A produção industrial brasileira caiu 3,3% em 2014 e deve recuar mais 2,2% neste ano, segundo economistas do mercado financeiro. Como se não bastasse a retração da atividade, o setor começou 2015 sob o impacto de uma inflação de custos raramente vista desde a estabilização da moeda, há duas décadas.
Os gastos com insumos, taxas de juros e impostos dispararam após as eleições, em decorrência de programas de ajuste fiscal – na União e em estados como o Paraná – e do chamado “realismo tarifário”, que inflou preços até então represados, como os da energia elétrica e dos combustíveis. Quem depende de matérias-primas importadas ou cotadas em dólar sofre ainda com a forte alta da moeda norte-americana, que subiu cerca de 20% desde o início do ano.
O único alívio parece vir do próprio câmbio: como o real perdeu valor, os produtos brasileiros ficaram um pouco mais competitivos lá fora e os importados, mais caros aqui dentro. A questão é que nem o mercado interno nem o externo andam muito compradores. Assim, o aumento das despesas não é compensado de imediato por vendas maiores.
O mais recente indicador de custos industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), referente ao terceiro trimestre de 2014, mostrava uma redução de 1,2% nas despesas do setor em relação ao segundo trimestre. É muito provável que essa queda tenha sido revertida desde então.
“Com certeza vamos detectar um aumento de custos, e não será pequeno”, observa Flávio Castelo Branco, gerente executivo da unidade de Política Econômica da CNI. “[Nos próximos indicadores] a tributação será maior. Os custos financeiros serão maiores. Algumas matérias-primas vão subir por causa do ajuste cambial. A energia, que já vinha subindo, também estará mais cara. Apenas a mão de obra pode ter um arrefecimento. Há uma pressão de custos de quase todos os lados, uma dificuldade a mais num momento em que a demanda está se retraindo.”
A fabricante de pisos multiestruturados Masterpiso, de Curitiba, é afetada principalmente pela alta do diesel, que encarece o frete de sua principal matéria-prima. “Cerca de 70% da madeira que usamos é eucalipto, do interior do Paraná. O restante vem do Norte do país”, diz o diretor da empresa, José Antônio Baggio. Segundo ele, com os reajustes recentes, o peso da energia elétrica nos custos de produção subiu de 2,7% para perto de 4%. E, em 1.º de abril, a alíquota do ICMS no Paraná subirá de 12% para 18%.
Baggio relata uma preocupação comum a todo o setor industrial: como a demanda está em queda, é quase impossível repassar todo esse aumento de custos para o consumidor. Resta às empresas absorver parte da inflação e queimar gorduras em sua estrutura – se ainda houver o que queimar. “Não estávamos nadando de braçada. O ano passado foi difícil e, no geral, o que tinha para ser cortado já foi”, conta Cesar Rippel, gerente industrial da Perfecta, que produz equipamentos para panificação em Curitiba.
Segundo o executivo, no momento a maior pressão vem dos fornecedores. “O reajuste da energia não pesou tanto para nós, mas afetou quem nos fornece plástico, aço, fibra de vidro, alumínio, motores. Mas não temos como absorver todo o aumento que eles pedem, nem repassá-lo a nossos clientes, porque o mercado não está aquecido para ninguém”, diz Rippel.