Confiança em relação à economia é um item em baixa entre as empresas. Depois de cair em setembro, ela registrou uma nova queda em outubro, desta vez mais disseminada. É o que aponta uma série de pesquisas divulgadas nas últimas duas semanas por entidades empresariais e pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
As principais razões são o elevado nível de endividamento e a inadimplência dos consumidores; o reduzido impacto da queda na taxa básica de juros (Selic), iniciada em agosto; e a desaceleração no ritmo de queda da inflação.
Também pesam incertezas vindas do exterior, como a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que começou em 7 de outubro. O conflito pode contribuir para o aumento nos preços do barril do petróleo, ampliando a inflação no Brasil e reduzindo as possibilidades de uma queda mais acentuada na Selic.
A redução na confiança do empresariado é um sinal preocupante para o futuro da economia, pois indica menor disposição para contratar, investir em ampliações ou novas unidades e para aumentar encomendas dos fornecedores.
A queda nos índices de confiança ainda não reflete as declarações feitas no dia 27 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de que dificilmente haverá déficit zero nas contas públicas em 2024. A prioridade, segundo ele, seria a realização de investimentos e gastos públicos. No próximo ano haverá eleições municipais.
O mercado financeiro já reagiu às declarações de Lula. As projeções para inflação, taxa de juros e rombo fiscal aumentaram na última semana.
Confiança empresarial cai nos quatro setores pesquisados pelo FGV Ibre
A confiança das empresas caiu em outubro para o menor nível desde maio, segundo levantamento feito pelo FGV Ibre. Ela diminuiu nos quatro setores pesquisados (comércio, construção, indústria e serviços).
Segundo o superintendente de estatísticas do instituto, Aloísio Campelo Jr., na indústria e no comércio o enfraquecimento da demanda já começa a impactar negativamente o ímpeto de contratações. Já na construção e nos serviços, a relativa resiliência no nível de atividade ao longo do segundo semestre tem mantido esse ímpeto estável.
Comércio não sente redução nos juros e vê desaceleração menor da inflação
A confiança do comércio caiu, em outubro, pelo segundo mês consecutivo, segundo o FGV Ibre. A avaliação é de que o setor ainda não sentiu os efeitos do início do ciclo de redução da taxa de juros, iniciado em agosto, e a desaceleração da queda da inflação nos últimos meses.
“Os comerciantes ainda estão insatisfeitos em relação ao momento atual, com enfraquecimento da demanda e aumento dos estoques em alguns segmentos. Há bastante cautela em relação aos próximos meses, fato que parece relacionado com a piora da confiança dos consumidores. O cenário tende a ser ainda desafiador no quarto trimestre do ano”, diz a economista Geórgia Veloso, do FGV Ibre.
A pesquisa aponta que três fatores estão limitando a melhoria dos negócios: competição, demanda insuficiente e custo financeiro. Apesar da recente melhora de indicadores econômicos ligados ao consumo, como a redução da inflação e o aumento do rendimento real dos trabalhadores, o FGV Ibre aponta que ainda há um percentual significativo de empresas queixando-se do nível atual de demanda.
“Embora a parcela do custo financeiro permaneça em patamares elevados, tem mostrado uma redução da intensidade nos últimos meses, seguindo a trajetória do ciclo de queda das taxas de juros iniciada em agosto”, destaca a fundação.
Outro levantamento, feito pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostra que o otimismo dos comerciantes está no mais baixo nível desde janeiro. Um dos segmentos que mais sente esse cenário é o de bens duráveis. São produtos de maior valor e que sofrem mais com o crédito caro e seletivo.
Izis Ferreira, economista da entidade empresarial, diz que a desaceleração da atividade econômica, com impactos na gestão financeira das empresas, e um consumidor mais cauteloso contribuem para que o comerciante tenha menos disposição para investir na contratação efetiva de funcionários e na ampliação dos estoques.
Indústria registra quinta queda seguida na confiança
Segundo o FGV Ibre, a confiança na indústria atingiu o menor nível desde agosto de 2020. É o quinto resultado negativo seguido. Há um aumento do pessimismo em relação aos próximos meses, destaca o economista Stefano Pacini.
“A maioria dos segmentos reduz sua projeção de produção, dado o elevado nível dos estoques e o fraco nível de demanda. Apesar da melhora do cenário macroeconômico, as taxas de juros e o endividamento ainda se mantêm em patamares elevados, fatores que dificultam o reaquecimento da economia”, diz.
Pacini afirma que o efeito do início do ciclo de queda na taxa de juros e das medidas governamentais com o objetivo de reduzir o endividamento ainda não surtiram efeito na demanda por bens industriais, e isso tem limitado a recuperação da confiança do setor.
Outro levantamento, feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que a confiança do empresário do setor caiu pela segunda vez seguida em outubro. O otimismo ficou mais fraco e menos disseminado. O indicador reflete uma avaliação de piora mais intensa e disseminada das condições da economia brasileira e das empresas em comparação com os últimos seis meses.
A confiança caiu em todos os portes de indústria, em 18 dos 29 segmentos pesquisados e, à exceção do Nordeste, em todas as regiões – o Sul é onde há maior preocupação.
Há falta de confiança em seis segmentos:
- equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos;
- máquinas e equipamentos;
- obras de infraestrutura;
- celulose e papel;
- calçados e suas partes; e
- metalurgia.
Construção: pessimismo está disseminado
A queda da confiança da construção em outubro foi a maior desde novembro de 2022 e interrompeu três altas seguidas, aponta o FGV Ibre. O maior pessimismo foi disseminado em todos os segmentos. A carteira de contratos de infraestrutura está abaixo do normal, destaca o instituto. A esperança é que os projetos do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) revertam esse quadro.
A incerteza é grande. “A piora pode ser um revés pontual, resultado de dificuldades com os negócios em um contexto de mão de obra mais cara e difícil ou refletir um ritmo aquém do esperado dos novos negócios. Nos próximos meses será possível confirmar se houve, de fato, essa inflexão do ciclo esperado”, afirma a coordenadora de Projetos de Construção do FGV Ibre, Ana Maria Castelo.
Serviços: pioram perspectivas para os próximos meses
Pesquisa do FGV Ibre mostra que o Índice de Confiança de Serviços (ICS) atingiu, em outubro, o menor nível desde maio. Foi o terceiro mês seguido de queda. Pacini afirma que o resultado foi influenciado pela piora das perspectivas para os próximos meses.
Um dos segmentos que mais sente essa deterioração é o de serviços prestados às famílias, que mostra sinais de perda de fôlego. O resultado é influenciado por uma percepção de piora da demanda, que vem ocorrendo há quatro meses consecutivos.
Segundo ele, após um primeiro semestre favorável para o setor, os resultados sinalizam um cenário mais desafiador com perspectivas de queda na demanda, ímpeto de contratações e tendência dos negócios. “A recuperação dependerá da melhoria da confiança dos consumidores e do mercado de trabalho”, diz.
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