Mesmo em meio à pior crise hídrica em 91 anos, que levou a uma redução em sua geração total de energia, a usina hidrelétrica de Itaipu vem alcançando recordes de produtividade em 2021. Em outras palavras, está conseguindo aproveitar melhor a água que move as turbinas, gerando mais megawatts (MW) a cada metro cúbico de "combustível".
Com isso, a binacional dá sequência a bons resultados que se iniciaram em anos anteriores, também marcados pela escassez de água no país, ainda que em grau menos crítico.
Até o mês de outubro, o índice de produtividade de Itaipu em 2021 foi de 1,0977 megawatt médio por metro cúbico por segundo (MWméd/m³/s), o melhor registrado pela usina em seus 37 anos de produção comercial de energia, iniciados em maio de 1984. Isolado, o mês de julho também teve recorde de produtividade mensal, com geração de 1,1221 megawatt por metro cúbico de água que passou a cada segundo pelas turbinas. O cálculo é uma relação direta – divide-se o total gerado pelo volume de água consumido.
Mas como essa economia de água acontece? A lógica é semelhante à de um carro, explica o superintendente de operação de Itaipu, José Benedito Mota Junior.
"Se a gente dirige um veículo a uma velocidade muito alta, o consumo é alto. A mesma coisa ocorre se você anda muito devagar. Mas há uma faixa de velocidade, de marcha utilizada, em que o consumo de combustível é o melhor possível para o rendimento do carro. Basicamente é isso que se faz aqui: procuramos colocar as unidades geradoras produzindo um valor de energia tal que, na faixa de valor que ela está produzindo, o consumo de água é o menor possível", resume.
Produtividade de Itaipu bate recorde há três anos
Os resultados desse monitoramento ativo têm melhorado desde 2019. "São os nossos melhores anos em produtividade", destaca o superintendente. Ao menos enquanto 2021 não termina, o recorde anual foi estabelecido em 2020, com produtividade de 1,0870 MWmed/m3/s, e superou a marca do ano anterior, quando o índice foi de 1,0794 MWmed/m3/s.
O aumento da eficiência ajuda a compensar, em parte, a escassez de água dos últimos anos. A falta de chuvas obrigou a usina a reduzir a geração total de energia, em linha com as decisões do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que determinou o acionamento de mais termelétricas para poupar reservatórios de hidrelétricas.
A produção anual de Itaipu está em queda há cinco anos, desde o recorde histórico de 2016, quando a hidrelétrica gerou em média 10.372 MWmed para o território brasileiro. A produção deste ano deve ser a mais baixa desde pelo menos 1999, quando teve início a série histórica do ONS. De janeiro até 9 de dezembro, a hidrelétrica gerou uma média de 5.813 MW para o Sistema Interligado Nacional (SIN).
O avanço da produtividade nos últimos anos, de acordo com Mota, é reflexo do trabalho executado de modo conjunto entre as áreas de operação e manutenção da usina, para manter e ter disponível cada uma das vinte unidades geradoras da usina operando no seu melhor ponto possível, sempre dentro do que é solicitado pelo ONS e pela ANDE (estatal paraguaia de administração de eletricidade).
"Tudo é acompanhado tanto pelo pessoal que programa a geração do dia seguinte [definida pelo ONS e pela ANDE] quanto pelo pessoal de tempo real, nos turnos de operação em si, de olho nesse efeito para garantir que as máquinas fiquem na faixa de produção da maior quantidade de energia com o menor consumo. A ação é sempre para adequar a faixa e garantir que ela permaneça [operando de modo otimizado]".
As correções pontuais durante a execução do programa de geração são necessárias uma vez que a produtividade pode sofrer com outras variáveis que devem ser levadas em consideração, como a queda de água no momento, a diferença entre o nível de montante (antes da usina) e o nível de jusante (depois da usina) e o número de unidades geradoras em operação.
Segundo o superintendente de operação, o desafio diário é chegar a um cenário ideal de manutenção dos equipamentos no seu ponto ótimo de economia de água de modo quase permanente.
O que é difícil devido às alterações incessantes nas variáveis de operação e ao fato de Itaipu estar sujeita a solicitações imprevistas de demanda por causa de eventuais ocorrências em outra parte do Sistema Interligado Nacional e do sistema paraguaio que precisem ser cobertas com a sua geração.
Questionando sobre até onde Itaipu ainda pode avançar, o superintendente admite: "É difícil mensurar quanto as máquinas poderiam aumentar a produtividade ainda, mas seguimos batendo recordes", completa.
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