Receita com dados das operadoras Vivo, TIM e Oi cresceu 43%, na média, entre abril e junho.| Foto: Lucas Pontes/Arquivo/Gazeta do Povo

A divulgação dos resultados alcançados pelas operadoras de telefonia no segundo semestre do ano não deixa dúvidas: a receita com tráfego de dados ganha cada vez mais relevância no caixa das empresas, enquanto os serviços de voz e SMS seguem em queda. No período entre abril e junho deste ano, os dados foram responsáveis por 46,1% da receita líquida da Vivo com serviços móveis, fatia que foi de 32% na TIM e 40% na Oi – o balanço da Claro não especificou o porcentual. Considerando as três operadoras, o crescimento da receita com dados no período, em comparação com o ano passado, foi de 43%, na média – o maior aumento, de 51%, foi registrado pela Oi.

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281,45 milhões

de linhas de telefonia móvel estavam ativas no Brasil em julho, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Os pré-pagos totalizaram 209,984 milhões (74,61% do total) e os pós-pagos, 71,465 milhões (25,39%).

A virada no modelo tradicional de negócio traz a reboque desafios extras para as empresas, que passam a disputar mercado com aplicativos e serviços capazes de incrementar o uso da internet móvel nos celulares, mas também “roubar” mercado (e receita) das operadoras. No início do mês, o presidente da Telefônica Brasil (controladora da Vivo e da GVT), Amos Genish, subiu o tom contra o WhatsApp, afirmando que o popular aplicativo de mensagens é “pirataria pura” e que as demais companhias não deviam cooperar “com uma empresa que vai contra as leis brasileiras”. No dia seguinte, a TIM lançou uma nova parceria com o app, com um plano de dados específico para o WhatsApp – mostrando que não há consenso sobre o assunto no mercado.

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“As empresas, de modo geral, costumam reagir a esses serviços mais disruptivos quando a inovação já tem um certo porte e o nível de adoção está tão grande que incomoda. Isso está acontecendo não só com o WhatsApp, mas com o Uber e o Airbnb. Esses negócios pegam as grandes empresas de surpresa porque elas estão acomodadas num modelo de negócio que vem dando certo nos últimos anos. Só as mais visionárias abraçam essa inovação, mesmo que tenham perda de receita no curto prazo”, afirma Marcelo Nakagawa, consultor e diretor de Empreendedorismo da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap).

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Disputa desigual

A briga com o WhatsApp tem ganhado ainda mais dimensão por conta da sua crescente popularidade e das novas funções do aplicativo. Depois de passar a permitir ligações por voz neste ano, o app liberou mês passado atualizações que economizam dados durante as chamadas, o que significa menor uso da franquia de internet contratada pelo usuário – afetando assim, as operadoras em dobro. Semana passada, o rumor de que as empresas preparam uma petição e até uma ação judicial contra o serviço de voz do app ganhou força.

Para o diretor comercial do Grupo C&M, Leandro Motta, a melhoria constante da tecnologia de dados móveis e a expansão do acesso a essa tecnologia tornarão os outros serviços caros e obsoletos. “Hoje, as operadoras possuem baixo faturamento em dados comparado a voz. Por outro lado, os custos dessas operações são baixos, o que torna o lucro muito maior”, resume.

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Acompanhe abaixo quais os novos modelos de negócios envolvendo dados que já estão se consolidando no país e no exterior e devem concentrar a atenção das operadoras nos próximos anos.

Planos compartilhados

Uma das tendências, ainda incipiente no Brasil, é a venda de planos de dados compartilhados, em que a operadora oferece banda larga fixa e móvel, TV por assinatura e voz no mesmo pacote, utilizando uma conta e valor únicos para todos os serviços. Em entrevista nesta semana, o presidente da Telefônica Brasil, Amos Genish, afirmou que a convergência de serviços será o foco da empresa em 2016. “Quando as empresas oferecem quatro serviços juntos, a relação entre o custo de aquisição do cliente e a receita é muito mais favorável. Outro ponto é que a fidelização do cliente é muito maior quando ele compra esses serviços reunidos”, afirma o diretor de marketing da Ericsson na América Latina, Jesper Rhode. Segundo estudo da Ericsson, apenas 5% dos usuários de smarpthones no Brasil utilizam hoje planos compartilhados.

Parcerias com aplicativos

A estratégia não é nova, mas tem se intensificado e servido de chamariz: oferece-se acesso ilimitado a determinados apps ou redes sociais, sem desconto na franquia contratada, ou planos que priorizam o uso de determinado serviço. A TIM e a Claro oferecem atualmente promoções voltadas ao WhatsApp, Facebook e Twitter. As parcerias servem geralmente para atrair novos usuários, já que são por tempo limitado. “Esse tipo de parceria mostra que a operadora está visando os interesses dos usuários e não os seus próprios. Mas, no caso da TIM, essa estratégia é voltada ao cliente pré-pago, que tem um perfil de consumo menor e franquias de dados muito baixas, que acabam constantemente e impossibilitam esse usuário de usar o WhatsApp”, afirma o diretor comercial do Grupo C&M, Leandro Motta.

Voz sobre dados

Uma das novas frentes de pesquisa e investimento das operadoras tem sido a tecnologia de voz sobre dados, também conhecida como VoLTE (do inglês voice over LTE, sigla usada para o 4G). Em resumo, a tecnologia conduz a chamada de voz sobre uma camada de dados, sem a necessidade de qualquer aplicativo e sem que seja preciso necessariamente dispor de um pacote de dados – é possível, por exemplo, fazer chamadas do exterior sem custo extra. “A chamada é feita direto do discador convencional do aparelho, para o usuário não há diferença”, explica o diretor de marketing da Ericsson na América Latina, Jesper Rhode. A previsão é que essa tecnologia esteja disponível no país ainda neste ano e se consolide com o avanço do 4G entre os usuários – estudo da 4G Americas prevê que, em 2019, 47% dos acessos móveis no país ocorram pelo 4G (em 2014, eram apenas 2%).

Dados À vontade

Apesar das operadoras travarem atualmente uma intensa batalha de marketing para serem reconhecidas como as que oferecem os planos de dados mais em conta para o bolso, já há ações mirando um novo usuário, disposto a investir uma quantia vultuosa por mês para permanecer conectado sempre. A Nextel, por exemplo, oferece planos mensais com 10 GB de dados que podem chegar a R$ 260 – opção distante da oferecida por outras operadoras nas linhas pré-pagas, o grande filão das empresas, em que o usuário paga cerca de R$ 1 por dia para navegar por pouco tempo. “Um plano ‘infinito’, a baixo custo, é possível, mas é preciso saber fazer muito bem as contas pois, com o aumento do tráfego nas redes de dados móveis, a necessidade de investimentos em infraestrutura aumenta na mesma proporção e determina uma política clara de consumo”, afirma o diretor comercial do Grupo C&M, Leandro Motta.

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Parcerias com operadoras virtuais

Outra tendência em voga no exterior e que surge tanto como oportunidade quanto como ameaça para as operadoras tradicionais é a entrada de grandes players de tecnologia no setor de telefonia. O Google anunciou em abril nos Estados Unidos um serviço de telefonia móvel, que ainda é restrito para poucos usuários e pode ser usado em um modelo específico de celular. O funcionamento ocorre em parceria com as operadoras de celular T-Mobile e Sprint, que fornecem as suas redes de telefonia para o Google. Rumores dão conta de que a Apple deve lançar um serviço semelhante em breve. “Nesse modelo, o usuário vai ser cliente da Apple, por exemplo, mas usará a infraestrutura de outras operadoras [que serão remuneradas por isso]. A grande vantagem é que essas operadoras virtuais terão um gerenciamento automático para usar sempre o melhor sinal disponível na região”, relata o coordenador dos cursos de Engenharia da Computação e Engenharia de Produção 2.0. da Fiap, Almir Meira Alves.