Modelo anterior "se queimou" com parceiros e consumidores
Para o especialista em varejo virtual Ricardo Michelazzo, sócio-diretor da GS&ECOMM, o reposicionamento dos antigos sites de compras coletivas é uma forma de salvar o mercado adotando uma linha mais criteriosa de escolhas que quase veio tarde demais. "A falta de uma seleção bacana de ofertas deixou frágeis as duas pontas do negócio", afirma.
No caso dos clientes, passou a haver a associação entre cupons de ofertas e mau atendimento com prazos restritos. Os fornecedores se frustraram ao perceber que os clientes não voltavam muitos apenas aproveitavam ofertas, sem se apegar às marcas.
O consultor avalia que a estratégia das empresas em adotar o e-commerce regional tem a intenção de fazer as pazes com os dois lados, adotando mais critérios. "Acho que essa segunda fase é o mesmo trabalho, mas ligeiramente mais regional, com ofertas variadas não só de chapinha e de sushi", compara. Ele avalia que apenas recentemente o consumidor passou a diferenciar sites sérios de aventuras. "A reputação passa a fazer mais sentido", diz.
Usuários se queixam de dificuldade para usar cupom
O programador Ramiro Batista da Luz, 40 anos, conta ter aproveitado três ofertas em sites de compras coletivas nos últimos meses. Das três, uma deu certo: um cupom para comprar frozen yogurt pela metade do preço. As outras um almoço em churrascaria e, mais recentemente, a compra de uma mesinha para braço de sofá não foram tão bem.
A refeição teve de ser cancelada porque o prazo para uso do cupom expirou no dia (era para ser usado no almoço; Luz tentou usá-lo no jantar). Mas o último item é o que mais incomoda.
"Como não deu muito certo antes, fiquei relutante em comprar. Mas resolvi dar uma chance porque queria esse produto e não achava em nenhum lugar. Estava barato, o frete era grátis", afirma.
Passados quatro meses da compra, o site Peixe Urbano afirmou no dia 14 que reenviará o item, que teria retornado à empresa por um erro no endereço do remetente, em Almirante Tamandaré, na região de Curitiba.
A queda no volume de propaganda na sua caixa de e-mail confirma: o mercado dos sites de compras coletivas não é mais o mesmo no Brasil. Passado o boom de surgimento de sites ocorrido entre 2009 e 2011, a estimativa é de que 25% das cerca de mil empresas que chegaram a atuar no ramo já não existam.
As três maiores Groupon, Peixe Urbano e ClickOn anunciaram novas estratégias, em que descontos agressivos não são mais a alavanca e nem há cota mínima de compradores. Por causa disso, hoje renegam o termo "compra coletiva", que se identifica com as duas características.
Groupon e Peixe Urbano estão investindo em ofertas locais, e o ClickOn abraçou de vez o ramo de viagens. Nos três casos, porém, a compra por impulso continua o motor do negócio. A ideia é driblar os problemas que levaram à desconfiança do consumidor. O apelo de preço até 90% mais baixo não bastou para manter a clientela, que passou a vincular o negócio a mau atendimento e a empecilhos para uso dos cupons.
O Peixe Urbano tem preferido centrar ofertas em entretenimento local e shows. Segundo o executivo-chefe do site, Julio Vasconcelos, a crise de desconfiança se uniu a uma queda no consumo em 2012, forçando sites a reformularem estratégias. "Foi um ano em que não vimos o crescimento que esperávamos", reconhece. Nesse meio tempo, a empresa vendeu o setor que tratava de entrega em domicílio de refeições. Mas Vasconcelos acredita que o pior já passou. "Os [sites] que sobraram foram os que entregaram o que prometeram."
A versão nacional do Groupon é um dos poucos sites que subiram no ranking global dos mais acessados desde 2011, segundo o site Alexa, que traz dados sobre acessos. A estratégia atual é vender serviços e produtos do comércio local que levem o cliente a acessar rotineiramente o site, em vez de ser motivado pelas propagandas por e-mail. Os descontos são de até 70%. No site americano, chegam a 94%.
Sem revelar números, a empresa dá como versão oficial para a mudança o argumento de que o modelo é dinâmico por origem. "A percepção de que o mercado não responde tão bem é porque muitos negócios não conseguiram se adaptar à demanda", afirma o diretor de marketing, Tomás Penido.
Hoje o terceiro site no país em acessos, o ClickOn preferiu a segmentação. A empresa lançou em agosto um site específico para venda de viagens, o dudi. A intenção é investir R$ 15 milhões nesse site, para faturar R$ 250 milhões em 2014. Mas o ClickOn continua como opção para compras por impulso segmento que antes representava cerca de 70% do faturamento da empresa. "Como tudo na vida, é preciso fazer escolhas", afirma o diretor de operações da ClickOn/dudi, Lars Leber.
Enquanto Milei dá exemplo de recuperação na Argentina, Lula mergulha Brasil em crises
Dois anos que exigirão uma longa reconstrução
Quem é Evelyn Matthei, candidata de direita que pode se tornar a nova presidente do Chile
Crime organizado: 23 milhões de pessoas estão em áreas dominadas por 72 facções e milícias
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast