A multibilionária operação do Santander Brasil consolidou o mercado brasileiro de ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) como um dos que mais rapidamente se recuperaram dos efeitos da crise global desencadeada no final de 2008.
A filial no país do banco espanhol fez sua estreia no pregão da Bovespa e na Bolsa de Nova Iorque nesta quarta-feira (7), após ter concluído na véspera sua oferta de 600 milhões de units, levantando 14,1 bilhões de reais, no maior IPO da história do mercado brasileiro e recorde mundial em 2009.
Para o presidente do Santander Brasil, Fabio Barbosa, a recuperação rápida da economia brasileira após a crise foi fundamental para o resultado da operação.
"O momento da oferta não poderia ter sido melhor, porque o país saiu bem avaliado da crise do ano passado", disse Barbosa na sede da Bovespa, antes do início dos negócios com as units.
Mas a estreia no pregão foi tingida de vermelho em meio à realização de lucros no setor bancário, que vinha se valorizando na Bovespa justamente pelo otimismo com a oferta.
A unit do Santander terminou o dia com queda de 3,74 por cento, a 22,62 reais, com o maior giro da bolsa, de 1,93 bilhão de reais. O Ibovespa encerrou o dia praticamente estável, com oscilação negativa de 0,05 por cento.
Segundo a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), a taxa de rateio na parte da operação destinada ao varejo foi de 8,14 por cento, indicando que a demanda superou a oferta em mais de 10 vezes.
Segundo profissionais do mercado, a forte demanda pela oferta reflete as perspectivas positivas dos investidores para o crescimento do crédito no país nos próximos anos.
Mas esse otimismo se espalhou por todo o setor financeiro, que protagonizou a ascensão do Brasil a vice-líder mundial de IPOs em 2009, só atrás da China. A emissão de cerca de 8,1 bilhões de dólares do Santander e os 4,3 bilhões de dólares da empresa de cartões de crédito VisaNet fizeram o país responder por 29 por cento dos 42 bilhões de dólares levantados por essa via neste ano, segundo a Thomson Reuters.
E pelo menos mais uma operação de grande porte é esperada para este ano na Bovespa, a oferta inicial da câmara de liquidação e custódia Cetip.
Segundo o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, a empolgação dos investidores deve manter o mercado doméstico de IPOs aquecido nos próximos meses.
"Deve ter muita atividade em IPOs na primeira metade de 2010", disse a jornalistas, após a estreia dos negócios com as units do Santander. "Nosso mercado está despontando como o maior mercado emergente do mundo."
A operação do Santander vem num momento em que os bancos privados esperneiam para recuperar market share perdido para as instituições financeiras estatais, que baixaram juros e aumentaram a oferta de crédito, sendo uma das principais armas anticíclicas do governo federal para tentar amortecer os efeitos da crise sobre a economia.
Segundo números do Banco Central, a participação dos bancos públicos no sistema financeiro pulou de 34,3 para 40,4 por cento no intervalo de 12 meses encerrado em agosto.
Com os recursos levantados, o Santander surge como 5a maior empresa por valor de mercado da Bovespa, segundo a consultoria Economática, e fortalece a estrutura de capital, podendo ampliar agressivamente a oferta de crédito no país.
Esse é o terceiro grande movimento do banco espanhol no mercado brasileiro, onde desembarcou em 2000, por meio da compra do banco paulista Banespa. Em 2007, o banco adquiriu o ABN Amro Real, ampliando sua posição no país.
Nos seis meses encerrados em junho, a unidade brasileira do banco espanhol representou mais de 20 por cento do lucro líquido do grupo e 53 por cento do ganho na América Latina.
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