O afastamento definitivo de Dilma Rousseff da presidência da República confirmou as expectativas do mercado financeiro, que se valeu do impeachment e de um cenário externo mais favorável para puxar uma alta de quase 40% na Bolsa este ano.
Segundo o coordenador do laboratório de finanças do Insper, Michael Viriato, passada a incerteza causada pelo processo, a Bolsa deve se apoiar agora nos sinais de retomada da economia, mas os ganhos devem ser bem mais modestos. Leia os principais trechos da entrevista.
A aprovação do impeachment dará uma nova injeção de otimismo no mercado?
O mercado financeiro não se desloca pelo fato, mas pela expectativa. A aprovação final do processo de impeachment já era esperada e, por isso, estava no preço. A Bolsa não subiu só por causa do cenário interno. Houve melhora no mercado internacional e um aumento do preço de commodities, o que impulsionou o mercado brasileiro e também outros emergentes.
A Bolsa já subiu mais de 30% este ano. Há espaço para mais?
A troca de governo trouxe uma expectativa favorável, mas ainda há toda uma perspectiva de melhora da economia, que não está muito precificada. As empresas cortaram vários empregados e há uma capacidade ociosa grande. Quando a economia engatar uma retomada, há um ambiente favorável para produzir sem gastar muito. Com isso, o lucro das empresas tende a voltar rápido e a Bolsa poderá subir mais.
Esse é um bom momento para se arriscar mais na Bolsa?
Uma boa parte do ganho já aconteceu. Lá em fevereiro, a incerteza – em relação à economia, ao câmbio, à trajetória da dívida brasileira – era tremenda. Quem apostou naquele momento teve um ganho muito favorável. A Bolsa não vai subir outros 30%, mas ainda há espaço para valorização. Hoje, o Ibovespa está perto dos 60 mil pontos; subir mais 10% este ano é algo possível.
Então quem investir na Bolsa agora deve ganhar menos?
Se você está 100% seguro significa que já passou a hora de investir. O prêmio, ou seja, o ganho que você terá com o investimento, é maior quanto maior é a incerteza. Ainda existem incertezas se o governo vai conseguir aprovar as reformas e sair dessa armadilha de inflação alta e recessão. Por isso, há um prêmio de risco.
O que acontece se as reformas não passarem em 2016?
Não existe expectativa de que o governo vai aprovar 100% de todas as propostas. Haverá algumas concessões, claro. O mercado irá precificar, aos poucos, a dificuldade em aprovar as medidas conforme as sinalizações do Congresso. O governo não tem muito tempo para mostrar resultados. Como 2018 é ano eleitoral, ele tem um ano para mostrar alguma coisa. Se o governo Temer não conseguir fazer nada até o fim do ano, a perspectiva muda.
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