Brasília – Mesmo projetando que a inflação vá continuar abaixo da meta do governo neste ano e no próximo, o Banco Central voltou a dar sinais de que poderá interromper a seqüência de cortes na taxa de juros, iniciada há dois anos. Em documento divulgado ontem, a autoridade monetária mais uma vez expressa preocupação com o ritmo de crescimento da economia, que, em sua visão, poderia colocar em risco a estabilidade dos preços.

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Essa análise consta no Relatório de Inflação, texto divulgado a cada três meses com projeções do BC para a economia brasileira. Um dos principais pontos do documento é a estimativa para a inflação, já que o comportamento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o principal parâmetro para as decisões do BC em relação à taxa de juros.

Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), neste mês, quando reduziu o ritmo de corte dos juros de 0,5 ponto para 0,25 ponto porcentual, o BC já havia mostrado preocupação com a demanda e a inflação e até chegou a considerar a hipótese de não reduzir a taxa.

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Num cenário em que o dólar encerre o ano em R$ 1,90, a alta do IPCA seria, nas contas do BC, de 3,9% – abaixo da meta de 4,5%, mas acima dos 3,5% estimados em junho.

De qualquer forma, o rumo da política monetária de agora em diante depende pouco do comportamento da inflação deste ano: como uma mudança nos juros pode levar até um ano para fazer efeito por completo na economia, o BC já se preocupa com o IPCA de 2008.

E ontem o BC cortou sua projeção de inflação para o ano que vem, de 4,6% para 4,3% – considerando que o dólar fique em R$ 1,94 e a taxa Selic, hoje em 11,25% ao ano, caia para 10,25% até dezembro de 2008.

Ou seja, levando em conta só os números, a inflação está sob controle e os juros podem continuar caindo. Mas o BC faz ressalvas, principalmente em relação à capacidade da indústria em acompanhar o ritmo de crescimento do consumo observado nos últimos meses.

A preocupação está na chamada "utilização da capacidade instalada’’. Esse indicador tem se aproximado de valores historicamente altos, indicando que a indústria está operando cada vez mais perto da capacidade máxima de produção. Se a procura por mercadorias supera a produção das empresas, esse desequilíbrio pode levar a mais inflação.

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Para o economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, o objetivo do discurso mais conservador do BC é evitar um maior pessimismo do setor privado em relação à estabilidade dos preços. Segundo Lintz, o BC quer evitar que uma alta temporária da inflação ocorrida nos últimos meses – puxada pelos reajustes dos alimentos – faça analistas e empresários elevarem suas estimativas para a inflação futura. Nesse caso, o risco seria que, influenciados pelas expectativas mais pessimistas, as empresas pudessem, de fato, reajustar seus preços.