Todas as quintas-feiras, pequenos empresários de Apucarana se reúnem para conversar sobre bonés. A cidade é conhecida como uma espécie de capital do produto e é também um laboratório para a aplicação de um conceito trazido no início da década para o Brasil, o arranjo produtivo local (APL). O encontro faz parte da organização do APL de Apucarana. Ali, competidores deixam de lado a disputa por mercado para ver o que eles podem fazer juntos. Desde 2003, quando a ideia chegou à cidade, as 150 confecções especializadas em bonés já criaram programas de treinamento de mão-de-obra, desenvolveram uma nova aba com maior apelo comercial e um projeto para acabar com a poluição causada pela atividade.
Para pequenas e médias empresas, essas iniciativas não são desprezíveis. "A transformação da indústria foi rápida. Começamos há 15 anos com bonezinhos simples, promocionais, e agora temos um produto de moda, que tem potencial para ser exportado", conta Jayme Leonel, sócio da confecção Itália Milano e um dos coordenadores do APL. O grupo se prepara para vender na América do Sul e em julho participará de uma missão em Angola.
A organização das empresas também ajudou a implantar na cidade cursos na área de vestuário da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e treinamento para costureiras em parceria com Sebrae e Senai. As ações deram sustentação à expansão das empresas. A produção de bonés praticamente dobrou nos últimos cinco anos e é hoje de 4 milhões de unidades por mês quase 70% do total confeccionado no Brasil.
O APL de Apucarana faz parte de um grupo de 114 áreas identificadas em um estudo do Ipardes em 2003. A princípio, são apenas aglomerações de indústrias que ocorrem de forma espontânea. Com um empurrão do governo do estado e de instituições como o Sebrae, o IEL e Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), 22 aglomerações decidiram se organizar como arranjos produtivos locais desde 2004. Outras duas estão se estruturando.
Política
O APL foi inspirado na experiência da Itália, onde pequenas cidades se consolidaram como centros industriais bastante especializados e muito competitivos internacionalmente. Em 2004, o conceito virou política pública federal e estadual o objetivo era estimular a cooperação entre as empresas. Ao serem reconhecidas como APLs, as concentrações industriais passaram a receber incentivos como consultorias de especialistas do Sebrae, linhas de crédito especiais do Banco do Brasil, treinamento da mão-de-obra feita pelo Senai e, em alguns casos, apoio para a exportação.
"As vantagens da organização em forma de APL são a expansão do mercado de atuação, obtenção de financiamentos coletivos, entrada em novos nichos, marketing compartilhado e redução de custos nas compras", explica Noe Vieira dos Santos, coordenador da Rede APL do Paraná, um órgão vinculado à Secretaria de Planejamento que acompanha os arranjos do estado. Geralmente, as aglomerações prontas para formar um APL são aquelas com algum tipo de organização, como um sindicato ou uma associação, que serve de ponto de partida para a gestão do grupo. Em seguida, os empresários estabelecem as prioridades e são formulados os programas para lidar com os principais problemas.
"As ações mais comuns são a criação de uma central de compras para reduzir o custo de matérias-primas, a capacitação conjunta da mão-de-obra, central de negócios para entrar em outros mercados e o investimento em inovações que podem ser aplicadas por todas as empresas", afirma Cristiane Stainsack, coordenadora do programa de APLs do IEL. Os efeitos mais imediatos são a redução de custos e a melhora da qualidade.
Malhas
No APL de Imbituva, cidade dos Campos Gerais com 28 mil habitantes, os produtores de malhas têm obtido sucesso nas duas frentes. Eles formaram uma central de compras que concentra a aquisição de aviamentos. São 42 empresas fazendo pedidos juntas, o que aumenta a escala e os descontos dados pelos fornecedores. "Já compramos 60% desses materiais pela central. Um fornecedor de etiquetas, por exemplo, chegou a dar um desconto de 40%", conta Gílson Bobato, um dos coordenadores do arranjo.
Com ajuda do Sebrae, as malharias passaram a ser visitadas por estilistas. Eles dão dicas sobre tendências e combinações, essenciais para quem trabalha com moda. "Fazíamos a coleção com base na nossa experiência, sem muito conhecimento do mercado", lembra Ariel Neiverth, dono da Malharia Beka. "As peças que criamos após a consultoria vendem melhor e têm um preço 20% maior do que antes." Parte do ganho de qualidade é creditada ao treinamento feito em parceria com o Senai. As malhas ganharam acabamento melhor e a um custo menor. "Às vezes a costureira passou a vida pregando um zíper de uma forma e no curso foi descobrir que havia um jeito mais rápido e produtivo", comenta Bobato.