O comércio exterior brasileiro renovou, em agosto, os recordes históricos registrados no mês anterior. As exportações somaram US$ 15,101 bilhões, com crescimento de 6,9% sobre o valor de julho até então o maior da história para um único mês e de 10,5% sobre agosto de 2006. Também recordes, as importações atingiram US$ 11,566 bilhões, avançando 7,4% em relação ao mês anterior e 26,9% na comparação com o mesmo período do ano passado.
O saldo da balança comercial (diferença entre vendas e compras) ficou positivo em US$ 3,535 bilhões. O valor é 5,6% maior que o de julho, mas 22,4% inferior ao de agosto de 2006. Os números foram divulgados ontem pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
O forte aumento das compras é causado pela baixa cotação do dólar e pelo aquecimento do mercado interno brasileiro. Por outro lado, o patamar da moeda norte-americana, tido como prejudicial para as vendas da indústria, não tem evitado o aumento das vendas externas.
China
Mas os dados da Secex mostram que as exportações vêm sendo sustentadas pelos altos preços das commodities no mercado internacional. Os três principais produtos exportados pelo país minério de ferro, petróleo e soja em grão estão nessa categoria. Com a competitividade prejudicada pelo câmbio, industrializados como os automóveis não exibem resultados tão favoráveis.
Para o professor de Economia Márcio Vargas da Cruz, da Universidade Federal do Paraná, a concentração das exportações em setores favorecidos pela demanda mundial compromete a diversificação da pauta brasileira e pode prejudicar mais seriamente a indústria. "A China é o maior comprador de nossos produtos básicos. O que preocupa, em primeiro lugar, é até quando ela vai manter a demanda em alta. E, depois, caso seu ritmo desacelere, teremos condições de compensar a queda das commodities com outros produtos?", questiona.
De janeiro a agosto, as exportações acumulam US$ 102,4 bilhões, com alta de 15,9% sobre os oito primeiros meses de 2006. O valor das importações é mais baixo (US$ 74,9 bilhões), mas seu avanço é bem mais forte (27,8%). O resultado é uma queda de 7,5% no saldo da balança comercial, que ficou em US$ 27,5 bilhões. Mesmo assim, o mercado manteve nesta semana sua aposta para a balança comercial. De acordo com o boletim Focus, do Banco Central, o comércio exterior deve fechar o ano com saldo positivo de US$ 42,7 bilhões, com baixa de 8,2% sobre 2006. Mas há quem duvide que esse valor possa ser atingido.
O economista Chau Kuo Hue, da LCA Consultores, estima que o saldo ficará em US$ 42,2 bilhões. Segundo ele, a tendência é de que as importações mantenham o forte ritmo nos próximos meses, mas as vendas externas devem desacelerar por conta de um desempenho mais fraco de alguns produtos básicos como a carne bovina, que por enquanto acumula alta de quase 20%. "Os problemas com a aftosa em 2005 e 2006 aumentaram o abate de matrizes. Isso já reflete na alta dos preços agrícolas e deve reduzir a oferta para a exportação", diz Hue. O açúcar bruto, semimanufaturado que acumula queda de 14% nas vendas desde janeiro, deve continuar perdendo espaço. "Os preços não estão muito favoráveis, e as usinas estão dando preferência ao álcool."