O rebaixamento do rating soberano da França e de outros oito países europeus pela Standard & Poor's (S&P) deve arrefecer o otimismo moderado que predominava desde o início do ano nos mercados financeiros, sustentado pelas boas notícias sobre o desempenho da economia americana e pelas rolagens bem-sucedidas das dívidas de Espanha e Itália. Para economistas, as revisões para baixo das notas de economias centrais da Europa devem trazer de volta volatilidade aos mercados de capitais a curto prazo.
Num primeiro momento, porém, terão pouco efeito sobre o desempenho da economia real. Para o Brasil, assim como as demais economias emergentes, essa volatilidade pode se traduzir em variações fortes nas bolsas e na taxa de câmbio.
"O efeito deve ser temporário, como ocorreu no rebaixamento dos Estados Unidos: houve turbulência de curto prazo, na bolsa e no dólar, mas depois reverteu. O contágio disso no investimento estrangeiro e na captação das empresas no exterior vai depender de uma ruptura", disse Silvio Campos Neto, da Tendências.
Para Jayme Carvalho, economista e estrategista do Santander Private Banking, boa parte dos rebaixamentos anunciados ontem já estava embutida nas avaliações do mercado. Segundo ele, decisões como as da S&P reduzem o otimismo, mas não devem mudar o rumo dos mercados, que apontavam para uma recuperação desde o início do ano:"O rebaixamento joga um pouco de água fria, mas não é suficiente para esfriar o otimismo a curto prazo."
O economista cita a divulgação dos dados do Livro Bege do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que na quinta-feira mostrou um aumento da confiança do consumidor americano. Na economia brasileira, continuou, os sinais recentes também são positivos. Segundo ele, tudo indica que o ponto mais baixo do crescimento já passou e que a criação de emprego continuará em alta.
Por esses motivos, Carvalho disse não acreditar sequer que se chegue a ter um período de volatilidade, como o que ocorreu depois do rebaixamento da dívida dos EUA. Naquela ocasião, lembrou, o mercado foi pego de surpresa pela notícia, o que não ocorreu agora, já que os investidores já estavam exigindo um prêmio maior do que o condizente com o rating pelos títulos de países como Itália e França.
"Só algo mais grave afetaria a nossa economia. Num primeiro momento, o rebaixamento mexe com o câmbio, com alguma depreciação e fuga de recursos para os EUA, mas nada muito mais grave do que isso, por enquanto", concordou Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.