Shoppings e ruas mais movimentados, mas com um consumidor cauteloso por causa do aumento na inflação e dos juros. Este é o cenário desenhado por analistas ouvidos pela Gazeta do Povo para o fim de ano. E essa confiança menor pode se refletir em uma ceia mais simples. O desafio, entretanto, virá com o ano novo: uma economia mais retraída. A variante ômicron da Covid-19 também causa preocupação.
A Confederação Nacional do Comércio (CNC) projeta um crescimento de 3,8% no volume de vendas de fim de ano, em relação à mesma época de 2020, favorecido pelo aumento na mobilidade, com o consumidor mais presente nas lojas e nos shopping centers.
Fábio Bentes, economista da entidade, avalia que o cenário poderia estar melhor se não fosse a inflação em alta – ela atingiu 10,67% nos 12 meses encerrados em outubro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – e a tendência de elevação dos juros, motivada pela alta na taxa Selic. “A inflação está no calcanhar das pessoas, reduzindo o potencial de consumo e afetando os custos do comércio”, complementa.
Ele lembra que, mesmo com a inflação controlada e juros baixos, o fim de ano de 2020 foi decepcionante. “Era o cenário inverso que estamos vivendo hoje”, ressalta o economista. No ano passado, as vendas no varejo em dezembro cresceram 1,3% em comparação com o mesmo mês do ano anterior, de acordo com o IBGE.
Natal mais tradicional
Luiz Marinho, sócio-diretor da consultoria GS&Malls, também vê um cenário positivo para o varejo neste fim de ano, diante da queda de casos de Covid-19 e o avanço na vacinação. “Vamos ter um fluxo forte”, ressalta o especialista. Mas o consumidor deve ir com cautela, diante do cenário econômico.
Ele não acredita que o consumo da classe alta vá ser afetado. “Há uma demanda reprimida no consumo de luxo e por viagens”, diz. Mas o cenário pode ser diferente para as classes média e baixa. “A primeira vai avaliar bem a situação, enquanto que, para a segunda, a tendência é de que seja um fim de ano de lembrancinhas.”
Pedro Serra, gerente de research da Ativa Investimentos, aposta em um Natal mais tradicional, com o brasileiro indo às compras e enchendo os shoppings. “Estamos vindo de uma base mais fraca no ano passado”, explica.
Mesmo com o aumento nos preços e nos juros, ele não acredita que este Natal será das lembrancinhas. Segundo ele, as pessoas estão voltando a eventos sociais, devem viajar mais e valorizar sua imagem e bem-estar. Mas não se esperam grandes gastos, uma vez que a inflação está corroendo o poder de compra do consumidor, que também está menos confiante.
Ceias de fim de ano mais caras
As ceias de Natal e de réveillon também devem ser afetadas pelo aumento da inflação. “Com a alta nos preços e sem estímulos, como o auxílio emergencial, haverá uma procura maior por proteínas mais acessíveis, como frango, aves comuns e cortes suínos mais baratos, em detrimento das típicas desta época, como aves especiais e lombo”, diz Bruno Machado, gerente de contas da divisão worldwide da Kantar.
Pesquisa feita pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que os produtos da ceia de Natal estão até 27% mais caros. O item que mais subiu entre dezembro de 2020 e novembro de 2021 foi o frango, com uma alta de 27,34%. Os ovos ficaram 20,05% mais caros. A alta nesses produtos resulta de uma combinação de elevação nos custos dos produtores, que estão pagando mais por energia, combustíveis e rações, até a demanda aquecida por proteína animal.
Machado diz que a tendência será uma mesa menos diversificada. Um dos itens que pode ganhar espaço são os peixes, que aumentaram bem menos do que a inflação. A alta, nos 12 meses encerrados em outubro, foi de 4,46%, segundo o IBGE.
Apesar de uma ceia menos farta em carnes, Machado acredita que vai haver mais festa em comparação ao ano passado. “Mas não vai ser uma recuperação total.” Segundo a Kantar, 81% dos brasileiros fizeram algum tipo de comemoração no fim de 2020. Entre os que não fizeram, metade foi por causa da pandemia da Covid-19.
Preocupação com 2022
Passado o Natal e o réveillon, o cenário começa a ficar mais preocupante, apontam os especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo. Segundo Marinho, da GS&Malls, 2022 é uma grande interrogação, com um consumidor mais cauteloso e menos confiante. “O bolso mais vazio, a insegurança quanto ao cenário econômico e a antecipação do cenário eleitoral acabam por afetar o consumo.”
Serra, da Ativa Investimentos, tem uma visão parecida. “Há muitas dúvidas em relação a 2022.” Ele crê que o Banco Central não está disposto a deixar a inflação fora de controle, e para isso, deve aumentar ainda mais a Selic. As projeções de mercado sinalizam para uma taxa entre 11% e 12%. “E com isso, o varejo vai ser impactado.”
Bolsonaro “planejou, dirigiu e executou” atos para consumar golpe de Estado, diz PF
PF acusa Braga Netto de pressionar comandantes sobre suposta tentativa de golpe
Governadores do Sul e Sudeste apostam contra PEC de Lula para segurança ao formalizar Cosud
Congresso segue com o poder nas emendas parlamentares; ouça o podcast
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast