O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu nesta quinta-feira (17), em entrevista à GloboNews, que o governo já está acompanhando com mais atenção as condições do crédito para a construção civil e acrescentou que, caso haja necessidade, mais recursos poderão ser liberados para o setor.
"A construção civil, nós estamos olhando. Se houver falta de recursos, nós estaremos, nas próximas semanas, injetando recursos da mesma maneira", disse ele. Informou que isso poderá ser feito por meio de "algum reforço" nas linhas de crédito dos bancos. "Para que eles possam repassar para o setor de construção civil", explicou.
Mantega disse ainda que o governo poderá destinar mais recursos à agricultura, caso seja necessário. Recentemente, aprovou mais R$ 5,5 bilhões. "Eu acredito que algo como US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões podem ser necessários. Mas não sei o valor exato. Vamos fazer aquilo que for preciso", acrescentou. Nesta quinta, o Conselho Monetário Nacional (CMN) baixou medida para que os empréstimos de dólares, a serem efetuados pelo Banco Central, sejam destinados ao finciamento do comércio exterior brasileiro - que, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), já se ressente da falta de crédito.
Poupança do fundo soberano
De acordo com Mantega, o governo pode optar, ainda, por gastar a poupança que vem acumulando para a formação do fundo soberano, algo como R$ 30 bilhões, caso isso seja necessário. "Se preciso for, no ano que vem nós poderemos vir a utilizar [os recursos do fundo soberano]. Mas espero que não. Espero que, no ano que vem, continuemos fazendo mais meio ponto percentual, acumulando R$ 30 bilhões. Se houver necessidade, poderemos utilizar. Eu espero que não haja a necessidade. Poupança fiscal significa que a economia está crescendo independente dessa injeção de recursos", disse o ministro. O governo já separou R$ 15 bilhões no orçamento deste ano para o fundo soberano, que ainda não foi aprovado pelo Congresso Nacional, e já informou que fará procedimento semelhante no orçamento de 2009 - retendo outros R$ 15 bilhões em gastos para a formação desta poupança pública. Mantega lembrou que essa poupança fiscal tem caráter anticíclico, ou seja, é para ser utilizada justamente em momentos de queda do crescimento econômico. "Essa poupança é anticíclica. Ou seja, se houver um ciclo de baixa da economia, você, que no ciclo de alta acumulou uma poupança, poderá usá-la. Então, teoricamente, nós poderemos injetar esses recursos na economia como investimento para não deixar cair o nível de atividade", explicou ele.
Brasil não deve ficar "ileso"
Segundo avaliação do ministro da Fazenda, o Brasil não deve sair "ileso" da crise, pelo fato dela ser a mais forte desde o "crash" da bolsa dos Estados Unidos em 1929, que culminou em recessão na economia norte-americana nos anos seguintes.
"Eu acho que não dá pra ficar ileso. Porque, de fato, ela é a mais forte que eu já vi desde 1929. Então, alguma consequência haverá. As consequências que nós estamos sentindo agora é a diminuição da liquidez e do crédito, mas nós podemos superar esses problemas", disse Mantega.Desaceleração econômicaO ministro admitiu, ainda, que o Brasil já se encontra em um processo de desaceleração gradual do crescimento. "Já estamos fazendo isso, porque a economia brasileira estava muito acelerada. Então, eu acredito que vamos continuar desacelerando gradualmente. Porém, é possível manter um certo nível de crescimento da economia brasileira, de modo a nos diferenciarmos dos países avançados", disse ele. Ele repetiu ainda a avaliação, feita em Washington (Estados Unidos), de que a economia deve crescer de 4% a 4,5% em 2009. A proposta do governo para o orçamento federal do próximo ano prevê um crescimento do PIB da ordem de 4,5%. Deste modo, se ficar no piso das estimativas do ministro, haverá uma revisão para baixo do crescimento oficial previsto pelo governo. O que poderá diminuir a arrecadação de impostos, e gerar ajustes nos gastos projetados, em 2009. "Eu ainda acredito que nós podemos, para o ano que vem, manter um crescimento entre 4% e 4,5%. É claro que vamos esperar para ver como as coisas vão se definir no circuito internacional. Eu acredito que deveremos chegar ao fundo do poço e que as coisas vão se acalmar. Não que a crise vá passar. Porque essa crise é de longa duração", afirmou Mantega.Emergentes contrabalançam quedaO ministro notou que a perspectiva internacional é de que haja uma desaceleração nas economias avançadas, mas que seria, de alguma forma, contrabalançada pelo crescimento dos países emergentes. "Então, de modo que a média internacional ficará razoável", concluiu Mantega. O ministro da Fazenda avaliou, porém, que a "fase aguda" da crise financeira deve ser superada. "[Essa fase] que falta crédito, [que] há desconfiança, banco quebrando, etc. Acho, porém, que vamos superar essa fase. Porém, a crise vai continuar. E, aí, nós poderemos refazer nossos planos e acredito que poderemos manter, por enquanto, as perspectivas de crescimento, um pouquinho mais modestas do que tínhamos antes", disse Mantega.Compulsório dos bancos O ministro Mantega avaliou ainda que o governo está repassando recursos para os bancos, por meio da alteração das regras dos depósitos compulsórios, de modo que os recursos sejam repassados para os seus clientes. Segundo sua visão, alguém teria repassado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a informação de que as instituições financeiras não estariam liberando os empréstimos, o que, em sua visão, não é correto. "Na verdade, os bancos estão sim liberando crédito para quem necessita. É que eles também têm uma certa restrição de crédito. Então, talvez eles não estejam liberando tudo aquilo que desejaríamos. Porém, não vejo necessidade de pensar nessa medida de aumento do compulsório neste momento", disse Mantega, referindo-se à declaração do presidente de que o governo poderia retomar os recursos dos compulsórios caso os bancos não emprestem às empresas.
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