A surpresa do mercado com a queda dos juros no Brasil provocou a alta de cerca de 1% do dólar nesta quinta-feira, acima de R$ 1,60. A moeda norte-americana fechou a R$ 1,6168 para venda.
O Comitê de Política Monetária (Copom) diminuiu a taxa Selic na noite de quarta-feira para 12 % ao ano, citando a piora nas condições do mercado internacional como principal motivo para reverter a trajetória dos juros. Nas cinco reuniões anteriores deste ano, o Banco Central (BC) havia elevado a taxa.
O consenso entre economistas era de que o BC manteria a taxa básica de juros."Não foi só o corte em si, mas a forma como ele foi feito, sem uma sinalização clara, surpreendendo totalmente o mercado. Isso eleva a percepção de risco do ponto de vista do investidor estrangeiro, e portanto ajuda a valorizar o dólar", disse o economista-chefe da CM Capital Markets, Luciano Rostagno.
Após o susto, analistas revisaram nesta quinta as projeções para os juros. O Bank of America Merrill Lynch estimava queda da Selic a 11 % no fim de 2011, mas o Credit Suisse ia mais longe prevendo corte a 8,5 % já em janeiro.
Com uma taxa de juros menor, diminui a remuneração dos investimentos em renda fixa no Brasil e, com isso, cai a atratividade da moeda brasileira, que perde valor em relação a outras alternativas. O BNP Paribas, por exemplo, recomendava o investimento em pesos mexicanos, em vez do real.
"Após a decisão surpreendente do BC, intensificou-se a posição já frágil da moeda brasileira --devido à introdução de várias medidas cambiais", escreveu o analista Diego Donadio da instituição, em nota.
O peso mexicano se valorizava nesta quinta-feira, em parte também porque dados melhores do que o esperado sobre a indústria do país diminuíram o medo de uma nova recessão.
A perspectiva de que o governo possa adotar ainda mais medidas para frear a queda do dólar, que nos últimos meses chegou a cair aos menores níveis desde 1999, também contribuía para a desvalorização do real, disse o gerente de operações do Banif, Arnaldo Puccinelli.
Em entrevista à Reuters, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, prometeu proteger a taxa de câmbio brasileira caso os Estados Unidos promovam mais uma rodada de estímulo à economia e aumento da liquidez.
Nesta quinta, a taxa Ptax, calculada pelo BC e usada como referência para os ajustes de contratos futuros e outros derivativos de câmbio, fechou a R$ 1,6040 para venda, em alta de 1,06 %.