A disparada do dólar, a alta dos juros e os estoques mais altos derrubaram as projeções de vendas do comércio para o Natal. A Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) prevê um crescimento de 4,5% nas vendas nesse período em todo o país, ante 8,1% no mesmo período de 2012. Se confirmado, será o desempenho mais fraco dos últimos dez anos.
No Paraná, a Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio) projeta um desempenho melhor, mas ainda assim menor do que em 2012. A previsão é de um avanço de 8% nas vendas, contra os 13% registrados no Natal de 2012, segundo Darci Piana, presidente da entidade.
Segundo ele, a euforia com o consumo está menor. De um lado a inflação mais alta e o endividamento estão fazendo com que as famílias adiem compras. Por outro, os juros mais altos e a maior cautela dos bancos na aprovação dos empréstimos também limitam o acesso ao crédito, que foi um dos pilares que sustentou o consumo nos últimos anos.
Entre os comerciantes do Paraná, o índice de otimismo para o segundo semestre está mais baixo do que na época da crise econômica mundial, em 2009, segundo levantamento da Fecomércio. A pesquisa mostra que 55% dos empresários estão otimistas contra 68,42% no primeiro semestre. No início de 2009, o índice de otimismo era de 58,62%.
A perda de motivação tem relação com o ritmo menor de crescimento das vendas e o aumento dos estoques nos últimos meses. No primeiro semestre, 45% das empresas registraram estoques acima dos registrados no mesmo período do ano passado.
A alta dos juros também já encarece financiamentos e os bancos estão mais cautelosos em conceder crédito. "Crédito farto e barato não existe mais", diz André Luiz Pellizaro, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) em Curitiba.
A entidade também já revisou para baixo a projeção de vendas para 2013. A previsão inicial era vender 6% mais no ano, mas agora se espera no máximo 4,5%, segundo Pellizaro. Em 2013, o consumo não vai poder contar com as reduções de IPI, que ajudaram a estimular as vendas no ano passado.No primeiro semestre, as vendas do comércio cresceram 3% em Curitiba, metade do registrado no mesmo período do ano passado, segundo Claudio Shimoyama, economista e consultor da Associação Comercial do Paraná (ACP).
A ACP ainda não atualizou suas projeções para o Natal. Mas, segundo Shimoyama, quatro fatores vêm tendo impacto nas vendas. O baixo desemprego e a massa salarial ajudam a estimular as vendas. "Em compensação, a inflação e alta dos juros vêm impedindo que as vendas cresçam mais", diz.
Lojistas vão contratar menos
Com a previsão de um crescimento mais modesto para as vendas esse ano, o comércio também já espera contratar menos pessoas para trabalhar no fim do ano. Estimativa da Fecomércio é que as lojas gerem entre 10 mil e 12 mil empregos temporários para as vendas de fim de ano no Paraná. Em 2012, esse número havia ficado entre 30 mil e 33 mil, segundo Darci Piana, presidente da entidade. A queda reflete a maior cautela dos lojistas em relação ao desempenho do Natal.
Segundo ele, o comércio deixou de contratar nos últimos meses e a grande preocupação até agora era quando o setor começaria a demitir. De janeiro a julho, entre empregados e demitidos, o setor registrou um saldo de 10,8 mil vagas, volume apenas 1,74% superior ao mesmo período do ano passado. Foi a menor taxa de crescimento entre os setores pesquisados pelo Ministério do Emprego e Trabalho (MTE).
Segundo Piana, com os números mais favoráveis do Produto Interno Bruto (PIB)- que reagiu e cresceu 1,5% no segundo trimestre as expectativas melhoraram um pouco no médio prazo, mas ainda assim o setor não deve repetir o ritmo de contratações dos últimos anos.