Entre as 141 estatais federais, há empresas atuando nos mais diversos e insuspeitos ramos de atividade. A Ceitec, por exemplo, produz chips para identificação de animais e veículos. A Hemobras deveria estar produzindo medicamentos derivados do sangue humano, mas sua fábrica está atrasada. A ABGF atua no mercado de seguros e surgiu depois que a resseguradora IRB passou ao controle do setor privado – em outras palavras, o governo criou uma estatal para substituir uma ex-estatal.
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Muitas dessas empresas são escoadouros de recursos públicos; acumulam prejuízos desde a fundação. Outras colecionam escândalos. A Valec, criada na gestão de José Sarney, tem os dois predicados. Alguns setores foram contemplados com várias estatais: nada menos que quatro empresas federais atuam de alguma forma na área nuclear.
Conheça abaixo algumas dessas companhias. A maioria das empresas da lista foi criada nos governos Lula e Dilma – das 141 estatais em funcionamento, 40 foram fundadas nos 13 anos de governos petistas.
VALEC
A Valec - Engenharia, Construções e Ferrovias existe desde 1987. Passou longe de multiplicar a infraestrutura ferroviária do país, mas acumulou prejuízos – foram R$ 2,7 bilhões desde a fundação, dos quais R$ 1,6 bilhão só em 2015 – e escândalos. O primeiro, ainda em 1987, foi uma fraude na licitação da Norte-Sul. De 2003 a 2011, a estatal foi presidida por José Francisco das Neves, o Juquinha, afastado por irregularidades na mesma Norte-Sul e denunciado por corrupção, cartel, lavagem de dinheiro e fraude em licitações. Hoje a Valec emprega 1.034 pessoas.
HEMOBRÁS
A Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia foi criada em 2004 para abastecer o SUS e tem 204 funcionários, mas ainda não produz. Hoje recebe o plasma sanguíneo vindo de diversas partes do país e o exporta para a França, de onde volta na forma de medicamentos. A fábrica está atrasada, e agora espera-se que fique pronta em 2018, em Goiana (PE). Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), erros de projeto quase triplicaram o valor da obra, que saltou de R$ 540 milhões para R$ 1,4 bilhão. No fim de 2015, a “Operação Pulso”, da Polícia Federal, revelou esquema de fraudes em licitações e desvios de recursos públicos nas obras do complexo. Quando agentes cercaram o prédio do então presidente da Hemobrás, Romulo Maciel Filho, no Recife, maços de dinheiro foram arremessados das janelas do apartamento dele.
PQS
Complexo químico-têxtil instalado no litoral de Pernambuco, é formado por duas subsidiárias da Petrobras criadas em 2006: a Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe), que produz filamentos de poliéster, e a PetroquímicaSuape, fabricante de PTA, insumo para a produção de PET. Em 2015, essas empresas tiveram prejuízo de R$ 1,6 bilhão. Desde o início das operações, perderam R$ 7 bilhões. No ano passado, a direção da Citepe deu início a um plano de demissões voluntárias para cortar dois terços do quadro de 360 funcionários. Os problemas financeiros teriam sido causados pelo desaquecimento do mercado e por falta de aportes da Petrobras.
CEITEC
O Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada produz semicondutores em Porto Alegre. Criado em 2008, tem 222 funcionários e faturou R$ 4,3 milhões no ano passado, quando teve prejuízo de R$ 31,2 milhões. Seus principais produtos são o “chip do boi” e um chip de identificação veicular. Para ganhar escala, conta com o novo chip para passaportes e um acordo para fornecer chips de cartões ao Banco do Brasil.
ABGF
A Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias foi criada em 2012, quando o governo entendeu que o país precisava de uma estatal para suprir deficiências do mercado segurador depois que o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) passou ao controle privado. Tem 81 funcionários.
EPL
A Empresa de Planejamento e Logística surgiu em 2012 para tocar o trem-bala e elaborar projetos de logística, função muito parecida com a Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP), parceria do BNDES com bancos privados. Com 169 funcionários, a EPL surpreendentemente não participou da fase mais recente do Programa de Investimentos em Logística (PIL), de 2015.
NUCLEARES
O governo tem quatro empresas na área nuclear. A Eletronuclear opera as usinas de Angra dos Reis. A Indústrias Nucleares do Brasil (INB), com 1.475 empregados, enriquece urânio e fabrica pastilhas combustíveis. A Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), que emprega 1.086 pessoas, produz componentes pesados para usinas nucleares e construção naval. A Amazônia Azul Tecnologias de Defesa (Amazul), criada em 2013, desenvolve tecnologias para o Programa Nuclear Brasileiro e o setor nuclear da Marinha. Tem 1.660 funcionários.
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