Estação de gás natural que serve uma cervejaria, em Ponta Grossa: estatal quer entrar em leilão de áreas para exploração| Foto: Josué Teixeira / Gazeta do Povo

Primeiro passo

Estudos para realizar as licitações estão prontos, diz ANP

O potencial com a exploração do gás natural é enorme. Hoje 96% das bacias ainda não foram exploradas. Estudos geológicos da ANP indicam grandes reservatórios em seis bacias, do Norte ao Sul. O diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP e ex-diretor da Petrobras Ildo Sauer vai mais longe: para ele, o Brasil está à beira de uma revolução energética.

Segundo o especialista, estimativas do Departamento de Energia dos EUA apontam que o Brasil pode ter reservas de 7 trilhões de metros cúbicos, contra os 395 bilhões de metros cúbicos atuais. "É uma verdadeira revolução. Com o desenvolvimento de tecnologia na produção, haverá redução dos custos e menores impactos ambientais. Mas o governo tem que traçar uma política para isso", destaca Sauer.

Os recursos da ANP para os estudos das bacias vêm do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para evitar que esse dinheiro seja contingenciado pelo governo. Nos últimos quatro anos, foram destinados R$ 500 milhões. A agência diz que já está com todos os estudos prontos para realizar a 11ª rodada de licitações, em áreas acima do Rio Grande do Norte. Só falta a presidente Dilma Rousseff autorizar. (JPS com AG)

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País viverá era do combustível em cinco anos

Agência O Globo

Visto como a nova fronteira energética do país, o gás natural pode colocar o Brasil em um novo patamar no cenário internacional. Até então associado à exploração de petróleo no mar, o gás virou tema de estudos profundos, feitos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) e por empresas, que indicam enorme potencial em bacias terrestres. Para especialistas, o país tem reservas gigantescas de gás natural do porte das de petróleo no pré-sal da Bacia de Santos. Com isso, a oferta ao mercado deve aumentar 360%, passando dos atuais 65 milhões para 300 milhões de metros cúbicos por dia entre 2025 e 2027. Para 2020, a Petrobras, principal produtor, trabalha com um cenário de 200 milhões de metros cúbicos por dia.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, não esconde seu entusiasmo em relação ao potencial de reservas de gás natural no país. Para o ministro, em cinco anos, o Brasil poderá se tornar autossuficiente em gás. "Dentro de cinco anos podemos ser autossuficientes, quando a produção deverá estar na faixa dos 170 milhões de metros cúbicos por dia. O mundo e o Brasil vão viver a ‘era do ouro para o gás’", afirma o ministro.

Entretanto, segundo Lobão, o país não vai deixar de importar o gás da Bolívia. "Não vamos deixar de importar. Temos o gasoduto que custou caro. O gás boliviano continuará sendo importante como segurança adicional, além do que a Bolívia é um país amigo. Temos que ajudar", ressalta.

É tanto gás que em áreas como nas bacias do Parecis, em Mato Grosso, e do São Francisco, em Minas Gerais, as reservas chegam a borbulhar, num fenômeno denominado exsudações. Em certos pontos, como na pequena Buritizeiro (MG), na água que jorra do solo, com apenas um fósforo, se acende uma chama intermitente. "No rio Teles Pires, em Mato Grosso, há 800 metros de rio borbulhando gás e, em certos pontos, se pode até gravar o som. Podemos deixar um Brasil desses para trás?", pergunta Magda Chambriard, diretora-geral da ANP.

Mas, para aproveitar todo esse potencial, é preciso que o governo defina uma nova política para o uso do gás e que a ANP, que já investe R$ 120 milhões por ano no estudo das bacias sedimentares, volte a fazer as rodadas de licitações, paradas desde 2008, com a descoberta do pré-sal.

Para atender a necessidade de ter mais gás natural e por menor valor, a Companhia Paranaense de Gás (Compagas), que hoje apenas distribui o recurso no Paraná, deve entrar no setor de exploração e produção do combustível. O plano é atuar em pequenos campos para ganhar experiência e na sequência participar da exploração de grandes reservas no estado, caso se confirmem os indícios da existência de novos campos.

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A Agência Nacional do Petróleo (ANP) estuda bacias de Norte a Sul do Brasil, que podem elevar a oferta ao mercado em 360%, o que, segundo o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, faria o país viver a "era do ouro para o gás" (leia mais nesta página). Na Bacia Sedimentar do Paraná – formação geológica que abrange quase todo o Sul do país e parte das regiões Sudeste e Centro-Oeste – há potencial para geração e acumulação de gás natural, mas a área é praticamente inexplorada e pouco conhecida.

A bacia será objeto de um levantamento magnetotelúrico (que analisa o tipo de rocha e sua permeabilidade) encomendado pela ANP. Uma empresa está sendo contratada para projeto e a coleta de dados deve começar em setembro. A ANP não informa em que parte da bacia será feito o estudo. Para a área do Paraná, em especial, um segundo levantamento sísmico está programado e deve ser licitado em setembro.

De olho neste potencial, a Compagas pretende participar da licitação do campo de Barra Bonita, em Pitanga, no Centro do estado, onde já é comprovada a existência de uma reserva de pelo menos 500 milhões de metros cúbicos – a área é considerada marginal para exploração. Por essa razão, a Petrobras, que detinha a permissão de explorar a área, devolveu a concessão para a ANP, por não tê-la explorado. Não há previsão para a licitação ocorrer.

A Compagas, que no ano passado teve faturamento de R$ 350 milhões, planeja investir entre US$ 18 milhões e US$ 20 milhões (cerca de R$ 38 milhões) para a exploração da área, que atenderia as regiões de Guarapuava e Maringá. O valor não leva em conta o lance da licitação. "A Compagas pretende disputar o direito de explorar o campo, que, apesar de pequeno, nos faria aprender com a operação, a ter experiência para atuar em outras áreas", salienta o presidente da empresa, Luciano Pizzatto.

Pelo fato de a área ser pequena, Pizzatto acredita que o campo de Barra Bonita não deva atrair o interesse de grandes exploradores. "Entretanto, pequenos exploradores, que hoje atuam no Nordeste, podem querer participar. Mas como a Compagas tem a vantagem de ter o mercado próximo, talvez a disputa não fique tão acirrada e os lances não fiquem tão altos", pondera. O presidente da companhia afirma que a empresa não tem previsão para os lances.

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A exploração viria em boa hora. Para 2013 e 2014, a companhia tem contratos fechados na ordem de R$ 800 milhões. O faturamento poderia chegar a R$ 1,5 bilhão, mas a empresa não pode se comprometer por falta de garantia de suprimento. "Temos condições de operar on shore [na terra] e não se exclui a possibilidade de participarmos de outras concorrências para novas reservas no estado. A Compagas tem o benefício do monopólio, mas, como contrapartida, deve buscar o atendimento de todo o estado. Hoje estamos limitados à Grande Curitiba e a Ponta Grossa, o que impede o surgimento de novos polos, mas isso poderia mudar com a exploração", explica Pizzatto.

7 trilhões de metros cúbicos é a estimativa do total de reservas de gás natural no Brasil, segundo o Departamento de Energia dos EUA – volume bem maior que os 395 bilhões de metros cúbicos constatados atualmente.