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Seis meses de manifestações

Companhias aéreas de Hong Kong cancelam voos e amargam perdas em meio a protestos

Aeronaves da companhias aéreas Cathay e Hong Kong Dragon no Aeroporto Internacional de Hong Kong. (Foto: Paul Yeung/Bloomberg)

As companhias aéreas de Hong Kong enfrentam a perspectiva de mais cortes de empregos e até falências por causa da continuidade dos protestos contra Pequim, que freiam a chegada de turistas à cidade, aumentando a pressão sobre um setor que já enfrenta ventos contrários no mundo inteiro. Seis meses de manifestações anti-Pequim fizeram com que o tráfego de passageiros caísse em Hong Kong, produzindo uma cascata de avisos de lucro, cancelamentos de voos e cortes de custos nas companhias aéreas.

As consequências se intensificaram nesta semana, com a líder de mercado Cathay Pacific Airways relatando a quarta queda mensal direta no tráfego de passageiros; também em apuros, a Hong Kong Airlines teve sete aviões apreendidos pela Autoridade Aeroportuária depois que a transportadora atrasou pagamentos e as coisas podem piorar.

Confiscar aeronaves é frequentemente um prelúdio para o colapso operacional, de acordo com Paul Yong, analista do DBS Group Holdings. Enquanto isso, Cathay pode ter que cortar até mil empregos, pois a agitação violenta impede a chegada de visitantes de todo o mundo, de acordo com a empresa de consultoria de aviação Endau Analytics.

A crise em Hong Kong (centro mais movimentado da Ásia para o tráfego internacional) é outro vento forte para uma indústria aérea global cujos lucros já foram atingidos pela desaceleração do crescimento econômico e das guerras comerciais. Embora a Cathay e suas unidades (Cathay Dragon e Hong Kong Express) reduzam voos para lidar com a queda nos passageiros, uma continuidade de agitações pode exigir respostas mais drásticas. "Eles terão que tomar medidas de precaução, e uma delas seria abrir mão de pessoal", disse Shukor Yusof, fundador da Endau Analytics, "não há uma resolução clara para o que está acontecendo lá".

Prejuízos acumulados

As visitas decrescentes a Hong Kong, com chegadas que caíram 44% em outubro (a maior redução em mais de 15 anos) tiveram um efeito em cadeia. Uma associação local alertou que as perdas de empregos nos varejistas podem alcançar recordes. O turismo em queda também atingiu hotéis e a Disneyland. Apesar do cenário geral de perdas, o mercado de aviação se destaca porque Hong Kong continua sendo o destino de viagem mais popular do mundo para visitantes internacionais, apesar das tensões, de acordo com a Euromonitor International.

No mês passado, a Cathay alertou que seus resultados do segundo semestre serão significativamente menores na comparação com o primeiro e que a situação em Hong Kong foi incrivelmente desafiadora. Andrew Lee, analista da Jefferies Hong Kong, escreveu recentemente que a empresa pode relatar uma perda equivalente a US$ 124 milhões no segundo semestre por causa da fraca demanda de viagens. A Hong Kong Airlines, que afirmou que suas operações permanecem normais mesmo após a apreensão das aeronaves, foi empurrada para uma situação limite este mês, quando reguladores ameaçaram revogar sua licença se a companhia não levantasse mais dinheiro.

Procurado para comentar possíveis cortes de empregos, um representante da Cathay se referiu a declarações anteriores sobre a empresa de congelamento de contratações. Já a Hong Kong Airlines disse que não comenta rumores de mercado e que a empresa está opera em condições de normalidade.

Não há perspectiva de resolução para os protestos que dominam a rotina local desde junho, com reflexos na economia da cidade e prejuízos para negócios como o das aéreas. O Departamento de Aviação Civil de Hong Kong disse que as chegadas de passageiros ao aeroporto caíram 17% em relação ao ano anterior, para 2,49 milhões em novembro - quarto registro consecutivo no movimento mensal.

A maior preocupação para Cathay é que a queda mais acentuada é de tráfego do continente, principal fonte de visitantes da cidade. A empresa gera quase metade de sua receita com operações entre Hong Kong e China. A companhia teve ainda que lidar com uma reação no início dos protestos, depois que alguns colaboradores participaram de manifestações, provocando repreensão de Pequim e boicotes de funcionários de empresas estatais. A aérea também recebeu críticas dos manifestantes, que a acusaram de se submeter ao governo chinês, depois de alertar os funcionários sobre o envolvimento em comícios. Como consequência, o CEO renunciou.

A situação é ainda pior na Hong Kong Airlines, uma vez que já estava enfrentando uma crise de liquidez antes mesmo dos protestos, informou o CAPA Center for Aviation em um relatório recente.

Outras companhias aéreas que voam para a cidade também cortaram capacidade e serviços à medida que a demanda enfraquecia. China Eastern Airlines, Virgin Australia Holdings e PT Garuda Indonesia estão entre os que suspenderam voos para a cidade.

Conteúdo editado por: Cristina Seciuk

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