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Tensão no Leste Europeu

Petróleo, inflação, juros: como uma guerra na Ucrânia pode afetar a economia brasileira

Rússia Ucrânia
Parte das tropas russas se retirou da área de treinamento na região de Voronezh, na fronteira com a Ucrânia (Foto: EFE)

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Uma invasão russa à Ucrânia poderia criar mais um complicador à situação da economia brasileira, marcada por inflação alta, juros elevados e baixas perspectivas de crescimento. O principal canal de contágio, segundo o economista-chefe da Kilima Asset, Luciano Costa, seria o preço do petróleo, que estava nesta terça-feira (15) a US$ 92,90 por barril do tipo brent e a US$ 91,50 por barril do tipo WTI.

O conflito poderia levar a matéria-prima a US$ 115, segundo analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, pressionando ainda mais o preço da gasolina, que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), teve um aumento de 42,71% nos 12 meses encerrados em janeiro. No mesmo período, o diesel aumentou 45,72%.

“Isto levaria a mais inflação e forçaria aumentos adicionais na taxa básica de juro”, diz o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira. Atualmente, a Selic está em 10,75%. A projeção do último relatório Focus do Banco Central (BC), divulgada nesta segunda-feira (14), sinaliza para uma taxa de 12,25% ao ano.

O sócio da Monte Bravo Investimentos, Rodrigo Franchini, aponta que os emergentes teriam de “subir o tom” para se manterem atraentes e combater a inflação. Outro impacto seria a valorização do dólar frente a outras moedas.

Este cenário favoreceria um novo ciclo de rebaixamento nas expectativas de crescimento da economia brasileira. A mediana das projeções para o crescimento do PIB em 2022 no relatório Focus está, atualmente, em 0,3%.

Alívio momentâneo

Um alívio veio no início da manhã desta terça, com o anúncio de retirada de uma fração das tropas russas que estão estacionadas na fronteira entre os dois países.  A divulgação da saída de cerca de 10 mil soldados de uma força estimada em 130 mil, ocorre em meio a uma nova rodada de diplomacia com o objetivo de neutralizar a crise.

O primeiro-ministro alemão Olaf Scholz reuniu-se na segunda com o presidente ucraniano, Volodymiyr Zelenskly, e nesta terça, com o russo, Vladimir Putin, para buscar uma saída para a crise. A principal preocupação dos alemães é com o fornecimento de gás à maior economia da Europa.

A medida anunciada pela Rússia foi recebida com um misto de ânimo e ceticismo. “Isto dá um alívio no curto prazo”, diz Mehanna Mehanna, sócio da Phi Investimentos. O VIX – conhecido no mercado financeiro internacional como o índice do medo, calculado pela Chicago Board Options Exchange (CBOE) e que mede a volatilidade de ações listadas na bolsa de Nova York – fechou nesta terça em baixa, com queda de 7% em relação ao fechamento de segunda.

Segundo a Guide Investimentos, mesmo na ausência de indícios de que a situação está resolvida, o movimento vem como uma luz no fim do túnel e já é o suficiente para dar sustento ao movimento de redução do prêmio de risco nos mercados.

Nesta terça, eles iniciaram a sessão com alta das bolsas e dólar mais fraco, além de uma queda acentuada dos preços do petróleo. “Naturalmente, a confirmação de que a Rússia irá retirar suas forças por completo será providencial para destravar mais valor”, aponta a corretora em relatório.

Outro aspecto relevante, segundo Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, foram as declarações dadas por Scholz, que se reuniu na segunda (14) com o presidente ucraniano. O chanceler alemão afirmou que a Ucrânia fazer parte da Otan é algo secundário no momento e que está fora de questão, uma ampla demanda russa.

O movimento russo, de acordo com a XP Investimentos, traz alívio à região, mas, mesmo assim, os Estados Unidos ordenaram o fechamento de sua embaixada em Kiev, capital da Ucrânia, e a realocação dos funcionários em Lviv, no Oeste do país.

Os motivos da tensão na Ucrânia

Um dos principais motivos que contribui para amplificar as dimensões da tensão entre a Rússia e a Ucrânia é a questão energética: a Rússia é o terceiro maior produtor mundial de petróleo e o segundo de gás natural, tendo a Europa como um de seus principais clientes.

Segundo o analista Alexei Kuptsikevich, da corretora internacional de câmbio FXPro, os acontecimentos das últimas semanas têm devolvido o interesse em ativos que se beneficiaram das tensões em décadas anteriores, com o ouro subindo como seguro contra a desestabilização das moedas e o petróleo aumentando diante dos temores de um aumento na demanda e a escassez de oferta se sanções limitarem o fornecimento da Rússia.

“Curiosamente, o Ocidente está tratando de equilibrar as restrições em relação às sanções sobre o petróleo, à medida que surgem informações alentadoras de negociações com o Irã [o oitavo maior produtor de petróleo e o terceiro fornecedor de gás natural].”

O analista afirma que o petróleo está muito caro e sobe aos níveis atuais mais rápido do que a economia pode permitir. “Os temores sobre a estabilidade da oferta futura tem superado, até agora, qualquer aspecto negativo. Mas é necessário centrar-se nas influências geopolíticas a médio e longo parazo. “E com isso em mente, o preço do petróleo parece insustentavelmente elevado, vulnerável a uma correção negativa, uma vez que se assente o pó dos equipamentos militares.”

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