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Cenários

Quem tem mais e menos confiança no país, e o que isso indica para a economia

Confiança
Confiança dos empresários dos serviços, como o transporte aéreo, está nos maiores níveis em dez anos. (Foto: Arquivo/Gazeta do Povo)

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Sondagens que apuram o humor de empresários e consumidores costumam dar indícios sobre o comportamento futuro da economia. Quando confiantes, empresas tendem a investir e contratar, e pessoas ficam mais propensas a consumir e pegar dinheiro emprestado. Em seu conjunto, os sinais enviados pelos índices de confiança mais recentes dão margem a expectativas positivas – mas longe da euforia – para a economia brasileira nos próximos meses. Quando se olha caso a caso, nem todas as sinalizações apontam para a mesma direção.

Pelo lado dos consumidores, a confiança aumentou na última medição, de julho, embora em ritmo mais lento que em meses anteriores. Os empresários, na média de todos os setores consultados, ficaram um pouco mais cautelosos: após quatro altas, o índice de confiança recuou um pouco no último mês. As pesquisas revelam que tanto pessoas quanto empresas estão mais animadas que no começo do ano, porém menos confiantes que um ano atrás.

O ponto fora da curva nesse cenário de "otimismo contido" é o setor de serviços, que cresceu pouco menos de 10% nos primeiros meses do ano e alcançou os maiores níveis de confiança em uma década.

Confira a seguir como está o ânimo dos consumidores e também a confiança do empresariado de serviços, comércio, indústria e construção.

Confiança do consumidor continua avançando, mas há alertas

A intenção de consumo das famílias medida pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) tem avançado nos últimos 12 meses, mas o ritmo de crescimento perdeu força.

Na última medição, a maior alta foi no componente de renda atual, principalmente entre as famílias que recebem até dez salários mínimos. Segundo a entidade empresarial, o movimento é coerente com as medidas de auxílio à renda, assim como os aumentos do rendimento real das famílias nos últimos trimestres.

A evolução favorável do emprego fez com que as perspectivas profissionais atingissem o melhor patamar desde abril de 2020. Mas a entidade afirma que, mesmo com esse otimismo sobre a renda e a evolução do emprego, o ambiente econômico com preços e juros mais elevados esfriou um pouco as perspectivas de consumo.

Outra medição da confiança dos consumidores, feita pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), também cresceu em julho. O resultado é atribuído à melhora da confiança entre as famílias de baixa renda. Mas há alertas no ar, aponta a coordenadora das sondagens da FGV, Viviane Seda Bittencourt.

"A confiança dos consumidores acomodou em julho. Aparentemente, os efeitos dos estímulos realizados pelo governo perderam força e não conseguem reverter a percepção ruim da situação financeira das famílias de menor poder aquisitivo. Apesar disso, nota-se uma melhora das perspectivas para os próximos meses sobre a economia e o emprego. Esse movimento, contudo, é exatamente oposto para os consumidores de maior poder aquisitivo”, diz Viviane em relatório.

Ela também considera que a proximidade das eleições pode tornar as expectativas mais voláteis, considerando que não há uma mudança nos fatores econômicos nos próximos meses.

Como está a confiança das empresas, na média de todos os setores

Em julho, a confiança empresarial caiu 0,3 ponto, para 98,5 pontos, após quatro altas consecutivas. O índice melhorou em 59% dos 49 segmentos pesquisados pelo Ibre/FGV, disseminação um pouco menor que a do mês anterior, quando houve expansão em 63% dos segmentos.

Segundo o superintendente de estatísticas do Ibre/FGV, Aloisio Campelo Jr., a queda é suave demais para sinalizar uma mudança da tendência iniciada em março. “Mas enquanto o nível de atividade corrente permanece inalterado no mês, a piora das expectativas nos quesitos que miram os seis meses seguintes sugere preocupação com uma possível desaceleração no último trimestre do ano”, diz Campelo em comunicado.

Ele aponta os fatores que podem estar influenciando nesta postura mais cautelosa:

  • O aperto monetário interno, com o aumento na taxa de juros;
  • As perspectivas de desaceleração da economia mundial; e
  • Uma postura mais cautelosa por parte do consumidor.

Confiança do setor de serviços é a maior desde 2012

Na divisão por setores, o que está mais confiante é o de serviços, um dos motores do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos cinco primeiros meses do ano, ele acumula um crescimento de 9,4% em relação a igual período de 2021. O carro-chefe dessa expansão são os serviços prestados às famílias.

A confiança do setor está nos maiores níveis desde maio de 2012, aponta o Ibre/FGV. Segundo Campelo, o setor continua mostrando pujança e atinge o maior nível entre as áreas pesquisadas.

“Depois de dar sinais de desaceleração ao final do primeiro semestre, a confiança no setor de serviços voltou a subir em julho de forma disseminada entre os segmentos. O resultado favorável foi influenciado tanto pela percepção da demanda corrente quanto das expectativas para os próximos meses", diz em relatório o economista Rodolpho Tobler, também do Ibre/FGV.

"O período eleitoral pode aumentar os níveis de incerteza econômica, mas as medidas de estímulo adotadas pelo governo tendem a manter a atividade do setor aquecida e a resultar em um terceiro trimestre mais positivo do que o inicialmente esperado", complementa Tobler.

No comércio, benefícios do governo estimulam contratações

Segundo o Bradesco, as sondagens apontam para a moderação do consumo de bens em julho. No acumulado dos cinco primeiros meses do ano, o comércio varejista ampliado acumulou crescimento de 1% em comparação com a mesma época do ano passado.

Na medição do Ibre/FGV, a confiança do comércio recuou em julho, após duas altas consecutivas. De um lado, o componente de "situação atual" indicou ritmo ainda aquecido de vendas, mas o item de "expectativas" seguiu em patamar baixo, sugerindo dificuldades à frente.

“É possível que as medidas recentes de estímulo adotadas pelo governo ainda sustentem o nível presente da demanda por alguns meses. Mas a inflação e juros em patamares elevados e os baixos níveis de confiança do consumidor devem segurar uma retomada mais consistente do setor”, diz Tobler.

Pesquisa de outra entidade, a CNC, mostra um cenário um pouco diferente. Nela, a confiança do setor aumentou pelo quarto mês seguido, embora o avanço tenha sido mais modesto desta vez. O presidente da CNC, José Roberto Tadros, disse em nota que a alta pode ser explicada pela retomada do consumo que foi represado na pandemia e pelas medidas de reposição de renda do governo federal.

A expectativa é de contratação de mais funcionários. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que no primeiro semestre o setor gerou 61,7 mil empregos com carteira assinada.

A economista responsável pela pesquisa da CNC, Izis Ferreira, aponta que as expectativas são positivas para a segunda metade do ano, apesar dos desafios econômicos como inflação e juros elevados. Isso porque a segunda metade do ano concentra as datas mais relevantes para o setor sob a ótica do movimento nos pontos de venda e da alta do faturamento.

“Com a dinâmica esperada para as vendas no varejo, impulsionadas pelo reforço na renda das famílias, com novo aumento de 50% no Auxílio Brasil, o comércio já enxerga a necessidade de mais funcionários”, cita a economista.

Inflação e juros altos pesam sobre a indústria

A confiança da indústria caiu em julho, interrompendo uma sequência de três altas consecutivas, de acordo com levantamento do Ibre/FGV. A queda aconteceu em 11 dos 19 segmentos pesquisados. O economista Stéfano Pacini credita tal mudança de cenário à moderação do otimismo empresarial quanto à evolução dos negócios ao longo do segundo semestre.

"As expectativas menos favoráveis parecem decorrer da perspectiva de manutenção de níveis elevados de inflação e de juros até o final do ano, além do aumento da incerteza política durante o período eleitoral. Há ainda relativa satisfação com a situação corrente dos negócios, algo que pode ser identificado nas avaliações favoráveis sobre a demanda externa e pelo movimento de regularização dos estoques", diz Pacini em relatório.

Outra pesquisa, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que a confiança do empresário do setor permaneceu estável em julho. Mas, em uma análise mais detalhada, houve queda em 18 dos 29 segmentos industriais. As mais expressivas ocorreram em biocombustíveis, produtos farmoquímicos e farmacêuticos e serviços especializados para construção.

Mesmo diante desse cenário, a economista Larissa Nocko, da entidade empresarial, aponta que todos os segmentos ainda mantêm um grau de confiança, com expectativas positivas para os próximos seis meses tanto para a economia quanto para o desempenho de suas empresas.

Dois grandes desafios para a indústria são a falta ou alto custo de insumos e o elevado preço dos fretes. Segundo a economista Paula Verlangeiro, também da CNI, aproximadamente metade da produção industrial é consumida como insumo pela própria indústria. Assim, a falta ou alto custo dos insumos se dissemina por toda a cadeia da produção, seja com aumento nos preços ou redução da produção, até chegar ao consumidor.

As causas são a crise provocada pela pandemia do Covid-19, a guerra na Ucrânia e os severos lockdowns na China, que, no primeiro semestre, atingiram alguns dos principais polos econômicos, como as regiões de Xangai e Shenzhen, no leste do país.

Segundo a economista da CNI, os últimos dois fatores atrasaram a normalização das cadeias de insumos globais, que ainda não haviam se recuperado dos choques causados pela pandemia. Além de dificultarem a recuperação da produção industrial, que nos cinco primeiros meses do ano encolheu 2,6% em comparação a igual período de 2021, também contribuíram para pressionar ainda mais os preços e aumentar a inflação global.

O custo médio do transporte de um contêiner no mercado marítimo global chegou a ficar sete vezes maior do que antes do início da pandemia. De acordo com a entidade empresarial, a capacidade ofertada nos portos e embarcações tem sido insuficiente para equilibrar o mercado, resultando nos maiores valores de fretes já registrados na história.

Em julho, o preço do frete médio mensal na rota Ásia-Brasil de um contêiner de 40 pés atingiu o pico do ano. “Ainda vão ser necessários vários meses até que os níveis de congestionamentos, atrasos e demanda por transporte se normalizem”, diz o especialista em infraestrutura Matheus de Castro, da CNI.

Construção vê dificuldades à frente

Outra atividade em que a confiança caiu em julho, de acordo com levantamento da FGV, foi a construção. Mas, segundo a coordenadora de projetos da construção do Ibre/FGV, Ana Maria Castelo, o movimento não representa uma reversão do crescimento observado no setor, mas sinaliza as dificuldades à frente que estão sendo percebidas pelas empresas.

A oferta de imóveis cresceu 5,3% no primeiro trimestre em comparação a igual período de 2021, destaca a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

Dois problemas que dificultam um crescimento maior do setor são o aumento nos insumos da atividade e a alta nos juros. Segundo a FGV, nos 12 meses encerrados em julho, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M) aumentou 17,35%, diante de uma inflação geral de 11,39%, medida pelo IPCA-15, do IBGE.

A alta na taxa básica de juros, a Selic, está se refletindo no aumento no custo para financiar a compra de um imóvel, que passou, segundo o Banco Central (BC), de 0,56% ao mês em março de 2021, quando iniciou o atual ciclo de alta nos juros, para 0,75%, em abril de 2022.

As expectativas da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) são de uma melhora no cenário a partir de agosto.

“O sentimento da indústria é de um otimismo moderado e cauteloso, devido às muitas externalidades enfrentadas. É possível notar que há um aumento na pretensão de investimentos para ampliação da capacidade produtiva e a manutenção de um patamar de produção ao nível pré-pandemia”, explica o presidente da entidade, Rodrigo Navarro.

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