Uma equipe ligada ao Laboratório de Computação da Universidade de Cambridge está começando as vendas, por meio de uma organização não-governamental, de um computador que está no limite entre o uso educacional e o brinquedo. O Raspberry Pi custa entre US$ 25 e US$ 35, o Pi é extremamente rústico: nem gabinete tem. Trata-se de uma placa de circuito impresso (do tamanho de um cartão de crédito) com entradas HDMI, ethernet, USB, AV e para cartão SD. Tem 256 MB de processamento. Seu sistema operacional é GNU/Linux. O objetivo: ensinar crianças a programar.
Seus criadores acreditam que o mundo atual, de computadores cada vez mais fáceis de usar, representa uma tendência preocupante. "Em 2005, notamos que o número de estudantes que se matricularam em ciências da computação estava baixo", contou à reportagem Eben Upton, principal porta-voz da fundação Raspberry Pi, entidade beneficente que toca o projeto. "Notamos também que as coisas que esses poucos candidatos sabiam fazer deixavam muito a desejar. Antes, era um pressuposto que candidatos soubessem programar em código de máquina, processamento gráfico, muitos já teriam até trabalhado em programação de games."
"O que acontece hoje é que temos metade do número de candidatos e todos precisam de muito treinamento. São pessoas que não sabem o básico, nunca mexeram em programação na vida. No máximo, montaram uma página de internet", lamenta.
Upton e seus colegas desenvolveram o Raspberry Pi como uma resposta de baixo custo a essa situação. Conectado a um monitor, ele faz tudo que um computador médio faz: navega na internet, edita textos, roda aplicativos diversos e passa vídeo em HD. Demora, em média, 15 segundos para ligar.
Seu objetivo principal é fazer com que as crianças entendam como funcionam software e hardware. "Nos anos 80, quando eu e meus colegas éramos jovens, tínhamos todos esses computadores que podíamos programar. Hoje, as crianças não têm isso. Algumas nem computador têm, apenas um console de games", diz Upton.
Para ele, o Raspberry Pi pode ser usado por crianças a partir dos 9 ou 10 anos. "Talvez até antes, no caso de crianças muito inteligentes." Ele acredita que o aprendizado da programação não serve apenas para quem quer seguir carreira no na ciência da computação: "Ela ensina maneiras de pensar, essa engenharia dá à pessoa métodos de pensar o mundo, o que pode ser muito útil se você se tornar, digamos, um banqueiro. Acho que é uma boa base para qualquer profissão que use capacidades analíticas. Mas, na verdade, são habilidades que todos precisamos ter."
O sucesso do Pi surpreendeu Upton. "Não posso falar em números absolutos, mas já passamos das dezenas de milhares de unidades vendidas. Não acreditávamos que íamos ter tanta demanda."
É por esse motivo que o modelo não vem com gabinete. A peça seria cara demais se a encomenda fosse menor do que 10 mil unidades. Com o volume atual, o Raspberry Pi deve vir com caixa num futuro não muito distante.
O projeto inicialmente visava apenas o Reino Unido, mas acabou sendo alvo de interesse no mundo todo. "Dos países do Brics, muito interesse da Rússia e Brasil, menos da Índia e quase nada da China. Dentre os brasileiros, várias ONGs nos procuraram, também muitas pessoas de escolas particulares e até indivíduos mesmo querendo ter um modelo para si." Ele diz que é possível encomendar o Raspberry Pi do Brasil, mas a espera é de cerca de três meses.
Pirate Bay quer dispositivos orbitando a Terra
Agência Estado
Se tudo der certo, o Raspberry Pi será o coração de um dos projetos mais mirabolantes do The Pirate Bay (TPB). O site perseguido pelos estúdios de cinema e gravadoras por distribuir conteúdo protegido por direito autoral diz que está desenvolvendo veículos aéreos não-tripulados para levar seus servidores à órbita terrestre. Desta maneira, seus organizadores fugiriam das leis terrestres e poderiam operar sem medo de protestos ou confisco de servidores. A não ser, é claro, que algum governo envie um míssil para acabar com a nave pirata.
As chamadas "Low Orbit Server Stations" (LOSS) terão um computador Raspberry Pi e um GPS para se comunicar com a Terra. "Todo mundo sabe o que é o TPB. Agora eles terão que pensar sobre onde o TPB está", disse um porta-voz do site ao Torrent Freak. Seria como uma rádio pirata espacial. Desde que sofreu uma série de processos (seus fundadores devem ser presos em breve), o TPB opera em sigilo. Para evitar confiscos e processos, a localização de seus servidores é desconhecida. Ninguém sabe quem comanda o site. As opiniões se dividem - a ideia atraiu entusiastas e críticos, que afirmam que a empreitada é impossível.
A ideia de um Drone Pirata, porém, não é nova. O coletivo Tomorrows Thoughts Today criou um veículo aéreo não-tripulado, batizado de "Napster aéreo", que distribui conteúdo pirata por aí via wi-fi.