A construção civil iniciou 2006 dando sinais de recuperação. O número de obras e trabalhadores está maior do que no mesmo período do ano passado, o crédito está mais farto e as vendas de materiaiscomeçaram a subir. A expectativa dos empresários é de que, após o avanço de apenas 1,3% registrado em 2005, o Produto Interno Bruto da construção civil possa aumentar até 5% este ano.
No varejo, o clima é animador, já que os preços dos materiais começam a recuar - um saco de cimento, que custava de R$ 18 a R$ 20 há um ano, hoje sai por R$ 12 a R$ 15. O Índice Nacional da Construção Civil, calculado pelo IBGE em convênio com a Caixa Econômica Federal(CEF), teve variação de 0,20% em março, recuando 0,11 ponto percentual frente a fevereiro (0,31%) e registrando o menor resultado desde setembro de 2005.
Além da desaceleração de preços, os grandes varejistas de materiais de construção do país estão ampliando os planos de financiamento para atrair mais clientes.Todos oferecem parcelamentos sem juros nos cartões de crédito. No Rio, a maior parte do varejo parcela em seis vezes sem juros. Em São Paulo, os planos são de dez vezes.
- A construção civil é reativa ao estado da economia.Em anos de expansão econômica, o setor tende areforçar a alta - disse ao GLOBO ONLINE o vice-presidente do Sindicato da Indústria da ConstruçãoCivil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), Eduar-do Zaidan.
- Hoje não falta dinheiro no mercado para financiar o consumo - completa Jorge Gonçalves, diretor geral daC&C, maior rede de "homecenters" do país, em en-trevista ao jornal "Valor", lembrando que a C&C decidiu lançar um plano de financiamento mais longo, de 15 prestações com taxas de 1,49% ao mês.
CEF e Nossa Caixa já estão concedendo crédito para financiar a reforma de imóveis em até 36 meses.
Segundo o diretor-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Melvyn Fox, a redução da alíquota do IPI (Impostosobre Produtos Industrializados) decretada em fe-vereiro para uma cesta de 28 insumos da área deconstrução já produziu efeitos positivos.
A primeira prévia do Índice Abramat, da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção, mostra que os fabricantes dos 26 itens beneficiados com a redução de IPI registraram um aumento das vendas de 5% em fevereiro sobre o mesmo período do ano passado. Esse foi o primeiro crescimento em dez meses.
- A redução de impostos foi acertada e vai estimular a comercialização de insumos - disse Fox, que estima para este ano um aumento de 5% a 7% nas vendas de materiais de construção.
Ele identifica três vetores para a expansão prevista para este ano: a construção de moradias populares, a compra de imóveis pela classe média e a ampliação eo reforma das habitações de classes baixas. Caso essa tendência seja confirmada, o mercado irá numa direção oposta à observada nos últimos anos, quando pre dominaram empreendimentos voltados ao consumidorde luxo.
De fato, a oferta de crédito imobiliário mostra uma explosão. O volume de operações no primeiro bimestre atingiu R$ 948,6 milhões, o que representa um cres-cimento de 84% sobre os dois primeiros meses de 2005, segundo a Associação Brasileira das Entidadesde Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
Com cerca de 4,5 milhões de trabalhadores e um peso de 60% nos investimentos feitos no país, o setor de construção não deverá se beneficiar apenas da maior oferta de crédito habitacional, que deverá chegar perto de R$ 19 bilhões, mas também do aumento de des-pesas públicas em obras de infra-estrutura.
- Geralmente, o orçamento público para obras ficapreso durante todo o ano e só é liberado quando o superávit primário é cumprido. Neste ano, achamos que há uma disposição maior em liberar recursos -afirma a economista Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria.
Outros fatores que ajudarão no crescimento serão a redução das taxas de juros e a recuperação da renda do trabalhador.
O coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, também aposta na retomada na construção "formiguinha", co-mo é conhecido o segmento de pequenos reparos e ampliações informais feitas geralmente pelas classes mais baixas. Um indício de aquecimento desse mer-cado é o comportamento dos preços do cimento, que estão cada vez mais próximos de encerrar um período de queda que já dura 19 meses.
- Os preços estão caindo de maneira cada vez maissuave e isso está ligado à recuperação da demandapelo produto - afirma Quadros, acrescentando que as sondagens da indústria realizadas pela FGV cons-tataram, por dois trimestres consecutivos, que o nú-mero de empresários satisfeitos com a demanda decimento é superior ao de insatisfeitos.
Uma outra sondagem, feita pela GV Consult emparceria com o SindusCon-SP, mostrou que, pelaprimeira vez desde fevereiro de 2002, os empresários estão otimistas em relação aos próximos meses. É verdade que a nota da avaliação - 50,2 pontos, numa escala de 0 a 100 - está apenas um pouco acima dos 50 pontos que indicam neutralidade.
- As construtoras estão mais otimistas do que no anopassado, mas não podemos dizer que estamos em céu de brigadeiro - ponderou Eduardo Zaidan.
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