Uma de cada dez buscas que uma pessoa de qualquer lugar do mundo faz no Google tem um pedaço do código desenvolvido pelo centro de engenharia da empresa em Belo Horizonte, que foi reinaugurado nesta segunda-feira (4) em um prédio maior.
O centro em Belo Horizonte foi fundado em 2005, depois da aquisição de uma pequena empresa criada por professores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a Akwan, que desenvolveu um buscador voltado para a web brasileira e chamou a atenção do Google.
“Perto da nossa abertura de capital em 2004, percebemos que nem todos os melhores cérebros do mundo moravam em Mountain View”, brinca Luiz André Barroso, um dos principais engenheiros brasileiros na sede da empresa e que foi, por algum tempo, o único engenheiro nascido no Brasil no Google. Ele foi um dos responsáveis por propor um centro de engenharia no país, mais especificamente em Belo Horizonte.
“Aqui tinha essa empresinha chamada Akwan e, de repente, ela tinha 25% do mercado de buscas no Brasil, rivalizando com o próprio Google”, conta.
Quase 11 anos depois, depois da compra da Akwan, o trabalho do Google cresceu na capital mineira e o novo espaço – com mesas de ping pong, videogames, estúdio de música, “quartos de soneca” e parede de escalada – foi criado para possibilitar a expansão da empresa. A meta é dobrar a equipe atual de 110 engenheiros, de sete países, que trabalham principalmente no coração da companhia: o sistema de buscas.
Todas as buscas feitas no Google em qualquer lugar do mundo são influenciadas por projetos lançados pelo centro brasileiro. Segundo Berthier Ribeiro-Neto, um dos fundadores da Akwan e hoje diretor de engenharia para a América Latina do Google, uma em cada dez buscas tem códigos escritos pelo time que trabalha na cidade.
Foram os engenheiros de BH, por exemplo, que desenvolveram boa parte da chamada “local search” (ou pesquisa local), que dá ao usuário detalhes de estabelecimentos próximos a ele, como o número de telefone, localização e horário de restaurantes e lojas. “Sempre que a informação de um mapa enriquece a busca, nós estamos por trás”, conta Bruno Pôssas, engenheiro que lidera a equipe de buscas.
Buscas
O sistema de pesquisa local procura auxiliar principalmente o usuário de smartphone (hoje, 50% das pesquisas no Google são feitas pelo celular), que faz buscas com uma linguagem mais coloquial. Até pouco tempo atrás, o sistema não conseguia responder buscas correlacionando o nome popular com o nome oficial de um local, como “estádio do São Paulo” e “Estádio Cícero Pompeu de Toledo” ou ainda “estádio do Morumbi”.
Em Belo Horizonte, também foi desenvolvido um trabalho para que o buscador entenda que dois termos diferentes (não necessariamente que nomeiam lugares) na verdade significam a mesma coisa. É o caso de molho béchamel e molho branco. Ou “receitas de molho béchamel” e “como fazer molho béchamel” – para os dois casos, o Google apresenta os mesmos resultados. Há alguns anos atrás isso não era possível.
“A sintaxe é diferente, mas o sistema já entende que a intenção é a mesma”, explica Camila Matsubara, engenheira de software da empresa.
E a intenção do usuário é o que o Google quer entender cada vez mais. Os engenheiros do centro repetem, quase como um bordão, que querem sempre “melhorar a busca”.
Em alguns casos, isso significa oferecer logo de cara informações básicas sobre um lugar, como o telefone ou o endereço. Em outros, fazer o sistema entender cada vez mais termos que se relacionam (como ao buscar “Belo Horizonte”, são dois termos que o sistema precisa compreender como uma unidade).
Trabalho e diversão
“Quando você faz uma consulta, o que você está pensando? Depende da busca, você pode responder. Se eu tivesse um telefone para ligar e perguntar o que você está pensando no momento da busca ajudaria muito”, brinca Berthier. “A questão é que o resultado é gerado com base na consulta, mas a consulta nem sempre é a intenção do usuário.”
É mais difícil do que parece. O universo de trabalho do Google são cerca de 60 trilhões de páginas (endereços únicos), que são coletadas por um robô para depois serem armazenadas em um índice de 100 milhões de Gbytes.
“Quando você faz uma busca, vamos nas caixinhas dos termos usando mais de 200 sinais – como a qualidade da página, a data de publicação e o contexto do usuário, como a localização – para responder em um oitavo de segundo”, explica Hugo Santana, engenheiro de software
Só no ano passado, foram geradas cerca de 300 melhorias para o algoritmo de busca. O centro de Belo Horizonte conta com a segunda melhoria mais positiva de um ranking global interno da empresa e outras três nas dez primeiras posições – o Google não revela quais são essas melhorias.
OK, Google
A grande aposta para o futuro de interação com os dispositivos móveis e mesmo com o computador é o assistente pessoal, que deve influenciar diretamente na busca.
“Se você pensar como as coisas são feitas hoje, tudo fica muito em cima do usuário. Para planejar uma viagem, por exemplo, é o usuário que tem que pesquisar voos, ônibus, hotéis, passeios e depois juntar e organizar esses dados”, diz Berthier.
“A pergunta que a gente faz é: como podemos ajudar o usuário? Não acho que vamos dizer ‘ok, google, onde eu devo passar férias’, mas a partir do momento que o usuário decidiu o que quer fazer, o assistente pode ajudá-lo.”
A Microsoft, por exemplo, já visualiza esse futuro para o Skype, que será capaz de organizar viagens junto com a Cortana, assistente pessoal da empresa, e o uso de bots.
Segundo Berthier, o centro deve trabalhar no assistente pessoal do Google e continuar desenvolvendo tecnologias de buscas, além de criar novos projetos, especialmente agora com a equipe dobrando de tamanho.
Saúde
Em Belo Horizonte, um grupo de cerca de 15 engenheiros vem se dedicando a desenvolver outro aspecto do buscador do Google, o Health Search (ou busca por saúde).
Ao digitar “febre zika”, por exemplo, o usuário se depara com um “painel de conhecimento” com as principais informações sobre a doença, como sintomas.
A ideia é organizar a informação de saúde e torná-la universalmente acessível e útil, em uma tentativa de fugir da experiência tradicional de buscas sobre doenças na internet, que passam a sensação de que tudo acabará em câncer ou morte iminente.
Para isso, a companhia montou um banco de dados usando aprendizado de máquinas. As informações encontradas foram revisadas por médicos e publicadas em parceria com hospitais – no caso do Brasil, o escolhido foi o Albert Einstein – excluindo informações de outros hospitais, ou que fogem da medicina tradicional.
Segundo Frederico Quintão, gerente do recurso, nada impede que apareça “acupuntura” na aba de tratamentos (por enquanto só disponível nos EUA), desde que seja um tratamento referendado por órgãos governamentais e hospitais usados como fontes.
Atualmente são mais de 400 doenças catalogadas, que representam 80% das doenças mais buscadas pelos internautas.
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