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Cultivo

Como o Canadá dominou o fornecimento global de ginseng

Potes com ginseng em uma loja da Chinatown de Toronto, a duas horas de  Delhi. | Cole Burston/Bloomberg
Potes com ginseng em uma loja da Chinatown de Toronto, a duas horas de Delhi. (Foto: Cole Burston/Bloomberg)

Em uma nublada manhã de primavera em uma pequena cidade da zona rural de Ontario, um salão de eventos enche-se de produtores rurais que dominam cultivo de uma das culturas mais valiosos do mundo: ginseng.

Em um mar de bonés de baseball, jaquetas de camuflagem e jeans, mais de 100 produtores vieram para o encontro anual de sua associação. A reunião em Delhi, uma cidade de quatro mil habitantes, conta com o maior comparecimento em muito tempo. Isso porque, após anos de um crescimento estratosférico, um mistério envolveu a indústria – seu maior consumidor desapareceu.

Produtores conversam em voz baixa no fundo da sala a respeito do que aconteceu com Hang Fat, a empresa de Hong Kong que tinha se tornado a maior compradora de ginseng ao longo dos últimos anos antes de repentinamente parar de fazer os pagamentos.

“Há tensão e há ceticismo, e obviamente há alguma preocupação na comunidade de produtores agrícolas”, disse Larry Sitko, que cultiva ginseng desde que 1991, quando começou com apenas um acre. “A indústria do ginseng não vai desaparecer, mas pode prejudicar uma porção de produtores que não receberam seus pagamentos.”

Como um condado rural no Canadá se tornou o centro de um negócio que vale meio bilhão de dólares por ano, ligando o destino de centenas de famílias a uma nodosa raiz apreciada na China como medicamento e alimento saudável?

Século 18

A história começa mais de três séculos atrás, com os primeiros habitantes do Canadá, um padre jesuíta do século 18 e algumas das primeiras transações comerciais entre o Canadá e a China.

O povo iroquois, nativo do leste do Canadá, foi o primeiro consumidor do ginseng na América do Norte de que se tem notícia, coletando a raiz selvagem para uso em cerimônias e como medicamento para aliviar a febre, amenizar sinusites e reduzir inflamação. Nos Estados Unidos, o povo cherokee acreditava que o ginseng “podia se fazer invisível para aqueles indignos de coletá-lo.”

Foi invisível para todos os demais até que o padre jesuíta Joseph-François Lafitau começou a sair à caça da raiz em 1715. Ciente de seu valor para os chineses, ele alertou comerciantes a para a presença da raiz, os quais logo a fizeram um dos primeiros e maiores produtos de exportação para a China. Não durou muito tempo. Por volta de 1750, o comércio entrou em colapso devido à extração em excesso e ao fracasso dos comerciantes em secarem a raiz da maneira apropriada, o que resultava em um produto de qualidade inferior.

No final do século XIX, o ginseng estava sendo cultivado em Ontario em pequenas quantidades, mas os produtores da província estavam muito mais interessados em outra cultura cuja demanda estava em ascensão ao redor do mundo: tabaco. Não foi até os anos 80, quando restrições governamentais sobre a indústria tabagista e a maior preocupação com a saúde entre os consumidores reduziram a demanda, que produtores começaram a procurar por uma alternativa que poderia prosperar ali e oferecer os mesmos rendimentos altos.

Daí em diante, o ginseng explodiu. Produtores de Ontario devem cultivar o número recorde de 8.277 acres (3.350 hectares) de ginseng este ano, de acordo com a associação do ramo, quase o dobro da extensão dedicada à raiz em 2001. A raiz contribui com mais de 600 milhões de dólares canadenses (472 milhões de dólares) anualmente para a economia, a associação da indústria afirmou em sua reunião.

Raiz amarela

Trafegando nas estradas rurais que se afastam da Rodovia 403, que leva a Delhi, a duas horas de Toronto, você passa por entre corredores de montes cobertos de feno que abrigam a raiz amarela em crescimento. Entre eles há postes de um metro de altura nos quais se prendem lonas pretas que serão estendidas para fornecer sombra durante o verão, quando os montes irrompem de folhagem verde e frutas vermelhas.

É o sangue que dá vida à região e os produtores estão cautelosos a respeito de dar muita informação, que possa dar pistas sobre a colheita do ano passado ou suas finanças. Na reunião anual, poucos dos que compareceram formularam perguntas abertamente. Ao invés disso, eles se amontoaram em grupos durante o intervalo, na esperança de obter uma melhor compreensão do que aconteceu com o comprador de Hong Kong, o que acontecerá com os preços e quem irá comprar suas colheitas.

“Há muita confusão”, disse Henry Kukielka de dentro de seu trator em sua propriedade na cidade vizinha de Vanessa. Ele é produtor rural há mais de três décadas e cultiva ginseng, vegetais e milho. “Você tem de atravessar a tempestade. Somos sobreviventes aqui.”

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