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Combustíveis têm menor preço em dez meses

Etanol em segundo plano: perda de competitividade derruba as vendas pelo segundo ano seguido | Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo
Etanol em segundo plano: perda de competitividade derruba as vendas pelo segundo ano seguido (Foto: Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo)

A forte retração da demanda e o avanço – ainda que lento – da safra de cana têm reduzido gradualmente os preços do etanol e, por consequência, os da gasolina, que tem 20% de álcool em sua composição. Com isso, os preços dos dois combustíveis atingiram os menores níveis em dez meses em Curitiba.

O que não mudou foi a vantagem da gasolina em relação ao combustível vegetal. Beneficiado pelas dificuldades do setor sucroalcooleiro e pelo congelamento de preços mantido há anos pelo governo, o derivado do petróleo está completando um ano na condição de opção mais econômica para os carros flex.

De acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o custo médio do álcool nos postos de Curitiba caiu a R$ 1,94 por litro neste mês (até o dia 23), três centavos abaixo da média de maio. O valor atual é o menor desde agosto de 2011 (R$ 1,86). O preço da gasolina também é o mais baixo dos últimos dez meses. Na média, caiu de R$ 2,60 para R$ 2,57 por litro na passagem de maio para junho, ante R$ 2,56 em agosto do ano passado.

Os dados da ANP indicam que o litro do etanol está custando aproximadamente 76% do preço da gasolina, bem acima dos níveis em que o biocombustível é tido como mais vantajoso. De acordo com estudo do Inmetro feito com 92 carros flex, o rendimento do álcool em relação ao combustível fóssil é de 68%, em média. Por isso, na maioria dos casos o etanol não compensa quando seu preço estiver acima desse porcentual. A última vez em que valeu a pena abastecer com o biocombustível foi em junho do ano passado, quando ele custava o equivalente a 66% do preço da gasolina.

Motivos

Há duas causas principais para a persistente vantagem da gasolina. A primeira é que, enfrentando falta de recursos desde o estouro da crise internacional, em 2008, usineiros e produtores de cana não têm renovado os canaviais no ritmo ideal, nem ampliado a área plantada. A pouca renovação, aliada a problemas climáticos, reduziu a produtividade das lavouras, limitando a oferta de etanol e, consequentemente, jogando os preços do combustível para patamares bem acima das médias históricas.

A segunda razão está na política do governo de obrigar a Petrobras a segurar os preços da gasolina, como forma de controlar a inflação. Nas poucas ocasiões em que autorizou a estatal a reajustar os preços nas refinarias, como fez na semana passada, o governo reduziu tributos, de forma a impedir que o aumento chegasse ao consumidor final. Desta forma, o preço da gasolina tem variado basicamente em função das oscilações do etanol, um de seus componentes.

Vendas de etanol caem quase 30%

A perda de competitividade do etanol em relação à gasolina tem reflexos bem nítidos no consumo dos dois combustíveis. Após despencar 40% entre 2010 e 2011, as vendas de álcool seguem em baixa neste ano. De janeiro a abril, o consumo do combustível somou 208 milhões de litros, 29% menos que no mesmo período do ano passado, segundo a ANP. Por outro lado, as vendas de gasolina subiram 16%, para 880 milhões de litros.

No balanço dos dois combustíveis, a gasolina respondeu por 81% das vendas do quadrimestre e o álcool, por apenas 19% – o porcentual mais baixo da série histórica, iniciada em 2003, quando os primeiros carros bicombustíveis foram lançados. No começo do ano passado, essa relação era de 72% para a gasolina e 28% para o etanol. Em seu melhor momento, em 2009, o derivado da cana chegou a responder por 41% das vendas totais dos dois combustíveis.

Mais devagar

Embora as estimativas apontem para um pequeno au­­mento de produção nesta safra (2012/13), as usinas de álcool ainda estão trabalhando mais devagar que no ano passado. De acordo com a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), as unidades do Centro-Sul do país produziram 3,6 bilhões de litros de etanol até 15 de junho, 33% menos que no mesmo período da safra 2011/12. A entidade atribui essa queda às chuvas em quase todas as regiões produtoras, que prejudicaram a colheita de cana.

"Como as condições climáticas observadas na segunda quinzena de junho também estão sendo desfavoráveis à colheita, a defasagem no comparativo com os resultados da safra anterior persistirá, ou mesmo aumentará até o fim deste mês", informou a Unica, em nota.

A última projeção da entidade, feita em abril, indicava que a produção de etanol nesta safra aumentaria 4,6% em relação ao ciclo passado, atingindo 21,5 bilhões de litros. Os números devem ser revisados até o fim de julho.

Preço na indústria

Ao menos por enquanto, o atraso na produção não se refletiu em alta de preços nas usinas produtoras. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Apli­­cada (Cepea/USP), o litro do álcool hidratado era vendido a R$ 1,084 (sem impostos) na indústria paulista na semana encerrada no dia 22, com queda de 2,3% em um mês e de 5,7% em um ano.

O álcool anidro, que é misturado à gasolina, saía por R$ 1,323, valor que representa uma queda mensal de 1,4%. Na comparação com o mesmo período de 2011, no entanto, esse combustível ficou 3,9% mais caro.

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