O mercado de crédito consignado com desconto em folha de pagamento já sente os efeitos da crise econômica. O maior baque vem sendo sentido no empréstimo para aposentados, que estava em desaceleração desde o início do ano passado. O número de operações caiu 72,9% em novembro de 2008, segundo os dados mais recentes do Ministério da Previdência. No Paraná, a queda foi 58%, de R$ 12 milhões, em outubro, para R$ 5 milhões em novembro. Em alguns bancos, a procura por essa modalidade de financiamento caiu 35% em janeiro na comparação com o mesmo período de 2007.
A escassez do crédito, as incertezas em relação ao desempenho da economia e o aumento do desemprego são apontados como os principais fatores para a perda do ritmo desse mercado.
A previsão da Associação Brasileira de Bancos (ABBC) é que incluindo operações do setor público e privado essa modalidade cresça, no máximo, 10% em 2009, depois de avançar em média 30% nos últimos anos. O saldo de operações em novembro estava em R$ 78,2 bilhões, com uma alta acumulada de 22% em 12 meses, de acordo com dados do Banco Central.
Perda de fôlego
O mercado de consignado já vinha perdendo fôlego antes mesmo do agravamento da crise, mas a rápida desaceleração da economia, a partir de setembro, deu fôlego a esse movimento, segundo André Malucelli, diretor comercial do Paraná Banco. "O mercado, principalmente para aposentados, já está maduro e tende a crescer menos. Mas o avanço do desemprego com a redução da folha de pagamento das empresas , e a escassez do crédito, com aumento dos custos dos bancos, tiveram impacto no setor", diz. De acordo com ele, a percepção da crise também fez o cliente se retrair.
Com a crise e o aumento das despesas com captação de recursos, alguns bancos também ficaram mais seletivos na oferta de crédito principalmente em operações onde há teto para cobrança de juros, como no caso do funcionalismo público e dos aposentados. "Em alguns casos, quando o juro é inferior a 2% ao mês já começa haver desabastecimento de linhas", diz Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC). Segundo ele, a decisão do Ministério da Previdência de reduzir de 30% para 20% o comprometimento máximo do aposentado com empréstimo consignado, que entrou em vigor em janeiro de 2008, contribuiu para a queda nas operações.
Os bancos em geral começaram a impor novas regras, como a redução das comissões para os correspondentes bancários e limites para refinanciamento dos contratos. O BMG, por exemplo, só aceita refinanciar dívidas de quem já quitou 50% do contrato, informou uma funcionária que preferiu não ser identificada.
O funcionário público Esiquiel Brito Cardoso, 45 anos, notou que seu limite de empréstimo diminuiu. "Antes o meu empréstimo podia ser de até um pouco mais de R$ 7 mil, mas agora é só de R$ 6 mil. Os juros aumentaram também. Quando eu fiz o empréstimo era de 1,44% ao mês e agora que eu renegociei foi pra 1,85%", afirma ele, que compromete R$ 1 mil da renda mensal de R$ 2,8 mil com empréstimos.
Baixa renda
Considerada uma das modalidades de crédito mais baratas, o consignado viveu seu um boom no mercado nos últimos anos e atraiu principalmente a população de baixa renda, como a inspetora de escola Rosélia da Silva Moreira, 34 anos. Com um salário mensal de R$ 630, ela costuma usar o consignado para comprar produtos para a casa. "Fiz esse empréstimo para comprar uma geladeira à vista, porque os juros da financeira eram melhores que os juros da loja", afirma ela, que estava tentando quitar um financiamento de 12 parcelas de R$ 107.
Segundo Oliva, da ABBC, a mudança no cenário do consignado tem incentivado os bancos médios que tinham sua carteira concentrada em empréstimo com desconto em folha a diversificar, com a entrada no mercado de financiamento de veículos e lojistas, por exemplo.
Colaborou Fernanda Trisotto