Se você tivesse aplicado US$ 100 mil na Cult Wines, uma empresa britânica que administra portfólios de vinhos, o seu dinheiro — tecnicamente o seu vinho — renderia uma média de 13% ao ano. Em 2016, a taxa de performance chegou a 26%. Este mercado secundário de vinhos raros gira em torno de US$ 5 bilhões, uma pequena fração dos US$ 302 bilhões que o setor vinícola representa. Mas, em um momento em que os grandes nomes do mercado de luxo enfrentam uma série de riscos, o setor de vinhos e champanhes deve crescer 7% até o fim do ano, estima a Euromonitor.
O vinho anda ao lado de carros de luxo e de moedas raras no quesito de paixões valiosas. Mas comprar e vender vinhos não é uma tarefa para amadores, por isso o investimento na bebida costuma passar por uma gestora que irá administrar seu portfólio, tal qual fazem as empresas que administram ações e outros títulos do mercado financeiro. É um mercado seleto, que inclui empresas como Cult Wines, Farr Vintners e Berry Bros&Rudd.
Tom Gearing, cofundador da Cult Wines, estima que seus mais de 1.700 clientes mantêm os vinhos por 3 a 7 anos em seus portfólios, antes de vendê-los. A comissão (de 15% do total investido) é paga antecipadamente e inclui custos com estoque. A Farr Vintners cobra 10% em cima das compras e outros 10% na venda.
Estes gestores compram apenas de fontes conhecidas, que possam confirmar a autenticidade da bebida. A Cult Wines garante o vinho, caso ele seja aberto, mas isto representa menos de 1% do valor total dos negócios. A maior parte fica com a rolha.
O investimento em vinhos tem até um “câmbio” próprio. A London International Vintners Exchange, que entrou no ar em 1999, jogou luz sobre este segmento de trocas. A plataforma hoje é considerada o padrão da indústria para acompanhar preços de vinhos, e lançou inclusive um índice que monitora o custo dos 100 mais procurados, o Liv ex Fine Wine 100 Index.
Mas o que é melhor comprar? Para qualquer um que entende de vinhos, os franceses são imprescindíveis, e o Bordeaux francês é mais do que imprescindível. O ápice são os “premier crus”, a nata da nata dos vinhos franceses. É um sistema de classificação que começou em 1855 e criou um ranking que está em vigor até hoje. Na lista há nomes como Haut-Brion, Lafite-Rothschild, Latour, Margaux and MoutonRothschild. Cada vinícola também tem seus rótulos secundários, que talvez não sejam tão valiosos quanto os principais.
O problema dos “premier crus” é que eles estão já no topo de linha. A não ser que você entre cedo no mercado, seu vinho não vai valorizar muito.
Mercado começa a se diversificar
O mercado de vinhos raros, aos poucos, começa a se diversificar, avalia o diretor global da Sotherby’s Wine, Jamie Ritchie. “No último ano, Bordeaux e Borgonha representavam 40% do mercado, cada”. No passado, a Borgonha respondia por apenas 20% do total investido em vinhos. “Vimos um crescimento absurdo da demanda por vinhos da Borgonha. Ótimos Bordeaux estão vendendo muito bem, mas o problema é que há vinhos demais vindos de lá”.
Outra característica do Mercado francês é o “en primeur”, a oportunidade de investir em vinhos que ainda estão nos barris. É um negócio de risco, já que a safra pode receber críticas negativas dos críticos. Mas quando o vinho é um sucesso, o lucro é bem maior. Para investidores que não se importam com este risco, há uma chance de que o valor de mercado cresça de 20% a 40% em apenas um ou dois anos.
Saber a hora de vender é um dos grandes segredos deste negócio, e é por isso que é importante confiar a carteira de vinhos a alguém especializado. “Existe um mercado gigantesco para vinhos maduros, de restaurantes a apreciadores. As pessoas querem vinhos envelhecidos — elas não vão comprá-los no mercado quando são lançados. Nós compramos o vinho dos nossos clientes investidores e vendemos para os clientes que são consumidores”, explica Stephen Browett, da Farr Vintners, que funciona desde 1978. Com cerca de 14 mil clientes ativos, a empresa administra cerca de US$ 523 milhões em vinhos estocados. “É uma forma fantástica e muito eficiente de aplicar seu dinheiro, na avaliação dos nossos investidores pessoa física”, conta Browett.
Como montar um portfólio
Um portfolio tradicional tem 65% de vinhos de Bordeaux e 15% da Borgonha. Vinhos do vale do Rhône, na França, da Itália e até da Califórnia vêm em seguida. Mas garrafas do Vale do Napa e outros vinhos californianos representam apenas uma pequena fração das transações. Muitos investidores ainda consideram as vinícolas da Califórnia muito jovens em termos de tradição. Farr prefere rótulos da Califórnia com raízes francesas, como o Opus One e o Dominus.
“Os produtores franceses produzem com intensidade e há muito tempo. É confiável. Isso é o tipo de coisa que você precisa levar em conta em um produto colecionável”, explica Rob McMillan, vice-presidente do Silicon Valley Bank, que investe pesado na produção de vinhos da costa Oeste dos EUA. Apesar de fazerem sucesso nos cardápios dos restaurantes americanos, os vinhos californianos ainda chamam pouca atenção dos investidores.
Quando cofundou a Cult Wines, em 2007, Tom Gearing pensava em uma forma de diversificar investimentos. “É um ativo com histórico de longo prazo, que é desconectado do mercado financeiro e pouco volátil”, avalia. “Nós não queríamos ser uma corretora de vinhos, nem comerciantes ou responsáveis por um inventário. Nossa ideia era ter uma abordagem financeira do mercado de vinhos”. Atualmente, a Cult Wines gere mais de US$ 100 milhões em ativos
Só este ano, a Sotherby’s vendeu US$ 64 milhões em vinhos, sendo 80% para colecionadores que pretendem degustar a bebida em algum momento, e outros 20% para investidores. Nos últimos tempos, têm crescido o número de investidores vindos da Ásia. Além de Hong Kong, a Cult Wintes vai abrir um escritório em Cingapura ainda este ano.
A Cult Wines têm mais de 800 marcas sob sua guarda. As principais holdings, Lafite e Pavie, respondem, cada uma, por 6% do mercado total, com um preço médio de US$ 621 e US$ 304 por garrafa, respectivamente.
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