São Paulo - Interessadas em aproveitar ao máximo o bom momento econômico, as construtoras têm apostado em novos processos para reduzir custo, acelerando o ciclo produtivo para ganhar escala sem perder em qualidade. O desenvolvimento de novas tecnologias nessa área ganhou força no segundo semestre do ano passado com a maior demanda gerada pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Com isso, algumas empresas já conseguiram reduzir seu ciclo de produção quase pela metade.
Com um déficit habitacional estimado em 5,5 milhões de moradias pelos cálculos do Sinduscon e da FGV e o respaldo do programa habitacional do governo, que na segunda etapa tem como meta a construção de mais 2 milhões de casas entre 2011 e 2014, as construtoras buscam soluções que sejam eficientes para reduzir prazos e necessidade de mão de obra.
Para o sócio-diretor da BKO Engenharia, Maurício Bianchi, a evolução da indústria começa pela gestão. "Estamos mais produtivos, reduzindo desperdícios e adotando critérios de desempenho. O Brasil deve se orgulhar, pois, mesmo sem investir na pesquisa e desenvolvimento, não perde para ninguém em termos de construção."
Bianchi observa que, na BKO, por exemplo, o tempo de construção de um metro quadrado, que em média demorava 42 horas quinze anos atrás, hoje chega a menos de 36 horas. Essa redução, além de representar um retorno mais rápido do investimento para as construtoras, significa menor dependência da mão de obra e ganho de produtividade.
Nova roupagem
Entre os processos construtivos que ganharam uma "roupagem diferente" do padrão e contribuem para acelerar o ciclo da obra, há paredes pré-moldadas, paredes de concreto moldadas no local, telhados tradicionais montados sobre estruturas metálicas leves e paredes secas tipo drywall. Os especialistas também chamam a atenção para os aditivos desenvolvidos ao longo das últimas três décadas, que não apenas melhoraram a aplicação do concreto, mas trouxeram um conforto enorme para o usuário final, com melhores características térmicas e acústicas.
O departamento de inovação tecnológica da Direcional Engenharia trabalhou com o fornecedor por 18 meses para montar uma forma de alumínio com características específicas. Em um projeto de casas populares tradicional, construído a partir do método de alvenaria estrutural, o prazo médio de execução da Direcional para 500 unidades é de 14 meses. Com o processo de forma de alumínio e parede de concreto, o prazo de execução cai para três meses. "Estudamos os produtos de alguns fornecedores internacionais, em particular dos Estados Unidos e Colômbia, mas pela qualidade do fornecedor nacional e pela facilidade de aquisição, fechamos parceira com uma indústria carioca", informa Daniel Amaral, diretor financeiro da Direcional.
A Rodobens Negócios Imobiliários, que opera no segmento econômico no interior, conseguiu reduzir de 12 meses para 7 meses o ciclo de construção de habitações de 40 e 50 metros quadrados sem aumentar o custo de unidade. O grupo ainda espera reduzir para 5 meses esse ciclo até o final do ano. Ao mesmo tempo, a empresa manteve o custo de administração de obras por empreendimento entre R$ 70 mil e R$ 100 mil por mês. Para o presidente da companhia, Eduardo Gorayeb, a evolução do sistema construtivo é um dos caminhos possíveis para driblar a alta nos insumos.
Menos operários
A industrialização do processo construtivo, segundo Amaral, representa ainda uma das opções para se enfrentar o "apagão de mão de obra". "Com o processo de formas de alumínio e paredes de concreto, temos uma redução de 40% a 45% no número total de operários no canteiro". Mais importante que a redução absoluta, ressalta o executivo, é a menor dependência de profissionais especializados. No processo tradicional, a relação de serventes (assistentes) para profissionais especializados (eletricistas, pintor, encarregado, mestre) é de aproximadamente 1-1. Com o processo de forma de alumínio, essa relação fica de 1-6, sendo quatro profissionais especializados e 24 montadores serventes que receberam treinamento.