O aprofundamento da crise global, a partir de setembro, fez as instituições financeiras públicas avançarem sobre o crédito total da economia, tomando espaço dos bancos privados e dos estrangeiros. Em dezembro de 2007, os empréstimos concedidos por entidades controladas pelo Estado - como o Banco do Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal - representavam 34,1% do crédito no País. Em dezembro de 2008, a participação havia crescido para 36 2%. A tendência, dizem analistas, deve se manter em 2009.
Uma projeção do economista Luís Miguel Santacreu, da Austin Rating, feita a pedido do Estado, indica que a fatia pode chegar a quase 38% no fim deste ano. Em valores, são quase R$ 90 bilhões. Santacreu espera que os bancos privados coloquem no mercado mais R$ 74 bilhões. Há um detalhe a observar nesses números: embora a parcela do crédito privado seja maior que o público (42,8% ante 36,3% em dezembro), os bancos comandados pelo governo devem despejar mais dinheiro na economia este ano do que as instituições privadas.
Para analistas, é natural que, em meio à mais grave crise global desde os anos 30, que praticamente congelou o mercado de crédito o Estado ajude, extraordinariamente, empresas e pessoas físicas a obter empréstimos. Uma ação elogiada pelos especialistas nesse âmbito é o uso das reservas internacionais para financiar o comércio exterior - anunciado quinta-feira pelo Banco Central (BC).
O problema é que o governo deixou claro, tanto em discursos públicos quanto nos bastidores, que fará de tudo para estimular a economia em 2009 por meio da expansão de empréstimos. Se já não bastasse isso, colocou o BB e a Caixa na linha de frente da batalha pela redução de juros e spread (diferença entre a taxa de juro pela qual o dinheiro é captado e a cobrada no empréstimo).
As autoridades acreditam que tal movimento induzirá os bancos privados a seguir o mesmo caminho. No entanto, segundo analistas a tática traz riscos nada desprezíveis para a saúde das instituições envolvidas (BB, Caixa e BNDES) e, por extensão, para o bolso do contribuinte, que pode ter de arcar com eventuais prejuízos que estourem lá na frente.
"Há uma percepção entre os agentes de que o BB sofre ingerência política", disse o analista João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho & Associados. O chefe de pesquisa de mercados emergentes do Barclays Capital, Rogerio Oliveira, critica a atitude do governo em relação aos bancos federais. "Foi importante a Caixa e o BB fomentarem o mercado de crédito no ápice da crise de crédito, mas agora preocupa."