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Demanda Crescimento deve persistir por 3 ou 4 anos

Os seguidos recordes do mercado obviamente animam a indústria automobilística. Mas a boa notícia, para as montadoras, não está no tamanho do crescimento, e sim na expectativa de que ele será duradouro. "É melhor crescer sempre 5% do que crescer 30% em um mês e depois cair 20%", diz Richard Dubois, da consultoria AT Kearney. "Como o financiamento está evoluindo de forma gradual, forma-se uma carteira de clientes. Quem comprou carro no ano passado, poderá trocá-lo daqui a dois ou três anos."

O economista Bráulio Borges, da LCA, acredita que o mercado tem espaço para avançar. "Como quem compra automóvel no Brasil é a classe média, o grau de endividamento não está alto a ponto de reduzir o volume de empréstimos no futuro." Para Borges, o mercado deve crescer de 10% a 15% ao ano pelos próximos três ou quatro anos.

"Não estamos mais naquela euforia pós-Plano Real, que ninguém sabia onde ia parar", define Dubois. De fato, momentos de euforia costumam preocupar: após atingir a marca de 1,94 milhão de automóveis vendidos em 1997, uma seqüência de crises externas derrubou as vendas para 1,26 milhão de unidades em 1999 – uma retração de 35% em apenas dois anos. (FJ)

Basta prestar atenção aos comerciais da programação da TV aberta para perceber: as propagandas de automóveis e revendedoras de veículos inundaram os intervalos. As exaustivas chamadas para "ofertas imperdíveis, com condições especiais de pagamento" dão uma idéia do esforço de montadoras e concessionárias para conquistar o consumidor, no ano que promete finalmente ultrapassar o recorde de 1997 e ser o melhor da história do mercado automobilístico nacional.

"Completamos em 2007 o quarto ano consecutivo de crescimento forte da renda da população. Não só por aumento dos salários, mas porque estão sendo gerados novos postos de trabalho", diz o economista Bráulio Borges, da consultoria LCA, de São Paulo. "E, ao contrário do que aconteceu em 2004 e 2005, o preço do carro novo está subindo abaixo da inflação. Em termos relativos, os automóveis estão ficando mais baratos."

A estabilidade da economia brasileira – que trouxe consigo juros mais baixos e prazo de pagamento mais longo – começou a dar resultados mais consistentes no ano passado, quando as vendas cresceram 13% e chegaram a 1,83 milhão de unidades, número que ficou abaixo apenas do registrado em 1997 (1,94 milhão). A projeção para 2007 é de um crescimento próximo de 10% – a consultoria paulista MB Associados aposta em 2,02 milhões de carros vendidos até o fim do ano –, mas os números dos primeiros meses do ano surpreenderam os analistas e dão indícios de que a expansão poderá ser ainda maior.

De janeiro a março foram vendidos quase 470 mil carros em todo o país, o que representa um aumento de 18,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Dados preliminares da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) mostram que, na primeira metade de abril, o avanço foi ainda mais forte, de aproximadamente 25% sobre os primeiros quinze dias de abril de 2006.

O especialista em mercado automobilístico Richard Dubois, diretor-associado da consultoria AT Kearney, explica que o consumidor está mais otimista e perdeu o medo de assumir um financiamento. "Isso está combinado com uma oferta de crédito a juros cada vez mais baixos e prazos cada vez maiores", diz o consultor. Mais confiantes, bancos e montadoras elevaram os prazos máximos de financiamento. Eram 36 meses há dois anos, e agora pode-se encontrar prestações distribuídas ao longo de 72 meses. Com isso, diz Dubois, o valor de cada parcela caiu pela metade, e ficou mais fácil encaixar o pagamento do carro no orçamento familiar – prática bem ao gosto do brasileiro, que costuma olhar para o valor de cada prestação, e não para o total que vai pagar.

Borges, da LCA, diz que o juro do automóvel caiu mais do que a taxa básica de juros (Selic) porque, com demanda aquecida, os bancos estão mais dispostos a brigar pelos consumidores. "Financiar veículo dá mais retorno do que aplicar em títulos públicos, e a inadimplência nesse segmento é muito baixa, atingindo apenas 4% do total de empréstimos. Na aquisição de outros bens esse índice é muito maior, de 20%." Além disso, diz Borges, se o cliente não pagar o banco pode tomar o carro de volta – o que raramente acontece no caso dos eletrodomésticos, por exemplo.

Outra novidade positiva é que o consumidor está conseguindo comprar carros mais equipados que antes. Segundo o especialista da AT Kearney, isso indica que o crescimento deverá ser ainda maior em valores do que em número de carros vendidos. "A indústria baixou seus custos e tem oferecido pacotes promocionais. A venda de carros com ar condicionado, vidro elétrico e direção hidráulica está maior que há dois anos. Quem comprava um popular sem acessórios, agora compra equipado. Quem comprava um popular equipado, agora consegue comprar um carro médio."

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