Diante das sucessivas reduções nas taxas de juros anunciadas pelos bancos públicos e privados, são cada vez mais comuns os casos de consumidores indecisos e cheios de dúvidas sobre como se beneficiar das reduções para renegociar dívidas. Para especialistas, a saída é evitar a precipitação em mudar de banco e comparar não só as novas taxas, mas também as tarifas e os custos que podem acompanhar a transferência de algumas operações para outra instituição.
Transferir uma dívida de um banco para outro levando em conta somente as taxas de juros nem sempre é vantajoso, explica Miguel Ribeiro de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos em Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Segundo ele, isso geralmente ocorre nas operações de crédito em que o bem está alienado até a quitação total do valor caso do financiamento de automóveis e imóveis. "A mudança da dívida é acompanhada por taxas de transferência que podem não compensar para o consumidor", diz.
Por outro lado, quando se trata da transferência de um empréstimo ou financiamento que não tem nenhum bem alienado como garantia, a portabilidade dos serviços bancários pode trazer benefícios. Nesse caso não existem taxas de transferência, mas é preciso avaliar até que ponto a mudança de banco pode, de fato, ser vantajosa.
Para José Guilherme Vieira, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e das Faculdades Santa Cruz, em muitos casos os bancos com taxas de juros mais baixas exigem a adesão de um pacote para refinanciar a dívida, ou seja, não permitem a uma negociação flexível em que o consumidor possa escolher o número de parcelas, por exemplo. "Se o banco permitir a flexibilidade, o ideal é aproveitar a taxa mais barata e refinanciar a dívida no menor número de parcelas possíveis, que caibam no bolso", recomenda.
Vieira explica que na maior parte dos financiamentos os juros maiores estão embutidos nas primeiras parcelas, o que torna impossível amortizar os juros antecipando o pagamento das parcelas finais. "Um parcelamento mais longo terá, inevitavelmente, mais juros atrelados. Nesse caso, a vantagem dos juros menores pode acabar sumindo", explica. Na hora de analisar taxas e tarifas para mudança de banco, uma boa opção é comparar o Custo Efetivo Total (CET) de cada banco, que diz respeito ao valor real dos juros que o consumidor vai pagar, recomenda Vieira.
Relacionamento
Ao transferir dívidas, o cliente também deve estar ciente de que algumas taxas estão condicionadas ao relacionamento, que leva em conta a permanência do cliente na instituição, seu histórico de inadimplência, suas movimentações como correntista e sua estabilidade financeira. "É direito de cada banco oferecer taxas melhores para quem já tem conta-salário ou recebe benefícios na instituição. Novos clientes precisam construir esse relacionamento e isso pode levar mais tempo do que eles dispõem", diz Oliveira, da Anefac.
Antes de decidir pela portabilidade dos serviços bancários é importante procurar o seu gerente e negociar a troca de uma dívida mais cara por uma mais barata. "Se não houver sucesso, a solução pode ser a mudança para um banco com taxas mais acessíveis", recomenda.