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Companhias paranaenses avançam rumo ao exterior

Uma nova geração de empresas brasileiras está investindo firme na internacionalização das operações. São companhias que, a exemplo do caminho já trilhado por gigantes nacionais, como Vale do Rio Doce e Petrobras, vêm conseguindo driblar o câmbio desfavorável e a falta de incentivos e estão fincando suas bandeiras fora do Brasil. O movimento, quase silencioso, se espalha pelos mais diversos setores, da produção industrial até o comércio e a prestação de serviços.

Especializada em projetos de barragens e usinas hidrelétricas, a curitibana Intertechne começou a prestar serviços fora do Brasil há dez anos, acompanhando os projetos internacionais de seus clientes no país, como Camargo Correa, Odebrecht, Voith Siemens e Alstom. O que começou de maneira tímida, no entanto, ganhou fôlego e vôo próprio. Hoje a empresa tem escritórios de representação na Cidade do México e em El Salvador, e no currículo atuação em países como República Dominicana, Panamá, Honduras, Chile, Peru e Argentina.

O faturamento deve quase dobrar esse ano, para R$ 60 milhões, e a empresa se prepara para elaborar projetos de infra-estrutura em Angola. As operações internacionais chegam a representar, de acordo com o volume de contratos, 30% dos negócios da empresa, que possui 350 funcionários. "Tivemos que aprender rápido. Aqui no Brasil não temos terremoto e lá fora tivemos que ganhar expertise em obras capazes de suportar abalos sísmicos. Ao mesmo tempo ganhamos conhecimento sobre novas técnicas e processos de operação", lembra Paulo Akashi, diretor de desenvolvimento de negócios da Intertechne.

Para a maioria dessas empresas, tornar-se uma multinacional ainda é um sonho distante, mas algumas avançam firme nessa direção. Um estudo do World Economic Fórum (WEF), organização não governamental que reúne as mil maiores companhias globais, colocou quatro empresas brasileiras – Politec, Organização Jaime Câmara, Odontoprev e Bematech – na lista das 125 companhias com potencial para se tornarem multinacionais no período de cinco a dez anos.

As "New Champions" são empresas com desenvolvimento internacional acelerado, com taxas de crescimento anuais de, no mínimo, 15% e faturamento entre US$ 100 milhões e US$ 2 bilhões. Desse grupo seleto, segundo o WEF, 40% dos membros se encontram na Ásia, 26% na Europa, 14% na África e Oriente Médio e 20% nas Américas.

Para o consultor Christian Majczak, da GO4 Consultoria de Negócios, de Curitiba, esse movimento rumo ao exterior deve crescer ainda mais nos próximos anos, embalado por pelo menos três fatores: a necessidade de ampliar negócios e receita, de conquistar experiência global e de ter acesso a novas tecnologias para seus produtos e, em alguns casos, de reduzir custos. "Alguns setores, como o de madeira e móveis, que hoje sofrem por conta da valorização do real, podem vir a investir em fábricas na China para reduzir custos", prevê.

Muitas vezes, no entanto, é o senso de oportunidade que abre as portas para a internacionalização. Com previsão de faturar R$ 230 milhões em 2007, a Companhia Paranaense de Papel e Celulose (Cocelpa) vai investir 10 milhões de euros na construção de uma fábrica de embalagens em Liège, na Bélgica, a primeira fora do Brasil. A nova planta industrial vai processar o papel exportado pela matriz brasileira, que hoje vende 40% da produção principalmente para países da Europa e África.

A companhia, que esse ano deve crescer 8%, planeja dobrar de tamanho nos próximos cinco anos, segundo Luiz Eduardo Taliberti, diretor geral. Ter uma fábrica fora do Brasil sempre esteve nos planos, mas a iniciativa foi antecipada por conta das vantagens do Projeto Plataforma Liège, parceria entre a gigante do aço ArcelorMittal e o governo belga, que oferece benefícios comerciais, fiscais e financeiros para empresas de médio porte que queiram investir na cidade.

A internacionalização também traz benefícios para a operação no mercado interno, segundo as empresas. "Os consumidores, cada vez mais exigentes, gostam de saber que o produto que compram também concorre lá fora em tecnologia e qualidade", diz Roberto Garcia Neves, diretor da área internacional da rede de perfumarias e cosméticos O Boticário. Com 62 lojas e cerca de mil pontos-de-venda em mais de 20 países fora do Brasil, a empresa espera um crescimento de 20% na área externa, pelo terceiro ano consecutivo.

O processo de internacionalização das empresas, no entanto, é lento e raramente sem tropeços. O próprio O Boticário teve uma experiência mal-sucedida no México, onde se deparou com um perfil de consumo muito diferente do brasileiro. As mexicanas, ao contrário das brasileiras, preferiam comprar produtos de maquiagem e perfumaria em lojas de departamento e consideravam as lojas da rede muito sofisticadas. "Ainda pretendemos voltar no futuro, provavelmente com um formato mais adequado", diz Neves.

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