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Comércio

Com renda apertada, gasto se concentra em itens essenciais

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(Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)

Com desemprego em alta e crédito cada vez mais escasso, o consumidor brasileiro tem evitado fazer dívidas e está concentrando suas compras em itens básicos e indispensáveis à sobrevivência. Foi o que mostrou a última pesquisa da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP). Em outubro, as vendas do setor registraram queda de 10,2%, pressionadas pelos segmentos de vestuário, móveis e decoração, veículos e eletroeletrônicos. O novo padrão de consumo já se reflete no resultado das maiores varejistas do país.

Segundo o economista Altamiro Carvalho, da Fecomércio-SP, as famílias se concentram nos produtos de primeira necessidade nos momentos de crise. “Houve, em 2015, queda real do rendimento. Isso é um obstáculo para o consumo de bem durável”, explica o especialista. O presidente do instituto Data Popular, Renato Meirelles, afirma que a base da pirâmide está fazendo de tudo para economizar. “Diante da instabilidade econômica, a classe C tem feito um ajuste fiscal doméstico, que é basicamente aumentar receita, reduzir despesas e não gastar mais do que ganha.”

O receio das famílias em consumir bens de maior valor, que costumam ser comprados a prestação, está refletido no balanço das grandes companhias. O Grupo Pão de Açúcar divulgou hoje uma alta de 5,5% em sua receita em 2015, para R$ 69,1 bilhões, com resultado desigual entre as áreas. O faturamento do ramo alimentar subiu 7,1%; enquanto isso, a Via Varejo, que concentra as redes Casas Bahia e Ponto Frio, teve retração de 15%.

O Magazine Luiza, outra rede de eletrônicos que tem ações negociadas na BM&F Bovespa, teve a nota de crédito rebaixada pela agência de risco Standard & Poor’s na segunda-feira. A rede Máquina de Vendas (das bandeiras Ricardo Eletro e Insinuante) tem capital fechado, mas também está reestruturando seu negócio com a ajuda de consultores externos.

Segundo os dados da Fecomércio-SP, a venda de eletrodomésticos caiu 16,3% no acumulado de janeiro e outubro do ano passado. E, por enquanto, não há sinais de recuperação no horizonte. “A gente não vê nenhum ponto de inflexão na queda de demanda dos semiduráveis (categoria de bens em que se enquadram os eletroeletrônicos)”, diz o analista de varejo do Banco Brasil Plural, Felipe Cassemiro.

Foi por causa dessa falta de perspectiva macroeconômica que o banco passou a recomendar a venda de ações do Magazine Luiza, apesar de considerar que a empresa vem se defendendo bem da crise, com ações para reforçar o seu caixa e ganhar mercado frente a concorrentes mais fortes, como a Via Varejo.

Perdas

Levantamento feito pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, com base nos dados da Economática, mostrou que as ações de empresas do varejo de vestuário e eletrodomésticos sofreram na BM&FBovespa em 2015 com a piora do cenário econômico. As mais castigadas foram justamente Magazine Luiza (-71,8%) e Via Varejo (-81,4%).

No ramo de confecções e calçados, as maiores perdas foram na rede popular Lojas Marisa e na Restoque, dona de bandeiras de alto valor agregado, como Le Lis Blanc, Dudalina, John John e Bobô. Dentro do setor, Guararapes (que controla a Riachuelo) e Hering também fecharam o ano com as ações no vermelho. Segundo a Fecomércio, o varejo de confecções acumulou queda de 11,7% nas vendas até outubro de 2015.

A maior alta entre as principais varejistas foi da Raia Drogasil, empresa que cresce acima da média do mercado de farmácias - em meio a recessão, o papel subiu 40% em 2015. O mercado como um todo cresceu: ao lado dos supermercados, as drogarias foram o único segmento varejista a crescer em 2015, segundo a Fecomércio paulista.

Porém, a comparação das ações feita pela reportagem mostra que, no varejo, gestão faz diferença. As ações da BR Pharma, que reúne os negócios de drogarias do BTG Pactual, caíram 96,2% no ano. O resultado foi influenciado pela prisão do banqueiro André Esteves, no fim de novembro, mas o negócio já havia anunciado antes disso que precisava de uma injeção de capital de R$ 600 milhões.

Em uma recessão, empresas com a melhor performance têm a chance de ganhar mercado. É o que está ocorrendo atualmente com a Lojas Renner, de confecções, que vem apresentando resultados de vendas bem superiores aos da concorrência. Com isso, a ação da empresa ficou no azul, com alta de 12% acumulada em 2015, mesmo em um cenário adverso para as redes de moda. “O mercado de moda é segmentado. Então, oferece oportunidade para movimentos como o da Renner”, explica Cassemiro, do banco Brasil Plural.

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