| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

A comida mais barata vai jogar a inflação para baixo este ano. Analistas estimam que os alimentos devem subir em média 3% em 2017.

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Um tombo considerável em relação a 2016. No ano passado, a alimentação em casa encareceu 9,4%. Ficarão para trás os sustos com o preço do feijão, que chegou a aumentar num único mês mais de 40%.

O grupo alimentação e bebidas consome um quarto do orçamento das famílias e, por isso, “desenha o perfil da inflação”, afirma Eulina Santos, coordenadora do Sistema de Índice de Preços do IBGE, instituto que calcula o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência para a meta de inflação do governo.

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“Os alimentos têm influência grande. O movimento desses preços vai se traduzir na inflação de fato.”

IPCA abaixo da meta

Esse grupo de produtos é um dos principais motivos para alguns economistas já estarem prevendo IPCA abaixo da meta, como é o caso do Itaú Unibanco. A meta para este ano é de 4,5%. Com o recente recuo da inflação, analistas já avaliam que a meta poderá ser reduzida para 2019.

“Em agosto de 2016, o índice de alimentos acumulado em 12 meses chegou a 16,8%. O clima ruim pressionou os preços de produtos que são muito básicos na cesta de consumo, como arroz, feijão, leite. Mas, desde setembro, os preços dos alimentos vêm caindo. Em janeiro, a alta foi de só 0,17%, praticamente nada”, afirmou Elson Teles, economista do banco.

Por enquanto, tudo joga a favor de as compras de supermercado subirem pouco este ano e até caírem. Teles prevê deflação de alimentos acumulada em 12 meses entre julho e setembro:

“É possível que isso ocorra e derrube o índice cheio. Nesses meses de terreno negativo nos preços dos alimentos, o IPCA (12 meses) deve ficar abaixo de 3,6% em agosto”, diz.

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Fatores

O principal motivo para a queda forte da inflação de alimentos é o clima. O fenômeno El Niño, que provocou chuvas fortes em alguns lugares e seca em outros, fez quebrar safras como de feijão, arroz, soja e milho em 2016. Este ano vai ser diferente.

Não há previsão de El Niño este ano. O desemprego ainda está aí, e a demanda de forma geral está muito menos aquecida. Está limitada. Tudo isso contribui para conter os preços dos alimentos

Eulina SantosCoordenadora do Sistema de Índice de Preços do IBGE

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o IBGE, a cada vez que divulgam a previsão de safra, aumentam o montante do que se espera colher. A safra deve subir 20,3% na última previsão divulgada pelo IBGE na semana passada. Na previsão anterior de dezembro, a alta estimada era de 16,1%. Serão mais 37 milhões de toneladas colhidas em 2017. Assim, a agricultura, além de ajudar na recuperação do PIB, também vai facilitar a queda da inflação.

“Não há previsão de El Niño este ano. O desemprego ainda está aí, e a demanda de forma geral está muito menos aquecida. Está limitada. Tudo isso contribui para conter os preços dos alimentos”, diz Eulina.

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Outra pressão forte é o dólar. Após chegar a mais de R$ 4 no início do ano, fechou a semana passada em R$ 3,11. “O dólar não vai afetar”, diz Luiz Roberto Cunha, professor da PUC especialista em inflação.

E o câmbio não terá efeito mesmo com a valorização esperada da moeda que, pelas previsões do mercado, deve chegar a R$ 3,40 no fim do ano. “Mesmo com cenário de depreciação do câmbio, ele está muito bem comportado. Deve ajudar nesse processo de queda da inflação”, diz Teles, do Itaú.

Safras

Cunha lembra que os choques climáticos fizeram os preços explodirem em 2015 e 2016. Foram anos em que a inflação do grupo alimentos e bebidas ficou em 12,03% e 8,62% respectivamente:

“A alimentação sempre determina a trajetória e intensidade da inflação. Em 2016, houve pressão muito forte dos alimentos. No fim de 2015 também, quando os reajustes foram excepcionalmente pesados.”

Salomão Quadros, superintendente adjunto para inflação da Fundação Getulio Vargas (FGV), já vê essas quedas nos preços dos alimentos no atacado. Ele cita soja, milho e feijão. A primeira teve queda de 4,3% em janeiro. “Já é reflexo da safra [espera-se aumento de 11,8% este ano]. À medida que for colhendo, o preço deve cair mais”, explica.

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No milho, já são dois meses de preços menores. O recuo foi de 5,63% em janeiro e de 4,32% em dezembro. No feijão, foi mais forte ainda. O preço no atacado caiu 17,52% em janeiro.

Comida fora de casa

Até mesmo a alimentação fora de casa vai subir menos. Os outros custos embutidos no serviço, como mão de obra e aluguel, terão reajustes menores este ano. O salário mínimo subiu 6,48% este ano, contra 11,7% em 2016.

“Salário mínimo subindo menos, alimentos em queda e negociação de aluguel mais tranquila são fatores que vão contribuir para a alimentação fora do domicílio ficar mais barata” afirma Cunha.

A economia ainda patinando vai deixar que os preços de serviços e bens duráveis permanecem comportados. Mesmo a tarifa de energia não deve subir com força este ano, estimam os economistas. Eulina e Cunha, porém, lembram que o grupo de alimentos é muito grande e volátil:

“As projeções do mercado estão mais tranquilas, mas os alimentos são sempre uma caixinha de surpresas”, diz Eulina.

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