Brasília O Banco Central encontrou nas incertezas em relação ao futuro da economia mundial a justificativa para manter o ritmo menor de redução da taxa básica de juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou ontem que a Selic passará de 13% para 12,75% ao ano.
A magnitude do corte é a mesma da reunião anterior e era a aposta majoritária dos analistas do mercado financeiro. No entanto, havia a expectativa de que o ritmo pudesse ser acelerado para estimular o crescimento da economia. No ano passado, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 2,9%.
A decisão foi tomada no momento em que os mercados financeiros analisam se as perdas detonadas pela instabilidade na Ásia foram apenas um susto ou a possibilidade de um real desaquecimento. Mais preocupante, há temores sobre o nível de atividade e inflação nos EUA.
Internamente, o BC anunciou na semana passada a saída de Afonso Santanna Bevilaqua da diretoria de Política Econômica. Ele era visto como um dos mais conservadores. No seu lugar está o diretor de Estudos Especiais, Mario Mesquita, que passa a acumular as duas funções.
Em relação à economia brasileira, não há sinais de que a meta de 4,5% de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) não seja alcançada. No ano passado, os preços subiram 3,14%.
Na ata da última reunião, o Copom previa uma expansão da indústria neste ano beneficiada pelas desonerações de impostos e pelo processo de corte das taxas taxas sete pontos percentuais desde setembro de 2005. O documento reafirmava ainda que os efeitos da redução demoram para causar efeitos na economia.
No entanto, em caso de aceleração da economia, a indústria tem capacidade de aumentar a capacidade de produção para atender ao aumento da demanda. Sem essa disponibilidade de produzir mais, o aumento da atividade econômica poderia gerar pressão sobre os preços. Em setembro de 2004, esse temor fez com que o Copom aumentasse os juros.
Os analistas não apostam em um forte crescimento da economia neste ano. A projeção é que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha um aumento de 3,5%, menor que o previsto pelo BC no "Relatório de Inflação", de 3,8%. Mas a aposta maior ainda é a que consta do Programa para Aceleração do Crescimento (PAC), de 4,5%.
Este é o 14.º corte de juros consecutivo promovido pelo Copom desde setembro de 2005. Desde então, a queda acumulada é de sete pontos porcentuais. Em 2007, a Selic já recuou 0,50 ponto porcentual.
Consenso
A última vez que o Copom entrou em consenso foi na reunião de outubro do ano passado, quando a taxa foi reduzida de 14,75% para 14,25% ao ano. Nas duas últimas reuniões houve divisão pelo mesmo placar de 5 a 3. No encontro de janeiro, três diretores do BC votaram por uma queda de 0,50 ponto porcentual. A maioria, entretanto, optou pelo corte de 0,25 ponto porcentual. A situação foi inversa na reunião de dezembro do ano passado. Três diretores votaram por uma redução de 0,25 ponto porcentual. A maioria acabou preferindo a redução de 0,50 ponto porcentual.
A ata da reunião que começou na terça-feira e terminou ontem será divulgada na quinta-feira da semana que vem.