As empresas de construção civil com ações listadas na Bovespa tiveram ontem um dia de euforia, motivado pela anúncio, feito na véspera, de que o governo federal deve injetar até R$ 4 bilhões no setor. Enquanto a bolsa teve queda de 1% ontem, as cinco empresas que compõem o índice Infomoney do ramo imobiliário e de construção subiram 7%, um movimento contrário ao do restante do ano. Se o mercado acionário respondeu bem à iniciativa da União, empresários e economistas dizem que só podem avaliar os impactos do pacote quando ele for detalhado, o que só deve ocorrer nos próximos dias.
Pelo esboço inicial do pacote, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve injetar dinheiro nas empresas de capital aberto, por meio da subscrição de debêntures, e a Caixa lançará uma linha de crédito especial voltada para capital de giro. O valor total do pacote pode ir de R$ 2,5 bilhões a R$ 4 bilhões. De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), há cerca de 100 mil construtoras no país, das quais 25 listadas em bolsa.
"O governo ainda está pensando em como fazer, e é aí que reside o problema. O anúncio gerou muita euforia, mas, quando formos ler as entrelinhas do pacote, pode ser que nem todos fiquem satisfeitos", avalia o vice-presidente de Relações Institucionais do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Paraná (Ibef-PR), Nelson Luiz de Paula Oliveira. Segundo ele, a tendência é que as medidas do governo sejam bastante generosas. "O fato é que esse é um setor gerador de muita mão-de-obra, e um dos trunfos do governo federal para manter alto o nível de emprego."
Para o presidente do Sinduscon no Paraná, Hamilton Franck, o pacote é mais importante por acalmar o mercado do que propriamente por resgatar as empresas. "A crise existe, mas o agravamento dela é mais fruto da histeria e de informações desencontradas", opina. "Este momento é passageiro, de acomodação do mercado. Certamente ocorrerão algumas fusões e aquisições. Mas, para o consumidor final, que continua tendo acesso aos financiamentos, não deve ocorrer nenhuma mudança."
O diretor do grupo LN, Luis Napoleão, também diz que as medidas federais são importantes para restabelecer a credibilidade de construtoras, principalmente aquelas com papéis negociados na bolsa, que vinham sofrendo constantes quedas. De acordo com o índice Infomoney, enquanto a Bovespa teve desvalorização de 39% no ano, as construtoras caíram 60%. "As empresas descapitalizadas são um bom investimento para outras mais sólidas, até mesmo para o próprio governo. Claro que algumas terão que rever planos de expansão e lançamentos, mas o setor não está em uma sinuca de bico", afirma.