teto. E porque não fazer isso agora geraria um cenário muito pior do que aquilo que estamos vivendo hoje.

Precisamos sair desse debate que isto só está acontecendo por interesse dos bancos e do mercado financeiro. Não, o mercado financeiro quer ganhar dinheiro e para isso precisa de bases sólidas. O mercado quer sim a economia bem, para que lá na frente ele possa recuperar o dinheiro dele de volta.

Por isso o mercado fica olhando tanto critério para ver se traz o dinheiro para este país ou não. É simples assim. Mas muitas vezes coloca-se esse assunto de uma forma que escurece o debate.

Posições mais liberais, como algumas citadas no livro, enfrentam resistência no país. Como você esse desafio de tratar de termas como estes?

Precisamos desmistificar isso. Mostrar que algumas políticas são puro populismo econômico, que lá na frente vai sair muito mais caro para todos. É o que está acontecendo. Por causa de um tipo de política chamada “nova matriz econômica”.

O país não cresce? Vamos gerar demanda. Quando você gera demanda, o governo gasta mais, reduz imposto, força o Banco central a reduzir juros. O governo também começa a forçar a depreciação do câmbio para exportar mais. Esse tipo de política gerou vários desequilíbrios no país e nós estamos pagando a conta agora.

Agora precisamos colocar a casa em ordem e é custoso corrigir esses excessos. Acho que a questão mais clara é o endividamento do setor público. Não só no âmbito federal, mas dos estados também. Para colocar isso em ordem teremos que pagar por muitos anos. Então se a população tivesse sido um pouco mais crítica lá atrás, de repente o país estaria numa situação melhor.

O livro trata de temas polêmicos, como o sucesso do capitalismo e o fracasso do socialismo. Como você enxerga essa discussão hoje no país?

Infelizmente ainda existe isso. Não só aqui, como na América Latina inteira. É só você ver os nossos vizinhos. A Venezuela e o Equador. A Argentina saiu disso recentemente. São países que ainda acreditam nessa visão que você tem que ter um estado forte e poderoso que define o que é importante e gera mais igualdade. E já ficou claro que o caminho não é por aí.

O capitalismo não é perfeito e está bem longe disso, mas é o melhor sistema para promover o crescimento e a distribuição. Claro que precisa de regulação. Por isso é tão importante o papel das agências reguladoras e de instituições fortes. É incrível como o discurso de estado forte ainda tem apelo no Brasil.

Temos vários exemplos de países que conseguiram, através do capitalismo, se tornar nações ricas, justas, com alta renda per capta alta, pequena desigualdade e acesso a bons serviços de educação e saúde. Vamos olhar para eles!

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