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Joaquim Silva e Luna

Como foi a gestão de general indicado para Petrobras à frente da usina de Itaipu

General Joaquim Silva e Luna discursa na posse como diretor-geral de Itaipu, em 2019: gestão marcada pela austeridade e por investimentos em infraestrutura.
General Joaquim Silva e Luna discursa na posse como diretor-geral de Itaipu, em 2019: gestão marcada pela austeridade e por investimentos em infraestrutura. (Foto: Alan Santos/PR)

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Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para comandar a Petrobras, o general de Exército da reserva Joaquim Silva e Luna vai deixar a direção-geral de Itaipu após uma gestão marcada por medidas austeras de corte de custos e de investimento bilionário em obras estruturantes na região oeste do Paraná.

Aos 71 anos, o general acaba de completar dois anos à frente da usina. Nomeado no dia 21 de fevereiro de 2019, teve como uma de suas primeiras ações centralizar em Foz do Iguaçu todas as atividades administrativas da hidrelétrica, que até então mantinha um escritório com 115 funcionários em Curitiba. Desses, 97 foram transferidos para a sede e 18 aderiram a um programa de demissão voluntária – entre eles, Rosângela da Silva, a Janja, namorada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Áreas que tinham unidades nas duas cidades, como tesouraria, compras, recursos humanos e serviços gerais, foram unificadas na sede da usina. Na própria diretoria-geral, cinco superintendências e duas divisões foram extintas. A economia com o fechamento da unidade na capital paranaense deve chegar a R$ 7 milhões até 2023, segundo cálculos da binacional. No fim de 2020, a mesma medida foi adotada com o escritório de representação em Brasília.

Em outra frente, Silva e Luna mandou revisar todos os projetos, convênios, ações e patrocínios da hidrelétrica. “O principal critério foi verificar se havia aderência à missão da Itaipu. Se não havia, cancelamos; se havia, verificamos se podíamos reduzir o escopo”, disse o general em entrevista recente à Gazeta do Povo. Segundo ele, com a medida, apenas no primeiro ano de gestão foram economizados cerca de R$ 600 milhões.

Na lista de convênios cancelados, estava, por exemplo, o patrocínio ao VII Fórum Jurídico de Lisboa, no valor de R$ 1.236.850. O evento, realizado em abril de 2019 em Portugal, teve entre seus organizadores a Fundação Getulio Vargas (FGV) e o IDP (então Instituto Brasiliense de Direito Público, hoje Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa), que tem entre os sócios-fundadores o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.

A parceria entre as instituições previa um total de R$ 3.369.225 desembolsados por Itaipu e incluía patrocínio a outros eventos, com o II Seminário Direito e Economia em Nova York e o Seminário sobre Visões Comparadas: Brasil e França, em Paris. Entre 2015 e 2018 outros 11 eventos de Direito da FGV e do IDP haviam sido patrocinados por Itaipu, um investimento de R$ 2,41 milhões em valores nominais.

Além da FGV e do IDP, entidades como a Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e o Instituto Justiça e Cidadania (IJC) também tiveram convênios com Itaipu cancelados logo nos primeiros meses da gestão de Silva e Luna.

A mesma alta do dólar que pesou nos reajustes de preços de combustíveis feitos pela Petrobras – que pratica a paridade internacional – ajudou a construir um cenário favorável para Silva e Luna em Itaipu. Por ser binacional, fruto de tratado assinado com o Paraguai, a usina tem orçamento em dólar, o que rendeu caixa com a valorização de cerca de 45% da moeda norte-americana nesses dois anos.

No fim de 2019, em uma negociação da geradora com sindicatos de trabalhadores, Silva e Luna concedeu a todos os funcionários um bônus equivalente a 2,8 salários como compensação por possíveis perdas decorrentes de acordo coletivo. O próprio general, que, como diretor, tinha salário de R$ 79 mil à época, foi beneficiado com um pagamento extra de R$ 221,2 mil.

Sob Silva e Luna, investimento de Itaipu em obras soma R$ 2,5 bilhões

O redirecionamento de recursos permitiu um programa de investimentos em obras de infraestrutura para a região que já soma R$ 2,5 bilhões. A menina dos olhos é a construção da Ponte da Integração, segunda ligação entre Foz do Iguaçu e o Paraguai, que deve ser concluída em 2022. O projeto, uma demanda de décadas da região, receberá um total de R$ 324 milhões da empresa.

A lista de investimentos inclui ainda obras de ampliação da pista do Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu (R$ 55 milhões), duplicação de estradas da região, como a Rodovia das Cataratas (R$ 136 milhões), e até reforma de hospital e construção de um mercado municipal na cidade onde a hidrelétrica está instalada.

A nova política da empresa agradou o governo do Paraná. Após o anúncio da indicação de Silva e Luna para o comando da Petrobras, o governador do estado, Carlos Massa Ratinho Júnior (PSD), elogiou a gestão do general. “Não tenho dúvidas que ele [Silva e Luna] vai transformar a empresa e revolucionar a gestão da Petrobras”, escreveu em uma rede social. “Sua gestão foi marcada com recordes de investimentos, geração de energia, obras de infraestrutura e gestão eficiente e moderna.”

Na próxima quinta-feira (25) está prevista a quinta visita oficial do presidente Jair Bolsonaro ao município para lançamento do projeto de revitalização da linha de Furnas, que leva energia de Itaipu para as regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. O projeto receberá cerca de R$ 1 bilhão em recursos da usina ao longo de 60 meses.

General enfrentou crise em acordo com Paraguai

Ainda no primeiro ano de sua gestão, o diretor de Itaipu integrou as negociações sobre um acordo entre a brasileira Eletrobras e a paraguaia Ande (Administração Nacional de Eletricidade), que gerou uma crise diplomática e quase levou ao impeachment do presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez.

Em uma primeira versão do acordo, assinada em maio de 2019, o Paraguai aumentava a previsão de compra da chamada energia garantida, que é mais cara, reduzindo o consumo da energia excedente, mais barata. A oposição do país criticou duramente a negociação, levando o então presidente da Ande, Pedro Ferreira, e o ministro das Relações Exteriores paraguaio, Luis Castiglioni, a renunciarem. Em meio à ameaça de um processo de impeachment de Abdo Benítez, o acordo acabou anulado em agosto.

Em meio ao impasse, Silva e Luna foi convocado pelo próprio Bolsonaro para resolver a questão. A solução para o imbróglio veio em dezembro, com uma previsão de aumento gradual de compra de energia garantida pelo Paraguai, para até 42,5% em 2022. “Depois de me entender com o lado paraguaio, tive que convencer os brasileiros também, o que foi ainda mais difícil”, disse o general à época.

Entidade binacional, a usina de Itaipu foi criada e é regida, em igualdade de direitos e obrigações, por um tratado assinado, em 1973, por Brasil e Paraguai. Com 2,76 bilhões de megawatts-hora acumulados desde 1984, a hidrelétrica é considerada liderança mundial em produção de energia.

Ex-ministro da Defesa no governo de Michel Temer (MDB), Silva e Luna foi o primeiro diretor-geral de Itaipu com formação militar desde 1990, quando terminou a gestão do também general e ex-governador do Paraná Ney Braga, ocupante do cargo a partir de 1985. Para seu lugar, Bolsonaro indicou outro general de Exército da reserva: João Francisco Ferreira.

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