Embraer é líder no segmento de aviões regionais| Foto: ROSLAN RAHMAN/AFP

Um dia após o aval do governo federal, a nova empresa de aviação fruto da parceria entre Boeing e Embraer começa a decolar. O Conselho de Administração ratificou a aprovação dos termos da parceria nesta sexta-feira (11). A previsão é de que os acionistas se reunam em fevereiro e a companhia seja criada ainda este ano.

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Com o aval do Conselho, uma assembleia extraordinária de acionistas deve ocorrer em 30 dias, possivelmente no dia 10 de fevereiro. A aprovação depende do voto de metade mais um dos presentes, o que não deve ser problema.

A nova companhia irá herdar toda a operação de aviação comercial da Embraer, inclusive os funcionários. A previsão é de que quase a totalidade dos empregados que são dedicados exclusivamente a esta área sejam transferidos para a nova empresa.

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Parte dos trabalhadores do corporativo e de áreas que funcionam de forma transversal aos segmentos da companhia também deve ser transferida para a nova empresa.

A operação que hoje está no Brasil, boa parte disso em São José dos Campos (SP), permanece da mesma forma. Na nova empresa, a Embraer terá poder de veto em uma possível retirada da operação do Brasil.

Ao mesmo tempo em que a companhia sinaliza com a manutenção dos empregos, a cadeia de fornecedores da Embraer vê com bons olhos a parceria com a Boeing. Ao longo do último ano, empresas que fornecem para a Embraer já iniciaram um processo de adaptação a padrões internacionais, revela o coordenador do Brazilian Aerospacial Cluster, Marcelo Nunes. “A expectativa que nós temos dentro da cadeia é que realmente a demanda por peças e serviços, subsistemas, aumente a partir do momento em que isso se concretize”.

Última etapa

A aprovação na assembleia é dada como certa. Isto porque a empresa desatou o nó de um dos seus principais acionistas: o governo brasileiro, que detém uma ação especial (”golden share”) que lhe dá poder de vetar a transação.

O governo, que tinha até o dia 16 de janeiro para se manifestar, notificou a Embraer nesta quinta-feira (11) de que não irá utilizar a golden share. O presidente Jair Bolsonaro declarou que “ficou claro que a soberania e os interesses da nação estão preservados”.

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A última etapa consiste na aprovação por parte das autoridades regulatórias, como o Conselho Adminsitrativo de Defesa Econômica (Cade), mundo afora. Além de Brasil e Estados Unidos, autoridades da Europa, África do Sul, China, Canadá e de outros países devem ser consultadas.

No mundo da aviação, a avaliação é de que este processo não deve ser um empecilho, visto que estas mesmas autoridades foram consultadas recentemente sobre — e aprovaram — a parceria entre Airbus e Bombardier. Além disso, não há concentração de mercado, já que a Embraer deixa de operar no segmento da nova empresa (e a Boeing não atua neste nicho).

Mesmo assim, é um processo que deve se arrastar por meses. A expectativa da Embraer é de que esta etapa seja finalizada até o final deste ano (2019), e aí sim a nova empresa pode sair do papel. Deve então ser iniciado um processo de transição, que desincorpore a aviação comercial da Embraer para constituir a nova empresa.

A empresa nascente vem sendo referida como “NewCo” (inglês) ou “Nova Companhia” nos documentos das negociações. O nome é apenas para fins contratuais, no entanto, e não reflete uma identidade de marca.

O anúncio valorizou as ações da Embraer, que fecharam o pregão com alta de 2,6%.

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Como vai funcionar

A parceria entre Boeing e Embraer consiste na criação de uma nova empresa a partir do segmento de aviação comercial da Embraer, especializado em aviões de até 130 lugares, considerados jatos regionais, em geral para operações nacionais.

De acordo com a parceria proposta, a Boeing deterá 80% de participação na joint venture pelo valor de US$ 4,2 bilhões. A Embraer fica com 20% das ações, com direito a uma cadeira no conselho, e poder de veto em questões estratégicas, como a mudança de nome e logo da empresa e a retirada da produção do Brasil. O acordo também prevê que não será possível diminuir o capital da Embraer dentro da nova empresa.

Concluída a transação, a nova companhia será liderada por uma equipe de executivos sediada no Brasil, inclusive presidente e CEO. Ainda não é possível dizer se esta diretoria irá herder corpo executivo da Embraer. E Boeing terá controle operacional e de gestão da empresa, que responderá diretamente a Dennis Muilenburg, presidente e CEO da Boeing.

Ameaça Bombardier

Líder no segmento de jatos regionais, de até 130 lugares, a Embraer teve uma postura agressiva nos últimos anos. “Ganhou mercado da Bombardier [que é canadense] até nos Estados Unidos, mesmo com o apoio do Nafta”, avalia Marcos Abitbol, da consultoria Airways Internacional.

Mas a fabricante brasileira se viu ameaçada com a parceria entre Bombardier, sua principal concorrente, e a Airbus, que bate de frente com a Boeing. Sentindo que poderia sofrer uma perda de mercado bastante consiste, a brasileira procurou formas de se capitalizar, e encontrou um caminho na união com a fabricante americana, parceira sua de longas décadasm avalia Abitbol.

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Boeing e Embraer produzem projetos conjuntos há mais de três décadas, inclusive com a terceirização de partes da produção de uma para a outra, e com aeronaves que utilizam tecnologia mista, como no caso do ecoDemonstrador, que utiliza biocombustível.

Parceria militar

Além da nova empresa de aviação civil, o acordo inclui uma joint venture para promover e desenvolver novos mercados para o avião militar KC-390, da Embraer. De acordo com a parceria proposta, a Embraer deterá 51% de participação na joint venture e a Boeing, os 49% restantes.