O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é um estranho no ninho desde o primeiro dia do governo Dilma 2. Ele não está alinhado com a visão desenvolvimentista defendida pela presidente, que comprou a tese do ajuste fiscal como uma saída para assegurar apoio do mercado no início de seu segundo mandato. Na Fazenda, Levy acumulou mais atritos do que vitórias na sua pauta.
O plano de Levy previa três passos para a economia. O primeiro é o ajuste fiscal ainda não concluído e distorcido em votações no Congresso e nos debates internos do governo. Em seguida, com as contas em ordem, o país teria juros menores para resgatar a confiança e os investimentos. Na sequência, reformas de longo prazo dariam sustentação ao crescimento.
O ajuste fiscal esbarrou em dois problemas. O primeiro é a recessão crescente, em grande parte aprofundada pelo clima político instável e pelas indefinições na área econômica do governo – que é o segundo fator que acabou alimentando a própria crise fiscal. Várias medidas demoraram para ser aprovadas e muitas delas levaram a cortes de gastos menores do que o previsto.
Internamente, Levy sofreu a oposição do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que há quatro ou cinco meses diz nos bastidores que a política econômica precisa mudar para permitir que o país cresça mais.
Esse atrito com o Planejamento foi explicitado no momento em que o governo anunciou para o ano que vem um orçamento com déficit primário de R$ 30 bilhões. Até ontem, havia resistência em virar esse número para um superávit consistente, capaz de controlar o aumento da dívida pública. Levy perdeu mais uma vez e viu a meta ser reduzida para 0,5% do PIB, com grande chance de não ser cumprida.
Nas notícias anteriores sobre a saída do ministro aparecia também a figura do ex-presidente Lula, que gostaria de ver Henrique Meirelles na função. Desta vez, parece que é o próprio Levy que desistiu de implantar sua política econômica.
Sua saída, se confirmada, vai impor ao governo mais uma dificuldade exatamente no período em que Dilma responde ao processo de impeachment. Dificilmente ela encontrará um nome com respaldo do mercado ou com currículo acadêmico de primeira linha que queira correr o risco de ser um ministro-tampão até a votação do impeachment. Sobram os nomes que orbitam em torno da presidente e que estão alinhados com as ideias que conduziram o país à sua pior recessão em duas décadas. Já há quem diga que é a pior desde o início do século 20.