A divulgação dos resultados alcançados pelas operadoras de telefonia no segundo semestre do ano não deixa dúvidas: a receita com tráfego de dados ganha cada vez mais relevância no caixa das empresas, enquanto os serviços de voz e SMS seguem em queda. No período entre abril e junho deste ano, os dados foram responsáveis por 46,1% da receita líquida da Vivo com serviços móveis, fatia que foi de 32% na TIM e 40% na Oi – o balanço da Claro não especificou o porcentual. Considerando as três operadoras, o crescimento da receita com dados no período, em comparação com o ano passado, foi de 43%, na média – o maior aumento, de 51%, foi registrado pela Oi.
A virada no modelo tradicional de negócio traz a reboque desafios extras para as empresas, que passam a disputar mercado com aplicativos e serviços capazes de incrementar o uso da internet móvel nos celulares, mas também “roubar” mercado (e receita) das operadoras. No início do mês, o presidente da Telefônica Brasil (controladora da Vivo e da GVT), Amos Genish, subiu o tom contra o WhatsApp, afirmando que o popular aplicativo de mensagens é “pirataria pura” e que as demais companhias não deviam cooperar “com uma empresa que vai contra as leis brasileiras”. No dia seguinte, a TIM lançou uma nova parceria com o app, com um plano de dados específico para o WhatsApp – mostrando que não há consenso sobre o assunto no mercado.
“As empresas, de modo geral, costumam reagir a esses serviços mais disruptivos quando a inovação já tem um certo porte e o nível de adoção está tão grande que incomoda. Isso está acontecendo não só com o WhatsApp, mas com o Uber e o Airbnb. Esses negócios pegam as grandes empresas de surpresa porque elas estão acomodadas num modelo de negócio que vem dando certo nos últimos anos. Só as mais visionárias abraçam essa inovação, mesmo que tenham perda de receita no curto prazo”, afirma Marcelo Nakagawa, consultor e diretor de Empreendedorismo da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap).
Disputa desigual
A briga com o WhatsApp tem ganhado ainda mais dimensão por conta da sua crescente popularidade e das novas funções do aplicativo. Depois de passar a permitir ligações por voz neste ano, o app liberou mês passado atualizações que economizam dados durante as chamadas, o que significa menor uso da franquia de internet contratada pelo usuário – afetando assim, as operadoras em dobro. Semana passada, o rumor de que as empresas preparam uma petição e até uma ação judicial contra o serviço de voz do app ganhou força.
Para o diretor comercial do Grupo C&M, Leandro Motta, a melhoria constante da tecnologia de dados móveis e a expansão do acesso a essa tecnologia tornarão os outros serviços caros e obsoletos. “Hoje, as operadoras possuem baixo faturamento em dados comparado a voz. Por outro lado, os custos dessas operações são baixos, o que torna o lucro muito maior”, resume.
Acompanhe abaixo quais os novos modelos de negócios envolvendo dados que já estão se consolidando no país e no exterior e devem concentrar a atenção das operadoras nos próximos anos.